A Agência da ONU para as Migrações (OMI) visitou o município de Aparecida de Goiânia para aprimorar a rede de assistência a imigrantes venezuelanos. O encontro, que ocorreu na última quarta-feira, 9, discutiu maneira de aprimorar os atendimentos prestados aos cerca de 80 indígenas venezuelanos da etnia Warao que moram na região.

Os profissionais da Unidade Básica de Saúde (UBS) Mansões Paraíso, localizada na região norte do município, receberam orientações da assistente de Projetos da OIM, Leany Torres Moraleda, integrante do povo Warao. A equipe de saúde estava enfrentando algumas dificuldades linguísticas, culturais e religiosas no atendimento aos imigrantes.

“Nosso pessoal da UBS Mansões Paraíso encontrou algumas dificuldades de língua, eles têm dialetos próprios, e também culturais e religiosas para ofertar uma assistência mais efetiva a essa população. Agora pudemos realizar essa oficina que foi um momento muito rico. Toda a equipe foi orientada e capacitada para lidar melhor e fortalecer o vínculo com os Warao”, explicou o superintendente de Atenção à Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Gustavo Assunção.

Essa foi a primeira vez que a Agência da ONU visitou Goiás para tratar diretamente com os profissionais de saúde de um município. A visita ajudou a qualificar o atendimento a esse grupo e pode até expandir a experiência para outras populações de Aparecida, já que é o segundo maior município do Estado. Além disso, a cidade recebe muitos migrantes venezuelanos, haitianos e africanos.

  Originário da Venezuela, povo Warao é considerado o segundo maior povo indígena do país. | Acervo Projeto Circular

Migração dos Warao

A coordenadora de Projetos da OIM, Thais La Rosa, que também participou da oficina, explicou o trabalho que desenvolvem em todo o Brasil: “Trabalhamos com a temática migratória tanto indígena quanto não–indígena e sou responsável pela coordenação dos Estados de Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal. Em Aparecida viemos fortalecer a interlocução com a comunidade indígena Warao, fazer essa mediação principalmente para questões de cuidados com a saúde, em específico para a tuberculose.”

De acordo com dados do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), no último censo realizado na Venezuela, em 2011, os Warao eram a segunda etnia mais populosa do País, representando cerca de 7% dos povos indígenas, ficando atrás dos Wayuu, que eram 57% da população indígena nacional. Um estudo de 2020 da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) apontou que, das mais de 264 mil pessoas venezuelanas refugiadas e migrantes vivendo no Brasil, cerca de 5 mil eram indígenas, sendo que 65% destas eram da etnia Warao.

Nova visita

De acordo com o superintendente de Atenção à Saúde, a OIM vai acompanhar remotamente a equipe da SMS de Aparecida e, se necessário, farão uma nova visita. Segundo ele, a língua talvez seja a menor das barreiras enfrentadas.

“Com a reunião, conseguimos avançar muito para a compreensão do idioma falado pelos venezuelanos. Em relação a cultura, entendemos que eles não consideram a nossa medicina efetiva, mas apenas complementar. Para a etnia Warao, as doenças são espirituais e a autoridade médica maior e mais respeitada é a do xamã”, explicou Gustavo.