Já pensou em contratar um robô-advogado? O que antes só seria possível em um filme de ficção científica vai se tornar realidade já no mês de fevereiro, nos Estados Unidos. A substituição de um defensor humano por uma máquina vai ser testada em um julgamento de trânsito em um tribunal dos Estados Unidos. O local, o nome do réu e a data exata do julgamento estão sendo mantidos em sigilo pela empresa de tecnologia que criou o protótipo.

Na prática, não vai ter uma máquina diante do juiz e do réu. A inteligência artificial vai ficar conectada via telefone celular. O robô ouvirá a leitura da peça acusatória durante a audiência e, no momento oportuno, instruirá o réu sobre o que dizer por meio de um fone de ouvido e apresentará os argumentos que ele deve usar em sua defesa.

Se der certo, a máquina de inteligência artificial vai duelar com a acusação apresentando todos os argumentos jurídicos disponíveis, bem como as principais decisões jurisprudenciais em casos semelhantes para convencer o juiz a decidir favoravelmente ao cliente do robô.

Agora, se a ideia vingar, a discussão ética em torno do assunto deve ficar acalorada no meio jurídico no mundo todo. Um robô seria capaz de roubar o emprego de um advogado? A inteligência artificial tornaria o trabalho de promotores de justiça que oferecem a denúncia e fazem a acusação impossível?

Para o conselheiro da OAB e especialista em Direito Digital, Cícero Goulart, a tecnologia é bem vinda quando oferece ferramentas para ajudar as partes envolvidas. Mas, para ele, deixa de ser a partir do momento em que um robô vai se tornar protagonista de uma resolução judicial que pode resolver liberdade ou o patrimônio de alguém. “Essa é uma situação muito preocupante porque nada vai substituir a intuição dos advogados”, afirmou.

Cícero lembra que, geralmente, esses robôs atuam na análise de dados e tentam oferecer uma resposta, achar uma solução dentro da problemática apresentada. Falta, portanto, o raciocínio aliado à sensibilidade humana. E quem concorda com isso é a advogada especialista em Direito Digital, Camilla Pinheiro, que ainda pontua que “nem sempre é possível ter clareza de quais foram os caminhos utilizados por um sistema de inteligência artificial pra chegar a determinada decisão”.

E Camilla ressalta que o uso da inteligência artificial no meio jurídico não é uma coisa 100% nova. “Já existem robôs que conseguem analisar contratos com mais precisão, com uma margem de erro muito menor”, destacou a advogada, que acredita que os advogados vão ter que ter as máquinas como aliadas e saber usar a tecnologia para exercer a profissão no futuro. “Mas a máquina não é completa, não tem contexto, não percebe as situações como seres humanos percebem”, conclui.