O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem sido um marco para milhares de jovens e adultos em busca de um futuro universitário, mas não está imune a situações controversas que envolvem a aplicação do exame. Recentemente, um incidente ocorrido no Rio Grande do Sul, envolvendo um adolescente diabético, trouxe à tona a discussão sobre a gestão de casos de saúde durante as provas.

O estudante, que realizava a prova em Sobradinho, foi desclassificado quando o sensor de glicemia do seu aparelho disparou durante a aplicação. Este incidente gerou um alvoroço nas redes sociais, com o pai do jovem relatando que o equipamento, essencial para monitorar o nível de açúcar no sangue, foi considerado uma violação das regras do exame. O fato gerou indignação entre muitos, pois a suspensão ocorreu justamente por uma necessidade médica, levantando questões sobre como o Inep lida com essas situações específicas.

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No entanto, em episódios recentes, a falta de flexibilidade no tratamento de casos médicos levou à eliminação de outros participantes, o que reacendeu a discussão sobre a acessibilidade e os direitos dos candidatos durante o Enem. O caso do adolescente diabético não é o único. Nos últimos dias, dois outros episódios similares ganharam repercussão.

Em Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, Denise Campos, de 20 anos, vivenciou uma situação semelhante, quando foi eliminada após o alarme do seu celular disparar durante a prova. Ela relatou que o telefone tocou no horário exato em que precisava tomar seu medicamento e, por isso, não conseguiu evitar a violação das regras, resultando na sua desclassificação.

A jovem, que já dominava o conteúdo da prova e estava perto de concluir sua redação, perdeu a chance de continuar o exame por conta de um imprevisto técnico, algo que, segundo ela, poderia ter sido evitado com maior compreensão das condições de saúde dos candidatos.

Outro episódio, ocorrido em Cuiabá, no estado de Mato Grosso, envolveu Maria Eduarda Cavalcante, uma estudante de 16 anos, que também foi eliminada após o celular tocar durante o exame. Maria Eduarda havia esquecido a identidade em casa, e seu nervosismo ficou ainda mais evidente quando, já dentro da sala de aplicação, o telefone tocou, violando as regras do Enem. Apesar de ser sua primeira tentativa de prestar o exame, ela teve sua oportunidade interrompida de forma abrupta, algo que muitos consideram um erro, dada a natureza do incidente.

Entretanto, o caso mais grave até o momento foi o de Iranilde Rodrigues de Sousa, de 49 anos, em São Sebastião, no Distrito Federal. Portadora de uma doença rara, ela usava um dispositivo eletrônico para controlar a dor crônica na coluna, um neuroestimulador medular que, segundo seu relato, foi negado pelos fiscais do Enem. Iranilde foi desclassificada após tentar levar o aparelho para a sala, alegando que ele era essencial para aliviar as intensas dores.

Mesmo apresentando documentos médicos que comprovavam a necessidade do dispositivo, os fiscais não permitiram que ele permanecesse ligado, o que levou à sua retirada da sala e à interrupção de sua prova. A candidata havia solicitado a adaptação ao Inep no momento da inscrição e foi confirmada com as condições especiais, mas, ao chegar ao local, a negativa por parte da organização do exame a deixou sem alternativas.

O sofrimento de Iranilde foi além da perda da oportunidade de realizar o Enem. A candidata, que não conseguiu completar a prova devido à dor insuportável, foi amparada por policiais após o exame e, posteriormente, teve que ser medicada devido ao estresse emocional gerado pela situação. A indignação de Iranilde reflete um sentimento comum entre os participantes que enfrentam limitações físicas ou de saúde durante o exame: a falta de compreensão e apoio nas condições em que se encontram.

Esses três episódios ilustram a crescente preocupação com o tratamento dado a candidatos com necessidades especiais no Enem, especialmente aqueles que dependem de equipamentos médicos para realizar a prova. O Inep, por sua vez, garante que candidatos que se sintam prejudicados têm a opção de solicitar a reaplicação do exame, mas é necessário que haja uma revisão nas normas e nas práticas de fiscalização para garantir que todos os participantes tenham as mesmas oportunidades, independentemente de suas condições de saúde.

Com a proximidade da reaplicação do Enem, que acontecerá entre os dias 11 e 15 de novembro, especialistas e defensores de direitos humanos apontam a necessidade urgente de reavaliar as regras e procedimentos do exame, a fim de garantir que todos os candidatos possam realizar a prova de forma justa, sem que problemas relacionados à saúde se tornem obstáculos intransponíveis.

O incidente de Sobradinho, assim como os casos de Belo Horizonte e São Sebastião, coloca em evidência a importância de um tratamento mais sensível e flexível para os candidatos com necessidades especiais, sem que a rigidez das regras prevaleça sobre as condições que, muitas vezes, são impostas pela própria saúde dos participantes.

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