Retorno das aulas presenciais em agosto divide opiniões entre pais e professores da rede municipal
27 junho 2021 às 14h55
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Aulas presenciais foram suspensas desde o dia 16 de março do ano passado. Secretarias de educação buscam construir planejamento para que retorno seja viável e minimamente seguro no segundo semestre de 2021
Em Goiás, as aulas presenciais nas escolas tem previsão de retorno já em agosto deste ano. Em Goiânia e Aparecida a realidade não é diferente, porém, tudo depende da vacinação dos professores e demais profissionais na área de ensino. Suspensas desde o dia 16 de março do ano passado, o retorno para as salas de aula ainda é cercado de dúvidas e incertezas tanto por parte dos pais quanto dos professores das redes municipais.
Goiânia tem hoje 108 mil alunos. O balanço da prefeitura da última sexta-feira, 25, mostra que 28.497 trabalhadores da educação foram imunizados com a primeira dose da vacina contra a Covid-19 e com a segunda dose apenas 30. Segundo a Secretaria Municipal de Educação de Goiânia (SME), neste momento o trabalho está na elaboração do Plano de Retomada das aulas presenciais.
A pasta explica que o documento, em fase de construção, prevê revezamento de turmas e rígidos protocolos de segurança. “A SME informa que a volta às aulas presenciais depende da avaliação do quadro epidemiológico e recomendações das autoridades sanitárias responsáveis. A pasta aponta que o retorno deve ocorrer após a aplicação da segunda dose da vacina contra a covid-19 em profissionais da área”, diz a pasta.
Em relação aos protocolos, de acordo com a SME, até o momento, a gestão municipal liberou R$ 1.995.062,45 para as instituições de ensino para a aquisição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Dentre os EPIs que estão sendo adquiridos, estão calçados, óculos de proteção, luvas de látex térmica e descartáveis, máscaras descartáveis (PFF-1), aventais de PVC, toucas, tapetes sanitizantes, termômetros digitais e viseiras. “A pasta segue implantando protocolos de biossegurança nas unidades de ensino, como itens para higienização das mãos, e realiza marcações nos pisos e nas carteiras para o distanciamento seguro entre os alunos”, diz.
Retorno com data marcada
Em Aparecida de Goiânia, as aulas presenciais já tem data para começar, dia 9 de agosto. A data é do retorno dos estudantes para os Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI) e outras unidades de ensino. Os professores e demais servidores devem retornar às atividades já no dia 2 de agosto, com preparativos pedagógicos até o dia 6. Cada unidade poderá atender até 30% da capacidade total da escola.
A Secretaria Municipal de Educação de Aparecida, disse que os gestores já vêm se preparando para o retorno e algumas das unidades estão passando por obras de reforma e manutenção, recebendo adequações como a abertura e ampliação de medidas das janelas, o que melhora a circulação de ar nos ambientes. “Todo o retorno está sendo estudado pela SME juntamente com o Comitê de Enfrentamento a Covid19 de Aparecida de Goiânia, as decisões sobre quantidade e protocolos estão sendo realizadas de forma conjunta pelos órgãos em questão. Acreditamos que até em Agosto, a grande maioria dos nossos profissionais já estarão imunizados com a segunda dose da vacina”, diz a pasta.
De acordo com a SME, desde o ano passado, foi criada uma Comissão para Preparação do Retorno das Aulas Presenciais. Além disso, existe um Plano de Contingência onde há orientações quanto à higienização e também quanto ao uso de todos os espaços da escola, além de determinar quais devem ser os procedimentos durante os turnos de aulas, a fim de que seja evitado o contato físico entre as pessoas.
Para o retorno das aulas presenciais, a Secretaria Municipal de Educação de Aparecida afirma que irá fornecer todos os insumos necessários, como álcool em gel e líquido, borrifador, totens, termômetros e dispenser em quantidade necessária, a fim de que a unidade de ensino possa distribuir em todos os espaços de acesso de alunos e servidores. O processo licitatório de aquisição de todo esse material já está em andamento, com previsão de finalizar ainda na primeira quinzena do mês de Julho e com condições para que os insumos sejam distribuídos na semana que antecede o início das aulas.
O que pensam os professores
Em Goiânia e Aparecida os professores tem opiniões divididas sobre o retorno as aulas presenciais em agosto deste ano. A professora que atua em um CMEI na região Noroeste da capital, Thais Rodrigues conta que a retomada presencial é muito importante, porém, vê algumas particularidades que ainda precisam ser discutidas com os educadores.
“Avalio o retorno como extremamente necessário para as crianças, porque elas já estão há mais de 15 meses fora da escola. Os prejuízos disso vão ser incontáveis e vamos demorar alguns anos para recuperar, em especial, eu penso nas crianças em fase de alfabetização. As crianças que fizeram 1ª ano em 2019, 2020 e 2021, porque o processo de alfabetização começa no 1º ano e ele começou em 2019, mas tem crianças que não foi porque veio a pandemia”, afirma.
“As crianças da prefeitura ficaram alguns meses sem conteúdo, a prefeitura demorou para se organizar. Para essas crianças o prejuízo é incontável. Avalio o retorno como necessário, porém, tem algumas coisas, como os protocolos que ainda não foram oficialmente socializados conosco que somos professores. Essa não é uma gestão que dialoga muito com os professores”, salienta a professora.
Para a professora Thais, os protocolos desse retorno não são científicos, o que gera insegurança. “Deveríamos receber máscaras do tipo pff2 e isso não foi dito e não foi falado em nenhuma reunião que tivemos até agora e isso é uma coisa que me preocupa muito, porque as crianças da rede municipal são crianças de famílias pobres e elas não tem condições de comprar máscara. Não acredito nessa segurança, porque os protocolos são confusos”, completa.
O também professor da rede municipal de Goiânia, Michel Franco acredita que ainda não seja o momento do retorno presencial. “Avalio como precoce e inseguro ainda. Temos um número baixíssimo de vacinados no Brasil e, aqui em Goiás, não é diferente. Apesar de no final de agosto até meados de setembro os funcionários das escolas estarem vacinados, infelizmente não teremos a mesma situação para com os alunos e suas respectivas famílias e demais grupos sociais, o que poderá corroborar com uma grande circulação do coronavírus”, pontua.
“Crianças e adolescentes, sobretudo, são indisciplinadas em sua maioria. Essa questão do “distanciamento” será difícil de manter, a questão da higiene também. Sem falar que não existe até então um planejamento para que os alunos estejam de fato com máscaras nas instituições escolares, muito menos ainda máscaras N95 ou pff2, que têm mais eficácia”, completa o professor ao citar os protocolos de segurança sanitária.
Isaías de Sousa, que é diretor de um EMEI em Aparecida, que atende ao ensino Fundamental 1° fase, enfatiza que com as duas doses da vacina é mais viável o retorno. “É difícil fazer uma avaliação nesse período da pandemia que oscila em todo o tempo o número de contágios. Mas em uma perspectiva de possível retorno tendo já tomado as duas doses da vacina e dentro dos protocolos sanitário de segurança podemos visualizar um retorno das aulas presenciais mais viável. Levando em conta a porcentagem de alunos por sala, o distanciamento (em metragem) no espaço escolar (tanto interno quanto externo)”, disse.
Em relação aos protocolos, ele destaca que não a segurança até que haja um controle da pandemia. “Onde tenha pelos menos 70% da população vacinada. Mesmo com os protocolos sanitários sendo cumpridos ainda estaremos vulneráveis. Nada substitui a aula presencial, a presença do Professor é Fundamental. As aulas presenciais são insubstituíveis, pois o afeto é fundamental à aprendizagem”, afirma Isaías.
O que pensam os pais
Para os pais o retorno é importante para o desenvolvimento e socialização dos filhos. Ao Jornal Opção, a maioria diz acreditar que os filhos estarão protegidos se seguirem os protocolos sanitários.
A gestora de Departamento Pessoal e mãe do Isaac Miguel, de 3 anos, Ângela Maria Ferreira Monteiro , diz que é de grande valia a volta as salas de aula. “Eu considero de suma importância, tanto para as crianças quanto para os pais. Muitas mães que cuidam sozinhas, eu por exemplo. Muitas mães ficaram desempregadas e as vezes não tem condições de pagar babá, e o CMEI é importante para a criança nesse alívio financeiro e para o desenvolvimento da criança tanto no cognitivo, a questão da afetividade. Com certeza estará seguro. Já tem mais de um ano que estamos na pandemia e com certeza esses protocolos de segurança já estão sendo muito bem analisados e acredito que ele estará seguro sim”, salienta.
A assistente de Departamento Pessoal e mãe da pequena Beatriz, de 3 anos, Larissa Camilo de Oliveira, concorda positivamente com o retorno presencial em agosto. “Particularmente eu acho bom o retorno das aulas, mas todos os funcionários vacinados com a segunda dose da vacina e com segurança. Não só para as crianças mas principalmente pelos adultos que estarão envolvidos ali”, diz.
Sobre estar seguros em relação aos os protocolos Larissa se mostra dividida. ” Sim e não. Sim, porque é uma forma de “freiar” a contaminação. Não, porque as crianças por mais que sejam assintomáticos, ou, nem adquirem o vírus, é um risco se contaminarem e ficarem tão ruins quantos os adultos. Eu creio que, enquanto existir a pandemia ninguém estará seguro”, pontua.
Em Aparecida, os pais acreditam que o retorno será positivo. Sangy Cardoso dos Santos, mãe de dois filhos, André Mattos, de 10 anos, que está no 5º ano e Benjamin Mattos que é especial, de 6 anos, e está no 1º ano. Segundo ela, “mesmo com escalas, acredito que o retorno seja de extrema importância. Muitos conteúdos estão ficando comprometidos, sem falar na falta de socialização”.
“Se seguirem os protocolos a risca, há grandes chances de funcionar. Apenas devemos lembrar que são crianças e irão de toda forma querer estar junto do colega. Será necessário um trabalho intenso de conscientização com elas. Quanto as crianças especiais, acho melhor continuar os estudos a distância”, salienta Sangy.
O professor, Iporê José dos Santos Filho, pai do Davi dos Santos Silva, de 4 anos e da Sophia dos Santos Silva, de 1 ano acredita que é necessário o retorno presencial. “Eu vejo é de suma importância pelo fato de já ter um ano e meio dos alunos estarem afastados das aulas presenciais. É necessário aquele convívio com o ambiente escolar que incentiva a educação e também a forma de trabalho da professora sendo presencial a aprendizagem do aluno é melhor”.
“Os meus filhos tem que ter a consciência que nem dentro de casa a gente está seguro, então, todas as medidas de segurança são necessárias tanto no ambiente escolar quanto em casa. Se for seguidas as regras, aquelas medidas que estão sendo colocadas para a volta das aulas eu creio que possa ter o mínimo possível de probabilidade de haver um contágio”, avalia.