Público que visita o município por conta do Fica também sofre com a situação. Vigilância em Saúde da prefeitura reconheceu problema e informou que redes de tratamento estão sendo instaladas

 

A cidade de Goiás está sendo palco de discussões sobre a produção de cinema e vídeo ambiental desde a última terça-feira (27/5), quando se deu a abertura oficial da 16° Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fica). Órgãos estaduais, como a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) têm espaços montados no município, ao passo que o projeto Fica Limpo funciona durante todo o evento.

A imprensa nacional e internacional cobre o evento por sua importância à nível de premiação na América Latina e por receber cineastas, produtores e outras personalidades do cinema do Brasil e do mundo. Mas a população da cidade que sedia uma mostra tão importante tem tratamento e saneamento básico de esgoto? O Jornal Opção Online apurou que em alguns setores da antiga Vila Boa há o descarte de dejetos a céu aberto.

Sob a Rua Nova, esquina com a Rua do Oriente, no Centro Histórico, passa o Rio da Prata. Cercado de residências e farta flora, o manancial recebe esgoto advindos da população da região. E a situação não é exclusiva desse bairro. Segundo Avelina Cordeiro Bueno, auxiliar de produção de um frigorífico local, nos setores Vila República, Urani e Rio Vermelho, as mesmas condições podem ser constadadas.

Ela relatou que nas proximidades da residência da mãe dela a situação é semelhante. Os períodos em que o odor é mais forte são pouco antes do meio-dia e no final da tarde. Avelina afirmou que há tempos parte da cidade se encontra assim. “Na época das eleições [municipais] a prefeita Selma [Bastos, PT] foi pedir voto para minha mãe, que exigiu pelo menos a colocação de manilhas para escoar o esgoto. Até hoje, nada”, reclamou.

A moradora contou ainda que gosta do Fica somente “para ganhar um dinheiro a mais”. Como trabalha cerca de duas vezes na semana no frigorífico da JBS/Friboi, neste ano, Avelina aproveita para auxiliar na cozinha de um restaurante que serve empadas, o Bar da Patricinha.

Solo rochoso e desnível

A reportagem tentou falar por telefone com a prefeita Selma Bastos (PT). A assessoria informou que a petista estava em reunião e que, não sequência, estaria em dois eventos da prefeitura. O secretário de Meio Ambiente, Pedro Alves Vieira, foi contatado, mas as ligações não foram atendidas. Já o titular da pasta da Saúde, João Batista Neto, disse desconhecer essa realidade, e passou o telefone do diretor de Vigilância em Saúde e coordenador da Vigilância Sanitária do município, Tiago de Santana Passos.

Ele reconheceu o problema, mas adiantou que as obras de esgotamento sanitário estão em andamento. Segundo informações repassadas por Tiago, as maiores dificuldades enfrentadas pela prefeitura estão na perfuração do solo, que é muito rochoso e possui grandes placas e lajes de pedra, o que impede a drenagem. Além disso, o coordenador pontuou que parte do lençol freático da cidade de Goiás é muito aflorado.

Tiago listou que existem residências que têm fossas, mas outras casas não têm espaço para a construção. Outro obstáculo é o desnível de solo, principalmente na região do Centro, chamada de Área de Entorno. “Não existem elevatórios para que o esgoto seja bombeado para a estação de tratamento”, observou, complementando que no total está prevista a construção de cinco elevatórios. Em muitos dos setores do município a rede de esgoto está ligada, mas não pode funcionar, como é o caso da Rua do Oriente com a Rua Nova.

É que lá, por exemplo, o nível onde estão localizados os banheiros de algumas casas estão abaixo do nível da rede de esgoto, o que inviabiliza a implantação. “A cidade cresceu sem que fosse o levantamento de solo”, relembrou. Antigamente, a rede passava pela frente das casas e agora será necessário instalá-las na parte de trás.