PMs presos: veja os detalhes dos oito assassinatos envolvendo militares goianos

21 setembro 2023 às 11h59

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Os sete assassinatos em Anápolis e Terezópolis, supostamente planejados e executados por 10 policiais militares goianos, foram desencadeados após uma emboscada que custou a vida do empresário Fábio Alves Escobar Cavalcante (foto em destaque), morto na cidade anapolina em 2021. O objetivo dos militares presos na última terça-feira, 19, conforme documento do Ministério Público (MP), era exterminar provas que pudessem incriminá-los.
Dois anos antes de ser executado, o empresário fez uma série de vídeos e publicações dizendo que estava assustado com as ameaças recebidas depois de fazer denúncias. As juras de morte, inclusive, vieram de pessoas ligadas à Polícia Militar goiana.
Tempos depois, em 23 de junho de 2021, o homem foi assassinado por disparos de arma de fogo. Segundo documentos, a vítima foi atraída para uma emboscada por indivíduos que, se passando por compradores de um imóvel, marcaram encontro utilizando um celular.
Foi esse celular que, segundo os policiais, acabou gerando, indiretamente, a morte das outras pessoas. Os investigadores apuraram que, meses antes da morte de Fábio, o objeto estava em posse de Bruna Vitória Rabelo Tavares. A mulher é esposa de um suposto traficante, que teria conseguido o telefone como pagamento por uma venda de crack.
Bruna e Fábio estavam em um motel quando foram abordados e agredidos por policiais militares, que levaram o telefone. Posteriormente, o dono do aparelho reconheceu os PMs envolvidos, incluindo o cabo Glauko Olívio de Oliveira.
Eles registraram um boletim de ocorrência na central de flagrantes de Anápolis após o roubo. Meses depois, Bruna, que estava grávida de 7 meses, foi vítima de homicídio, com tiros disparados por dois homens em uma motocicleta. O companheiro da vítima, novamente, reconheceu Glauko Olívio como sendo um dos atiradores responsáveis pelo feminicídio.
No mesmo dia do assassinato da jovem, procurando justificar a execução, um grupo de policiais militares se envolveu em suposto confronto com disparos de arma de fogo, ocasionando a morte de Gabriel Santos Vital, Gustavo Lage Santana e Mikael Garcia de Faria. O trio, que era amigo de Bruna e Fábio, foi apontado como suspeito de ter matado a mulher.
Segundo a decisão que ordenou as prisões dos militares, os policiais envolvidos no assassinato dos três homens são: Glauko Olivio de Oliveira, Thiago Marcelino Machado, Adriano Azevedo Souza, Wembleyson de Azevedo Lopes, Jhonatan Ribeiro de Araújo e Rodrigo Moraes Leal.
Torturados até à morte
Procurando pelo suposto traficante Fábio, única testemunha que teria visto os policiais nos crimes, os militares Glauko, Thiago e Wembleyson foram acusados de torturar e matar Bruno Chendes, Edivaldo Alves da Luz Junior e Daniel Douglas de Oliveira Alves.
Eles também eram amigos da testemunha e, conforme o inquérito policial, foram torturados até a morte, para que fornecessem informações sobre o paradeiro do homem, que também era uma potencial vítima do grupo.
Consulta de CPF
Antes do assassinato do empresário Fábio, segundo as investigações, o policial Marcos Jesus Rodrigues consultou o Cadastro de Pessoa Física (CPF) da vítima no sistema da Secretaria de Segurança Pública (SSP), mas os dados de IP da consulta estavam registrados em nome do major, Almir Tomás de Aquino Moura.
Dias depois, Glauko Olivio de Oliveira realizou a conexão de internet na casa do também policial militar Erick Pereira da Silva e, utilizando-se do número de CPF de Fábio Alves, cadastrou o chip no celular roubado. Além disso, conforme consta nas investigações, nos três dias em que a linha telefônica ficou ativa, o celular estava nas imediações do endereço residencial do PM Welton da Silva Vieiga, que morreu em dezembro de 2022.
Welton atuava no mesmo batalhão da Polícia Militar em que estão lotados Marcos Jesus Rodrigues e Almir Tomas de Aquino Moura, ambos investigados no inquérito policial que envolve o homicídio do empresário goiano.
Operação e prisões
Os 10 investigados foram presos na última terça, data em que a Polícia Civil de Goiás cumpriu mandados de prisão temporária contra os investigados. O grupo é suspeito de planejar vários assassinatos durante operações policiais nas cidades de Anápolis e Terezópolis.
Os PMs presos são:
- Almir Tomás de Aquino Moura – major
- Marcos Jesus Rodrigues – subtenente
- Marco Aurélio Silva Santos – 1º sargento
- Erick Pereira da Silva – 3º sargento
- Glauko Olivio de Oliveira – cabo
- Thiago Marcelino Machado – cabo
- Rodrigo Moraes Leal – soldado
- Adriano Azevedo de Sousa – 2º tenente
- Wembleyson de Azevedo Lopes – soldado
- Johnathan Ribeiro de Araújo – cabo
Além disso, a Operação Tesarac, responsável por investigar os crimes, cumpriu 18 mandados de busca e apreensão em Anápolis, Caldas Novas, Nerópolis, Nova Veneza, Goiânia e Brasília.
A Secretaria de Segurança Pública de Goiás confirmou a prisão de policiais militares do estado e acrescentou que “o Comando de Correições e Disciplina da PMGO acompanhou o cumprimento de mandados de prisões temporárias e de busca e apreensão expedidos pela 1ª Vara Criminal da Comarca de Anápolis”.
Os policiais militares foram recolhidos ao presídio militar, onde permanecem à disposição da Justiça. A Corregedoria da PMGO instaurou os procedimentos legais cabíveis.
“A SSP-GO, juntamente com todas as Forças de Segurança, reitera que não compactua com nenhum tipo de desvio de conduta”, informou o órgão por meio de nota.