Em 28 de julho, logo após a morte do soldado da Rota Patrick Bastos Reis, a Polícia Militar de São Paulo deflagrou a Operação Escudo, na região de Guarujá, litoral do Estado. Na mesma data, três pessoas foram mortas em ações da PM, que estava na caçada ao assassino de Patrick.

Nos dias que se seguiram, várias outras mortes aconteceram nas comunidades, chegando a um total de 27 até esta segunda-feira, 4. A grande mídia brasileira se manifestou contrária à operação da polícia, naquilo que foi denominado de “chacina do Guarujá”.

Como o governador de São Paulo tem sua ideologia voltada para a direita, Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi duramente criticado pela imprensa e pelos políticos de esquerda. O líder da bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara de São Paulo, vereador Senival Moura, chegou a chamar o governador de “genocida”. O político ainda leu uma nota de repúdio em nome dos colegas petistas, condenando a ação da polícia no litoral paulista.

Em crítica à fala do governador que disse em entrevista não ter havido excesso da polícia nas operações, a diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck afirmou que o governador se apressou em se expressar. Werneck ainda questionou quem seria responsabilizado pelas mortes.

A própria diretora da anistia afirmou: “quem decide as penas no Brasil, é a justiça, e aqui, não existe pena de morte”. No mesmo dia, em 28 de agosto, aconteceu no Estado da Bahia operação policial semelhante à paulista, culminando também em grande quantidade de óbitos. Longe do eixo Rio-São Paulo, mídia e políticos de esquerda deixaram de criticar a ação policial daquele Estado. Por que, o tratamento diferente tanto pela imprensa, quanto pela sociedade? Por que o governador da Bahia não foi chamado de genocida?

Vale ressaltar que a polícia da Bahia é a que mais mata no Brasil. De acordo com o Fórum de Segurança Pública, somente no ano passado, o número de mortes dessa natureza chegou ao patamar de 1.464, ultrapassando o Rio de Janeiro. Na ação especifica do dia 28 de julho – que durou até o dia 4 de agosto, foram registradas 29 mortes, dois a mais que em São Paulo. Desse total, três eram adolescentes.

Cabe lembrar que desde 2007 a Bahia vem sendo governada por políticos do Partido dos Trabalhadores (PT). O atual governador é Jerônimo Rodrigues. Samuel Vida, professor e coordenador do programa Direito e Relações Raciais da Universidade Federal da Bahia (UFBA), explicou à DW Brasil que a Polícia Militar baiana nos governos petistas, isto é, durante dos 16 anos que o partido governa o estado, foi equipada para o confronto letal.

“Temos visto um reforço do comando da polícia de que a letalidade faz parte do seu entendimento de eficácia em sua política pública. Nesse período foram criadas unidades especializadas, como a Rondesp, a Patamo, o Bope e a Peto”, relatou. De acordo com Samuel, o governo mais letal foi até o momento o de Rui Costa, que hoje é ministro-chefe da Casa Civil do terceiro governo Lula.

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