Representatividade: mulheres que atuam em profissões consideradas ‘masculinas’ relatam desafios

26 maio 2023 às 22h35


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No Brasil, mesmo com o nível de escolaridade maior, mulheres ainda recebem salário menor do que os homens para executar a mesma função. Além disso, as condições de trabalho e a hierarquia ainda desfavorecem as mulheres em relação aos colegas do sexo masculino.
Apesar de ocuparem a maior parte das vagas universitárias no país, as mulheres ainda não têm acesso às melhores oportunidades de trabalho e renda.
Representatividade
O Jornal Opção realizou um levantamento em Goiás sobre a presença de mulheres em profissões consideras ‘masculinas’. Segundo dados, o efetivo total do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás é de 2.474. Desse número, 2.213 são homens e apenas 261 mulheres, o que corresponde a 89,45% e 10,55%, respectivamente.
A realidade da Polícia Militar de Goiás é semelhante. A corporação tem apenas 10% do número total de militares. Nesse caso o número total de PMs não foi divulgado.
‘Lugar de mulher’
Barbeira, esse é o adjetivo mais ouvido pela motorista de ônibus Maria, de 45 anos, – nome que vamos chamar a fonte que não quis se identificar – que está na profissão há 15 anos. “A garagem onde ficam os veículos não tinha nem banheiro para mulher”, recorda.
Agora, a motorista relata que a relação com os colegas do sexo masculino é respeitosa e as condições de trabalho mudaram em relação a 15 anos. “Ganhamos o mesmo tanto e temos o mesmo tratamento na empresa, ou até melhor”.
Em 1979, Eunice Michiles foi a primeira mulher a assumir uma vaga no Senado no período republicano e pelo processo eleitoral. Antes dela, a única mulher a ocupar vaga no Senado foi a Princesa Isabel – 1846 1921 – que possuía a vaga por direito dinástico durante o Império.
Em 2010, em uma entrevista a BBC ela conta: “não tinha nem banheiro feminino”. Mesmo em realidades distintas, Michiles e Maria enfrentaram a mesma problemática com a falta do essencial, o banheiro.
Do partido Arena, Michiles se sentia “bem tratada” no parlamento, porque era considerada uma dama e não uma colega. Inclusive na posse ela foi recebida com flores e poema.


Narrativa
Do ponto de vista sociológico essa discrepância é retrato da “sociedade patriarcal”. Independente da vontade do indivíduo o corpo social já garante ao homem uma situação de privilegio em relação a mulher na estrutura social, é o que explica o professor de sociologia, João Gabriel da Fonseca.
“Quando se fala dessas diferenças salariais sociologicamente é uma questão estrutural, isso não é uma questão passageira de contexto histórico, claro que pode agravar em um ou outro momento, mas é uma dinâmica própria do capitalismo. Isso está na essência da sociedade de mercado e é a base estrutural de uma sociedade que não se transforma meramente com ações governamentais”.
Professor de sociologia, João Gabriel da Fonseca

