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O Partido dos Trabalhadores (PT) realiza neste domingo, 6, a primeira eleição interna desde a Operação Lava Jato. Com quase três milhões de pessoas aptas a votar, no total 2.959.823 filiados , o partido deve repetir a média histórica de participação: cerca de 380 mil votantes, o que representa aproximadamente 13% do total. A eleição marca o fim da gestão de oito anos de Gleisi Hoffmann e deve confirmar a vitória de Edinho Silva, ex-ministro e atual prefeito de Araraquara (SP), apoiado pela corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), ligada ao presidente Lula.

Gleisi assumiu o comando do partido em 2017, no auge das investigações da Lava Jato, e liderou a legenda em um dos períodos mais críticos de sua história. Durante sua presidência, o PT enfrentou queda nas filiações, isolamento político e seu pior desempenho eleitoral, como em 2020, quando não elegeu prefeitos em nenhuma capital. Com Lula de volta ao Planalto, o partido voltou a crescer, mas ainda busca retomar sua força histórica no Congresso e nas ruas.

A eleição interna expõe duas visões de futuro. Edinho representa uma linha mais moderada, que aposta no diálogo com partidos de centro e setores econômicos, como o mercado financeiro, estratégia que marcou os primeiros mandatos de Lula e a campanha de 2022. Já o deputado Rui Falcão, ex-presidente do PT e principal adversário na disputa, defende o retorno às raízes de esquerda do partido, com foco em pautas populares e polarização com a direita.

Mesmo com a segunda maior bancada da Câmara, graças à federação com PCdoB e PV, o PT enfrenta dificuldades no Congresso. Isolado em diversas votações, depende do apoio pontual de legendas como PSOL, PDT e PSB. O novo presidente terá a missão de ampliar alianças e reforçar a articulação política do governo, sem perder a identidade petista.

Outro desafio importante será a renovação interna. O desgaste causado pela Lava Jato afastou os jovens e desorganizou a militância de base, uma das marcas do partido nos anos 1980. Apesar do crescimento nas eleições de 2024, o PT ainda precisa renovar lideranças e ampliar sua presença nas disputas locais. Nesta eleição, haverá votação em 5.604 municípios, número 25% superior ao de 2019. O processo ocorre com cédulas de papel, já que apenas 16 estados autorizaram o uso de urnas eletrônicas.

O resultado da votação, que também definirá comandos estaduais e municipais, será divulgado ao longo da semana. Com apoio indireto de Lula e chancela da corrente majoritária, Edinho Silva deve ser confirmado como novo presidente. A definição do novo comando marca mais do que uma mudança de nomes: será decisiva para o rumo estratégico do PT nos próximos anos.

PT em Goiás

Em meio à eleição nacional do partido, o PT de Goiás também passa por um processo de reorganização com foco nas eleições de 2026. A deputada federal Adriana Accorsi deve assumir a presidência do diretório estadual ainda em julho, em uma eleição considerada homologatória. A atual presidente, vereadora Kátia Maria, não tentará reeleição. Accorsi será responsável por estruturar o partido no estado, com o objetivo de ampliar a base municipal e fortalecer o palanque do presidente Lula em Goiás.

Adriana Accorsi, deputada federal pelo PT | Foto: Reprodução Câmara dos Deputadados

A meta é lançar chapas competitivas para deputado estadual e federal e consolidar alianças com siglas do campo progressista, como PCdoB, PV, PSB e Cidadania. Segundo Accorsi, o partido não precisa necessariamente liderar as candidaturas majoritárias, como já ocorreu em eleições anteriores. O foco, segundo ela, é garantir uma composição ampla e representativa que possa enfrentar a força da direita no estado e aumentar a presença petista em todo o território goiano.

Durante a gestão de Kátia Maria, o PT obteve avanços importantes: conquistou 40% dos votos para Lula no primeiro turno em 2022 e foi o único partido do Centro-Oeste a dobrar sua bancada de deputados federais. Em 2024, também cresceu nas eleições municipais, voltando a ter representação em Aparecida de Goiânia, ampliando a bancada em Goiânia e dobrando o número de vereadores em Anápolis.

Além da reestruturação partidária, o PT nacional aposta em Adriana Accorsi como um nome para futuras disputas majoritárias, como o Senado ou o governo de Goiás. O projeto inclui a interiorização de sua imagem política e a montagem de uma estrutura capaz de garantir competitividade em 2026. Entre os nomes cotados para disputar vagas na Câmara dos Deputados estão Accorsi, Rubens Otoni, Antônio Gomide, Delúbio Soares e Edward Madureira. No diretório metropolitano, Neyde Aparecida deve permanecer na presidência.

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