Secretário de Audiovisual do MinC dá um “sacode” em produtores goianos e alerta para maior qualificação
29 maio 2014 às 01h38
COMPARTILHAR
Fala de Mário Borgneth durante debate sobre políticas públicas foi encarada como uma cutucada positiva por alguns realizadores de Goiás
*Enviado a cidade de Goiás
O secretário Nacional de Audiovisual do Ministério da Cultura (MinC), Mário Borgneth, alertou para que os realizadores goianos se antecipem e saiam do comodismo para que conquistem mais espaço no mercado de produção nacional. Além disso, orientou que cineastas parem de brigas e picuinhas entre si. “A gente fica olhando muito para dentro de nós mesmos”, avaliou. A fala veio na manhã de quarta-feira (28/5) em debate com produtores independentes durante o fórum sobre Política para o Audiovisual, no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) da cidade de Goiás.
[relacionadas artigos=”5407,5374″]
Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção Online, ele explicou que fez referência ao momento que o audiovisual brasileiro está passando atualmente, que é auspicioso. O setor, de acordo com o secretário, vive uma curva positiva que tem assegurado a participação crescente do produto no mercado de exibição cinematográfico e nas grades da programação das TV’s por assinatura. “Isso tem se traduzido em choque de demanda muito grande. Estamos produzindo mais e temos mais recursos de produção disponíveis, com maior escoamento de material”, afirmou, emendando que isso só trará resultado se os polos regionais forem envolvidos.
Com isso, Mário pontuou que cabe à produção goiana estar sintonizada com os diferentes programas, ao passo que deve haver busca por espaço e qualificação, a fim de se ter maior protagonismo dos materiais locais. O processo evolve mudança de mentalidade por parte dos realizadores, juntamente com a articulação entre governos municipais, estaduais e os canais televisivos públicos e privados. Tais atores têm de estar sintonizados com o mercado brasileiro de modo geral, desde que haja iniciativa de quem é o principal interessado no processo: a cena independente.
Diante do diagnóstico, Carlos Cipriano, presidente do Conselho Estadual de Cultura e moderador da conversa analisou que a concorrência local gerou “querelas de entidades” e limitou o foco de atuação dos produtores. Na visão dele, o mundo se fechou para a disputa em editais e festivais goianos, causando a dissidência da categoria. “Isso é uma grande perda. Ou muda agora e tenta aproveitar e criar conexões ou vamos ficar no nosso quintal”, criticou.
Para Mário, a produção independente de Goiás não pode ser “divorciada” da televisão pública, pois o espaço vago na programação da TV Brasil Central (TBC), por exemplo, poderia ser preenchido com produções daqui. Assim, todos saem ganhando, inclusive a sociedade, que passa a ter conteúdo aprimorado. No fórum, o secretário apontou que, mantidas as proporções políticas, o governo federal pode ser um parceiro para que a proposta seja estabelecida. No entanto, ressaltou aos participantes que é preciso maturidade e organização dos projetos que pretendem concorrer aos editais antes de cobrar atitude dos governos. “Estou falando da TV pública porque é o nosso DNA natural, mas tem os canais privados também”, pontuou.
Pós-doutora em Cinema pela Universidade do Quebec em Montreal, no Canadá, a cineasta e professora da Faculdade de Artes Visuais (FAV) da Universidade Federal de Goiás (UFG) Rosa Berardo recebeu as considerações do secretário nacional como fundamentais. Citando que às vezes é preciso que alguém de fora abra os olhos de quem está no meio, ela destacou à reportagem como ponto principal o trabalho em conjunto, em vez de rixas. “É importante não olhar só para o próprio umbigo”, falou, dizendo que os realizadores goianos não se ajudam e falam mal entre si.
Rosa complementou ser importante tornar-se competitivo para conseguir recursos da União por meio dos cursos de qualificação que serão ministrados pelo ministério. Ela acredita que é possível fazer um trabalho coletivo, abrindo novos horizontes, e reconhecendo cada um as suas dificuldades. A partir disso, comentou a professora, pode-se haver parceria para que os problemas sejam superados em conjunto.
Investimentos
Para atender a demanda do mercado local para o âmbito nacional, Mário indica que o MinC pretende implantar a política de regionalização dos recursos. A iniciativa é baseada em dois fatores. Um deles é descentralização dos investimentos, com os cerca de R$ 60 milhões disponíveis para editais de fomento local. Contudo, só isso não basta: é preciso investimento na produção de conteúdo e na capacitação.
O cronograma para a execução dessas aplicações em 2014 é um desafio, já que se tem a aproximação da Copa do Mundo e as eleições –– é importante lembrar que a Justiça Eleitoral não estabelece prazos limites para lançamentos de editais, mas a realização do pleito pode complicar o andamento do calendário, fazendo com que os montantes sejam liberados como restos a pagar, no ano que vem.
Na oportunidade, o secretário aproveitou para adiantar novos lançamentos de novos editais públicos regionais para animação, documentários e obras de ficção no próximo semestre, estimados em cerca de R$ 70 milhões. A iniciativa é da Secretaria do Audiovisual, da Agência Nacional do Cinema (Ancine) e da TV Brasil. Entre os quais, o que pretende discutir o papel do audiovisual na construção da percepção da cidadania e do espaço público, previsto para estar disponível em 12 capitais inicialmente, e que está em fase de formulação e vai contar com o apoio das universidades federais de cada Estado.