PCC lava dinheiro em imóveis, agências de automóveis, empresas de construção. Cocaína não é a maior fonte de lucro. Veja lista completa

01 julho 2025 às 18h44

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Aos 32 anos, o Primeiro Comando da Capital é balzaquiano. Criado na Casa de Custódia de Taubaté, em São Paulo, o PCC — que tem colocado o governo de São Paulo como Segundo Comando do Estado — já atua em 28 países. Sua base é Brasil, onde tem um poderoso exército de soldados e sociais. Fala-se em mais de 40 mil membros.

O Ministério Público do Estado de São Paulo informa que o PCC tem negócios líticos para lavar a imensa quantidade de dinheiro — na verdade — que amealha com o tráfico de drogas e outras atividades ilegais e, até, legais.
Numa palestra, o promotor de justiça Lincoln Gakiya, do Gaego de São Paulo, disse, durante o seminário Crime Organizado e Mercados Ilícitos no Brasil e na América Latina: “O que eu diria para vocês é que, sim, o PCC hoje está na economia formal. As empresas que eles estão administrando não são mais empresas de fachada como uma década atrás”.

Sob constante ameaça do PCC, o intimorato Lincoln Gakiya está dizendo que, assim como as máfias italianas — uma delas supostamente parceira do crime organizado no Brasil e na Europa —, o PCC decidiu legalizar alguns de seus negócios. Porque não é possível operar milhões — até bilhões — de reais por baixo dos panos.
Lincoln Gakiya enfatiza, no registro de “O Estado de S. Paulo”: “São empresas que existem, que estão prestando serviço, às vezes até prestando um bom serviço. Mescla-se nelas o dinheiro do tráfico de entorpecentes, do tráfico internacional, com o efetivo lucro que as empresas dão por ano”.
O PCC começou a operar, em larga escala, o tráfico de drogas no país. Mas sua rede cresceu tanto que se estendeu à América Latina e à Europa. Agora negocia até mesmo com Turquia, Líbano e Japão. Trata-se uma multinacional do crime. O mercado asiático se torno um grande parceiro do grupo organizado por Marcola Camacho.
“O quilo de cocaína na Ásia chega a US$ 150 mil. Estão comprando a produção (na Bolívia) a US$ 1 mil o quilo — às vezes, US$ 800 o quilo — e essa cocaína chega em Hong Kong, na Ásia, a US$ 150 mil o quilo. Não há nenhum negócio que dê mais dinheiro do que a cocaína hoje”, garante Lincoln Gakyia.

O promotor postula que, com o lucro exorbitante com o tráfico de cocaína, o PCC parou a limpar o dinheiro sujo. A lavagem da grana começou há 10 anos. Primeiro, o grupo começou a adquirir postos de gasolina em vários Estados do país. Há uma rede de postos — em nome de várias pessoas, o que dificuldade a denúncia do Ministério Público. Quem lava o dinheiro às vezes tem o nome limpo.
Em seguida, o PCC começou a comprar concessionárias de automóveis e imóveis.
Com os negócios sedimentados, e a contínua entrada do dinheiro da venda de drogas — obviamente, livre de impostos (exceto as taxas pagas a policiais militares e civis) —, o PCC decidiu investir em empresas de construção civil e em casas de câmbio (financeiras), notadamente no Paraguai.
A desregulamentação bancária no Brasil ajudou o PCC a fundar bancos digitais, fintechs, fundos de investimentos em participações e criptomoedas.
O PCC se associou a empresa de transporte coletivo. Viações com linhas na cidade de São Paulo estão ligadas ao grupo criminoso, constatou uma investigação da polícia.
O PCC também se infiltrou no negócio de abrir igrejas, organizações sociais de saúde pública. Há ligações também com empresas de coleta de lixo e limpeza urbana.
As investigações do Ministério Público e da polícia têm mostrado ligação do PCC com o setor de mineração, plataformas de apostas e jogos de azar. Há empresas ligadas a times de futebol conectadas ao PCC.
Crime organizado fatura menos com mercado de cocaína
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou estudo, em fevereiro, mostrando que o crime organizado no Brasil — agora não está falando apenas do PCC — “movimenta mais dinheiro com a venda irregular de combustível, ouro, cigarro e álcool (R$ 146,8 bilhões) do que com o tráfico de cocaína (R$ 15 bilhões)”. O registro é do “Estadão”.
O promotor Lincoln Gakiya sugere que o governo federal e o Congresso adotem um projeto de lei antimáfia para criar “uma agência federal de combate ao crime organizado, que centralize o combate à lavagem de dinheiro”.
O membro do Ministério Público sublinha, na síntese do “Estadão”, que “uma lei antimáfia deve criar a figura da organização criminosa de tipo mafioso, e permitir que os bancos sejam obrigados a bloquear preventivamente os recursos suspeitos de origem mafiosa, como acontece nos casos de suspeita de terrorismo”.