A política mudou ao avesso com a participação de Dilma Rousseff na compra de Pasadena
24 março 2014 às 16h57
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Para evitar o pior no Congresso, a presidente esboça a aproximação com o líder Eduardo Cunha, a quem considerava inimigo número um do governo
A. C. Scartezini
A presidente Dilma Rousseff contrariou Lula ao emitir a nota do Planalto em que diz que desconhecia o contrato da compra pela Petrobrás da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, quando presidia o Conselho de Administração da maior empresa brasileira. Tão detalhista na cobrança de explicações da assessoria, Dilma teria aprovado a compra baseada num resumo do contrato apresentado pela Petrobrás.
Na intimidade, Lula criticou a sucessora por razão política em ano de eleição presidencial. Afirmou que Dilma, com a nota, trouxe a crise para dentro do Planalto em vez de deixar que o escândalo se esgotasse no interior da Petrobrás. O ex considerou que a presidente errou ao agir por impulso e redigir pessoalmente a nota. Ou seja, Lula não foi consultado.
Lula tem suas razões para divergir da sucessora. Dilma não apenas trouxe a crise para o Planalto, mas a estendeu ao antecessor, que era o presidente naquele fevereiro de 2006 em que a Petrobrás comprou Pasadena. Naquela época, ainda fervia a revelação do mensalão meses antes, pelo qual Lula paga historicamente ao lado do PT. Agora se junta Pasadena ao currículo.
Mas como Dilma poderia ignorar o escândalo se será confrontada com o caso ao longo da campanha? Ela presidia o Conselho de Administração da Petrobrás, que aprovou a operação por unanimidade. Era chefe da Casa Civil de Lula, depois de ser por ele nomeada ministra de Minas e Energia, gestora da petrolífera.
A presidente enfrenta um processo de desgaste político também na Câmara, em ano de eleição para todos os deputados. A aprovação de uma CPI para investigar a Petrobrás faria estragos ao PT desde a era Lula. Em linha de confronto com o Planalto, o PMDB do líder Eduardo Cunha (Rio) pode se juntar à oposição e a outros governistas descontentes para convocar a CPI na campanha.
Ao sair para o último fim de semana, há dez dias, Dilma Rousseff alimentava o projeto de isolar politicamente o deputado Eduardo Cunha, cujo nome ela se recusava a pronunciar. Era para evitar que ele continuasse a criar embaraços ao governo com a briga do PMDB por espaço no poder. Agora, precisa de Cunha para controlar a investigação do escândalo em que se envolveu.
Na última segunda-feira, Dilma retomou o expediente no Planalto e ao longo do dia passou a ensaiar outra ideia, a de atrair Cunha para promovê-lo de inimigo a aliado. Era iminente a votação da regulamentação das comunicações por computadores, batizada como Marco Civil da Internet. No mesmo dia, Cunha foi convidado a ir ao Planalto discutir o projeto.
Não chegou à sala presidencial, mas se sentou ao lado do vice-presidente Michel Temer, líder do PMDB, e de dois petistas, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e a secretária de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. A votação do Marco Civil estava marcada para o dia seguinte.
A votação foi adiada por uma semana porque Cunha queria mudanças no projeto. Uma caminha para ser atendida com o recuo do Planalto no pós-Pasadena: a desistência de Dilma em regulamentar o Marco Civil por decreto, que seria impositivo, como é do feitio pessoal. No entanto, a regra institucional é de atribuir ao Executivo a regulamentação de normas.
Além disso, entrava no Planalto a volta de Pasadena como escândalo. Entrava forte como uma pauta da reportagem de “O Estado de S.Paulo”, onde se pedia informações à presidente sobre a participação dela na aprovação da compra da refinaria. Agora, a pauta do jornal estava recheada por novos fatos.