Procura-se um ministro da Fazenda disposto a enfrentar o mau humor diário de Dilma
15 novembro 2014 às 12h50

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Seja quem for o escolhido, deverá ter paciência suficiente para suportar e, se possível, levar para casa os desaforos da presidente em momentos de tensão

Quem aceitaria um tratamento ríspido com xingamento em momentos de tensão entre tantos solavancos na economia pela frente? O risco a que se exporá o novo ministro da Fazenda diante do comportamento previsível da presidente Dilma é uma das dificuldades à importação de um nome expressivo para a vaga fora dos quadros políticos. Um banqueiro, por exemplo.
Se a importação de um nome expressivo para a Fazenda é importante à conquista da confiança do mercado na política econômica, a presidente vive também o risco de ganhar a desconfiança do PT, onde há um movimento em marcha para não perder a prestigiosa vaga aberta pela demissão do companheiro Guido Mantega, ainda mais se a vaga pode ir para o capital.
A escolha do novo ministro da Fazenda é um deles. Outros problemas circulam em órbitas correlatas e o sucessor de Mantega, se for mesmo alguém expressivo, poderia participar das soluções se o seu nome for sagrado a tempo — como Dilma apreciaria. O mais importante é a aprovação do orçamento, que dispõe de um mês para a solução, mas a fórmula exige urgência.
É a aprovação do orçamento para 2015 antes de 22 de dezembro, quando deputados e senadores saem em férias. Antes, no entanto, o governo precisa aprovar uma mudança na atual Lei de Diretrizes Orçamentárias, se possível a partir desta semana, para reduzir a meta de 1,9% do PIB no superávit primário, a economia forçada para equilibrar as contas públicas.
A trama despertou a ironia do economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central. “Se a meta é flexível, não é meta”, sentenciou o atual consultor econômico. Se o time está perdendo a partida, mudam-se as regras do jogo.
Tem mais. A LDO de 2014 seria alterada a pouco mais de um mês do fim de sua vigência em 31 de dezembro. Tanto casuísmo assim para driblar o vexame de um governo que não respeitou a poupança obrigatória nos gastos imposta pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), criação da era FHC como pilar para a estabilidade com metas nas contas públicas que exijam austeridade.
Desde FHC, que saiu do poder há 12 anos, Dilma será a primeira presidente a violar a LRF original, pois não conseguirá montar o superávit primário de R$ 99 bilhões estabelecidos para este ano: as contas do governo apresentaram em outubro o maior déficit mensal da história, R$ 21 bilhões.
O PMDB se dispõe a ajudar o Planalto a aprovar manobra no meio desta semana no Congresso. Evidentemente, esse apoio terá um preço, mais espaço no novo governo, o que diminuiria os cômodos do PT, que está zangado com a hipótese de perder dois ministérios básicos: a Fazenda de Guido Mantega; e a Educação, do acanhado companheiro Henrique Paim.