O Partido Social Democrático (PSD) se tornou, pela primeira vez desde sua fundação, o partido brasileiro com o maior número de prefeituras. São 968 executivos municipais alinhados à sigla, um aumento de 47% fora do contexto eleitoral em comparação com as eleições de 2020.

Os dados desta análise, obtidas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e compilados pelo portal Poder360, revelam um cenário de mudanças e consolidações.

O crescimento foi impulsionado pela migração de prefeitos de outros partidos, permitindo que a sigla de Gilberto Kassab desbancasse o MDB, que por décadas ocupava o topo do ranking de domínio de prefeituras. A força do PSD concentra-se principalmente no Sudeste, a região mais rica e populosa do país, onde lidera com folga, especialmente em São Paulo, com 329 prefeitos.

Embora a atual presença do PSD nas prefeituras não assegure automaticamente sua manutenção em 2024 após as próximas eleições, a sigla sai na frente com o apoio das máquinas de governos locais. Caso mantenha esse favoritismo nas urnas, será um indicativo da contínua influência das forças de centro e centro-direita entre os eleitores.

O PSD lidera no Sudeste, mas não ocupa o primeiro lugar nas outras regiões, mantendo-se entre as cinco primeiras colocadas. No Nordeste, é o segundo colocado, quase empatado com o PP. No Sul e no Norte, fica em terceiro lugar, e no Centro-Oeste, ocupa a quinta posição.

Após o PSD e o MDB, os partidos que possuem o controle da maioria dos municípios no país são o PP, liderando com 712 prefeituras, seguido pelo União Brasil, que detém 564. Logo em seguida, o PL (Partido Liberal), liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, ocupa a terceira posição com 371 prefeituras. O PT, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atualmente conta com apenas 227 prefeitos e buscará reverter os resultados desfavoráveis das eleições recentes em 2024.

Na liderança pela 1ª vez

O PSD estreou em eleições municipais pela primeira vez em 2012, conquistando a eleição de 496 prefeitos. A partir desse marco, o partido ampliou progressivamente sua presença no cenário político municipal em todo o país.

Fundado por Gilberto Kassab em 2011, teve sua expansão impulsionada nos últimos três anos, principalmente no Estado de São Paulo, onde quintuplicou seu tamanho desde as eleições de 2020. O partido cresceu à custa de prefeituras do PSDB, já que ganhou 263 chefes municipais e os tucanos perderam 139.

Enquanto o PSD celebra sua ascensão, outros partidos tradicionais enfrentam desafios. O MDB, outrora líder em número de prefeituras, experimenta uma queda de prestígio e perdeu relevância ao longo dos anos. O PSDB, por sua vez, enfrenta encolhimento, especialmente em São Paulo, após a derrota nas eleições para o governo estadual.

O panorama político mostra que o Brasil está passando por transformações, e o sucesso do PSD nas próximas eleições será crucial para sua posição como partido central no espectro político. O cenário também destaca o papel dinâmico de outras forças políticas, como o PT, que busca recuperar terreno, e o União Brasil, emergindo como dominante no Centro-Oeste após a fusão de partidos.

No ano 2000, o MDB alcançou o comando de uma em cada cinco cidades brasileiras. Em todas as eleições subsequentes, a sigla deteve o maior número de prefeituras, até recentemente perder a posição de destaque para o PSD.

Apesar de ceder a liderança nas cidades, o partido, que teve figuras proeminentes como Ulysses Guimarães (1916-1992) e atualmente é representado por Baleia Rossi, Renan Calheiros e Michel Temer, registrou um aumento no número de prefeitos desde 2020, passando de 799 para 838.

O MDB ocupou a Presidência da República em 2016, com Michel Temer, sucedendo ao impeachment de Dilma Rousseff (PT). É antigo pilar da redemocratização e com considerável influência política nas décadas de 1980 e 1990.

Em 2023, o MDB possui 212 prefeitos a menos em comparação aos 1.050 eleitos em 2004. Embora periodicamente emita documentos retóricos, como ocorreu em 2019, o partido não apresenta ideias práticas para superar o estado de obsolescência em que se encontra.

Outro indicativo da perda de relevância é a diminuição no número de deputados federais. Nas eleições de 2006, o então PMDB (perdeu o “P” em 2017) liderou na eleição de deputados federais, com 89 representantes, superando PT e PSDB, as principais forças na disputa presidencial. Em 2022, o partido elegeu apenas 42 deputados, menos da metade, perdendo sua posição como fiel da governabilidade que mantinha há décadas.

Além disso, o MDB está entre os partidos que mais perderam filiados na última década, com uma redução de 299 mil filiados desde 2014. Apesar disso, continua sendo o partido com o maior número de filiados no Brasil, contando com 2 milhões de membros.

PSDB e PT

De outubro de 2004 até outubro de 2023, o PSDB registrou um declínio notável em sua presença política. A perda de 522 prefeituras ao longo desse período foi marcante, assim como a redução de sua federação com o Cidadania (anteriormente PPS e PCB), que também viu uma diminuição de 234 prefeitos.

Embora o PSDB seja classificado como o 6º partido com o maior número de prefeituras no Brasil, sua trajetória tem sido marcada por uma queda considerável. Desde 2020, o partido perdeu 187 prefeituras, passando de 531 prefeitos eleitos no último pleito municipal para apenas 344.

A situação se agravou em São Paulo, onde o PSDB perdeu 139 executivos municipais desde 2020. Essa queda coincidiu com a primeira derrota tucana em 28 anos para o governo paulista, quando Rodrigo Garcia foi derrotado em 2022 por Tarcísio de Freitas (Republicanos), apoiado por Kassab e Jair Bolsonaro.

A gestão de João Doria no Palácio dos Bandeirantes também contribuiu para a crise do PSDB em São Paulo. Com pouca experiência política e falta de familiaridade com a Realpolitik do cotidiano, Doria foi eleito governador em 2018 em uma parceria informal com Bolsonaro. No entanto, após romper com o governo federal, sua tentativa de candidatura à presidência pelo PSDB em 2022 falhou.

Doria, pela primeira vez na história do partido, não teve um candidato disputando a presidência. Atualmente afastado da política, ele busca uma aproximação com Lula, a quem elogiou publicamente e pediu desculpas por críticas anteriores.

A evidência do encolhimento do PSDB é notável no Congresso. Em 1998, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o partido tinha a segunda maior bancada na Câmara, com 99 deputados federais. Hoje, essa representação foi drasticamente reduzida para apenas 14 deputados em exercício.

No Senado, a situação para os tucanos é ainda mais desafiadora. No início de 2023, a bancada já era pequena, composta por apenas 4 senadores. Com as saídas de Mara Gabrilli (agora no PSD) e Alessandro Vieira (que se juntou ao MDB), o partido ficou apenas com 2 representantes na Casa Alta, perdendo o direito de ter um gabinete da Liderança.

Apesar de ter alcançado a Presidência da República e possuir uma das maiores representações no Congresso, o Partido dos Trabalhadores (PT) tem enfrentado perdas significativas em eleições municipais, perdendo terreno nas cidades a cada pleito.

No ano de 2020, o desempenho do PT foi insatisfatório, resultando na eleição de apenas 182 prefeitos, uma queda considerável em relação aos 250 conquistados quatro anos antes, em 2016. Contudo, atualmente, o partido mostra sinais de recuperação, contabilizando 227 prefeituras, impulsionado pelo magnetismo político gerado pelo retorno de Lula ao cenário nacional.

Apesar desse aumento, o número de prefeituras controladas pelo PT ainda está distante dos 643 alcançados durante o governo de Dilma Rousseff em 2012, quando o partido ainda desfrutava dos benefícios do crescimento econômico experimentado nos primeiros anos da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.

Levantamento

O levantamento foi conduzido com base em informações fornecidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Entre os 5.568 municípios brasileiros com eleições, cinco não apresentaram dados dos prefeitos na base de dados devido à realização de eleições suplementares no momento da pesquisa.

Além disso, a base de dados do tribunal eleitoral inclui 157 prefeitos classificados como “sem partido”. Dentre esses, 81 foram identificados pelo portal como falecidos, renunciantes ou afastados de seus cargos. Os partidos dos 81 chefes executivos que assumiram em seus lugares foram considerados no levantamento.

É importante destacar que o número de prefeitos que faleceram, renunciaram ou foram afastados pode ser maior do que o indicado. Isso se deve à ausência de uma base de dados específica sobre essa informação.

A investigação concentrou-se naqueles que não tinham registro de filiação no TSE, considerando que, quando um político falece, o registro partidário deve ser removido. No entanto, é possível que a Corte Eleitoral não tenha conseguido atualizar o registro de filiação de alguns prefeitos nessas condições.

Os dados refletem as informações de filiados fornecidas pelos partidos políticos ao TSE em outubro de 2023. É válido considerar que partidos podem não ter registrado todas as filiações ocorridas até aquele mês na lista da Corte, e mudanças partidárias adicionais podem ter ocorrido desde a entrega dos relatórios. O levantamento não abrange essas possíveis alterações.

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