Um grupo de enfermeiras e técnicas da maternidade Dona Íris denunciam atraso no pagamento de salários e benefícios, além das más condições de trabalho. As profissionais afirmam que estão sem receber o salário desde dezembro, não houve pagamento do 13° e benefícios como vale-alimentação também não caíram. Além disso, refeições para colaboradores e acompanhantes foram cortadas na última quinta-feira, 16. Até o momento, não existe cronograma de pagamento por parte da Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc), instituição que gere a unidade, nem pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). 

Em entrevista ao Jornal Opção, a presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Goiás (Sieg), Roberta Rios, conta que os técnicos de enfermagem já estão em greve desde a segunda-feira, 13, e que nesta sexta-feira, 17, os enfermeiros decidem em assembleia se vão se juntar ao movimento ou não. O encontro está marcado para às 09h, mas Rios já adianta: “ com toda certeza vai ser deliberado greve”. 

Em nota, a SMS afirma que um repasse de R$ 10 milhões será feito à Fundahc até a segunda-feira, 20. 

“A pasta trabalha em conjunto com a Fundação para o restabelecimento integral dos serviços nas maternidades, definição de cronograma de pagamento das dívidas deixadas pela gestão anterior e efetivação do reequilíbrio financeiro dos contratos firmados com a organização”, resumem.

A presidente do sindicato compartilha que, em reunião com o secretário de saúde Luiz Gaspar Pellizzer, foi dito que o recurso vindo do Governo Federal para pagamentos ligados à rede de média e alta complexidade (correspondente às maternidades) foi feito na segunda-feira, 13, e que, na sequência, a verba seria encaminhada à Fundahc. Entretanto, conforme compartilha Rios, a Fundação disse não ter recebido o repasse até a quinta-feira, 16. “Até agora, nós não tivemos uma resposta concreta de previsão de pagamento”, lamentou. 

Caso a greve seja de fato aprovada, os enfermeiros se juntam aos técnicos na paralisação já na próxima segunda-feira, 20. “É o prazo da gente fazer os comunicados”, coloca Rios. Vale ressaltar que o compromisso legal em manter 30% do efetivo ativo para atender casos de urgência e emergência será mantido.    

Ao Jornal Opção, uma das colaboradoras da unidade desabafa: “Minhas economias já estão acabando, já atrasou fatura minha, fiz um empréstimo agora e mês que vem não sei como vou pagar”. A enfermeira afirma que a parcela do 13° não foi paga, da mesma forma que o salário de dezembro e o vale-alimentação. 

Apesar de compreender o peso da inadimplência da Prefeitura de Goiânia nos repasses, a servidora é categórica ao afirmar: “Nós colaboradores não temos nada haver com contrato de Fundahc com a Prefeitura. Não somos contratados da Prefeitura, somos contratados da Fundahc”. Para ela, a falta de diálogo entre a gestora e a equipe de enfermagem é frustrante e a fundação deveria sim criar mecanismos para garantir o pagamento devido de seus contratados. “Uma falta de respeito! Isso é desanimador”, lamenta. 

A presidente do Sieg coloca o cenário de atrasos como “crônico” e coloca que “já tem mais de um ano que tem havido atrasos salariais. A gente tem sempre tomado providências, recorrido à secretaria, à Fundahc, mas é algo que já se tornou crônico”. A sindicalista reforça que a categoria entende o peso que a dívida milionária tem na gestão, entretanto, Rios é categórica ao afirmar: “o trabalhador não pode ser culpado pela falta de gestão, pela dívida”. 

Enquanto isso, uma outra enfermeira compartilha: “estamos sem condições de ir trabalhar”. Os atrasos nos pagamentos se traduzem em impactos diretos no cotidiano das trabalhadoras. Aluguel em atraso gerando risco de despejo, veículos sem combustível impossibilitam a ida ao trabalho, e até impactos na medicação e alimentação dos servidores já foi percebida. “A gente já está vendo muitos colegas passando necessidade”, lamenta.  

Leia abaixo nota da Fundahc sobre a paralisação.

Fiscalização 

Na última quinta-feira, 16, a vereadora Aava Santiago (PSDB) compareceu à maternidade Dona Íris, uma das unidades geridas pela Fundahc, e denunciou os reflexos da dívida milionária da Prefeitura de Goiânia com a fundação na unidade. 

“A maternidade, referência para tantas mães e bebês no estado, está à beira de suspender seus atendimentos mais uma vez”, lamenta a parlamentar. Para além dos atrasos no pagamento dos direitos trabalhistas, a estrutura e os insumos da unidade estão aquém do necessário. “Leitos estão bloqueados por falta de manutenção, equipamentos essenciais estão quebrados, insumos básicos para o centro cirúrgico estão em falta, e os poucos leitos ativos estão lotados, restringindo internações de mães e recém-nascidos apenas aos casos mais gravíssimos”, compartilhou.

Por fim, a vereadora faz apelo à Prefeitura para que os repasses à maternidade sejam normalizados o mais rápido possível, a fim de garantir dignidade aos trabalhadores e às pacientes. “Faço um apelo ao prefeito Sandro Mabel que tem se esforçado para buscar soluções: cumpra o seu dever, honre seus compromissos com a saúde pública e faça os repasses necessários. Não há desculpa ou crise financeira que justifique esse desrespeito”, finalizou.

Veja abaixo a nota completa da Fundahc sobre a paralisação:

Acerca da paralisação de enfermeiros e técnicos de enfermagem, a Fundahc/UFG informa o que segue:

  • É direito dos trabalhadores celetistas e estatutários aderir a movimentos grevistas, desde que respeitem a legislação vigente. Conforme estabelecido pela Lei nº 7.783/1989, é obrigatório manter um percentual mínimo de 30% dos profissionais de enfermagem em atividade, assegurando assim a continuidade dos serviços essenciais à população.
  • Os respectivos sindicatos informaram sobre a decisão de paralisação e, até o momento, os profissionais cumprem o definido em lei.
  • Dos 1.530 colaboradores da fundação, 733 são enfermeiros ou técnicos de enfermagem. Há, ainda, 76 profissionais que são servidores da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS). A classe desempenha um papel fundamental e indispensável nas rotinas de assistência aos pacientes.
  • A Fundahc/UFG é uma fundação sem fins lucrativos gestora das maternidades de Goiânia. Todos os recursos para sua manutenção são provenientes da Prefeitura da capital por meio da SMS. 
  • A Fundahc/UFG aguarda repasse de recursos para pagamento da folha salarial de dezembro, 2ª parcela do 13° salário, férias e vale-alimentação dos colaboradores até a presente data.
  • A fundação se solidariza com os profissionais e agradece seu trabalho e sua dedicação à saúde dos pacientes.

Assessoria de Imprensa Fundahc/UFG
16/1/2025