Paulo Garcia tem que estancar sangria na base após derrota
11 dezembro 2014 às 17h12
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Oposição se adiantou, articulando com aliados do prefeito e o Bloco Moderado. Eleição de Anselmo Pereira (PSDB) interfere diretamente nos dois últimos anos da gestão petista na capital
A eleição do tucano Anselmo Pereira à presidência da Câmara de Vereadores de Goiânia por unanimidade expõe a sangria por que passa o prefeito da capital, Paulo Garcia (PT). E a ferida deve continuar exposta nos dois últimos anos de sua administração.
Diante da forte chapa apresentada pela oposição para concorrer à nova mesa diretora, a base aliada do petista pediu a suspensão da sessão especial que escolheu a nova mesa diretora. O motivo? Era para reunião dos principais representantes da prefeitura na Casa, na intenção de formar uma chapa competitiva à formada pelo blocão — composto por oposicionistas, Bloco Moderado e dissidentes da base aliada. Até a deputada estadual Isaura Lemos participou, acompanhada da filha, a vereadora Tatiana Lemos (ambas são do PCdoB). E por nada adiantou.
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O pedido da suspensão partiu de Carlos Soares, um dos nomes que o Paço Municipal tentava emplacar. Líder do PT na Casa, o petista observou que, pelo andar da carruagem, a oposição seria vitoriosa. Ao mesmo tempo, alegou que não estava admitindo a derrota, pois não conhecia, até então, a chapa liderada pelo presidente eleito. Em menos de dez minutos, parte da base se reuniu e, de volta ao plenário, Deivison Costa (PTdoB) se colocou como cabeça de chapa, tendo Antônio Uchôa (PSL) e Welington Peixoto (Pros) como primeiro e segundo vice-presidentes; Felisberto Tavares (PT), Fábio Lima (PRTB), Paulo Magalhães (SD) e Tatiana como secretários.
No entanto, Uchôa, Felisberto e Fábio imediatamente retiraram seus nomes. Justificaram não terem sido consultados, além de destacarem que firmaram compromisso com Anselmo. Na corrida, o prefeito perdeu ainda o apoio de alguns fieis aliados: Mizair Lemes Jr. (PMDB), presidente metropolitano da sigla; o pastor Rogério Cruz (PRB), Edson Automóveis (PMN) e Jorge do Hugo (PSL). A iminente derrota (a essa altura mais de 20 haviam assinarado documento de apoio ao tucano, sendo que o mínimo para a eleição é 16), Deivison recuou, juntando-se ao blocão.
Denício Trindade (PMDB) também tentava se articular, mas no momento da apresentação das chapas afirmou que a base precisava reconhecer a falta de articulação e a inevitável derrota de seu grupo. Para ele, não houve erro, mas falhas no processo de construção de um nome competitivo, historicamente “complicado e disputado”. Segundo o peemedebista, os desgastes na apreciação do projeto do IPTU/ITU tiraram o foco da eleição. Presidente da Casa, Clécio Alves (PMDB) até tentou, em nova reunião, negociar com a base, mas sem sucesso, pois já não havia mais tempo para a apresentação de chapas.
Líder dos moderados, Zander Fábio (PSL) foi eleito primeiro-secretário. O vereador analisou que a tentativa da base em encaixar uma chapa às pressas demonstrou “desespero e falta de companheirismo, colocando os vereadores em situação difícil”. Outros cochichavam que a atitude de Deivison Costa foi uma “chacota” e um “estrago”.
E mudar o panorama antes do dia próximo dia 20, data limite para aprovação em segunda e última votação do aumento do IPTU/ITU, será fundamental ao prefeito. O sinal de fumaça foi dado por duas vezes nesta semana. O projeto foi retirado da pauta por duas vezes, mesmo com a redução do índice em 18% para 2015. Elias Vaz (PSB), que ficou na linha de frente das costuras da oposição, critica que Paulo Garcia não teve segurança para passar o projeto.
E quem quem deu conselhos aos vencedores foi o deputado eleito pela base de Marconi Perillo (PSDB) Santana Gomes (PSL). Figuras das mais caricatas do dia, ele dava seus pitacos entre um café e outro. Com a experiência de ter disputado duas eleições para presidente da Casa — ele foi fritado pelo ex-prefiro Iris Rezende (PMDB) duas vezes –, o ex-vereador percebeu que os aliados da prefeitura se sentiram rejeitados por Paulo Garcia. “O sentimento de grupo era muito forte. Nem se o Papa Francisco, a presidente Dilma Rousseff [PT] ou o governador ligassem, não ia alterar em nada.”
Por isso, sugeriu, o prefeito tem que pedir a Anselmo que faça trabalho de base para garantir governabilidade no próximo biênio. “Se não, nem projeto de mudança de nome de rua ele aprova”, concluiu. O novo presidente toma posse em 1º de janeiro.
Recuo de Welington Peixoto
Indicado pelo Bloco Moderado para disputar com Anselmo a preferência do blocão, Welington Peixoto justificou a retirada seu nome. O pedido partiu de Paulo Garcia, pois além de ser da base, Sebastião Peixoto, pai dele, é secretário Municipal de Turismo, Esporte e Lazer. Outro motivo que o influenciou foi o histórico que o concorrente tem na Câmara, pois o colega é o decano na Casa. São oito mandatos, que o permite circular pelos caminhos mais curtos do Poder Legislativo e ter mais facilidade de diálogo com os outros 34 parlamentares.
Para o parlamentar, o prefeito demonstrou falta de diálogo com seus aliados. Até supôs que o petista achava que tinha os vereadores “na mão”, mas se enganou. Ele disse que o chefe do Poder Executivo foi procurado várias vezes na tentativa de unir a base, ao longo de oito meses. E o que falou Paulo Garcia? Ainda é cedo. “Acredito que foi tarde demais, como no caso do reajuste do IPTU/ITU, onde falta comunicação.” Segundo Welington Peixoto, sua saída foi atendida pelo Bloco Moderado.
O vigiado e a interferência de Brasília
Por ser da base, Uchôa foi um dos mais vigiados durante as negociações. Quando saía da sala da Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ), o QG do confinamento, Zander o escoltava, na maioria das vezes abraçados. O aliado do prefeito relatou que o blocão teria sofrido pressão por parte do segmento religioso, para que os pastores evangélicos Fábio Lima, Rogério Cruz e Divino Rodrigues acompanhassem um candidato da prefeitura. De acordo com ele, Deivison Costa, também pastor, tentou lançar chapa, mas não conseguiu angariar componentes.
Quem ainda tentou articular uma candidatura de um nome do Paço Municipal foi o chefe de gabinete de Paulo Garcia, Olavo Noleto (PT). A atuação do petista foi vista pelo vereador como uma “interferência direto de Brasília”. É que Noleto era sub-chefe de Assuntos Federativos da presidente Dilma. “Ele tentou, viu que era tarde e jogou a toalha”, resumiu.
Estancar sangria
Primeiro vice-presidente da nova mesa, Tayrone di Marino (PT) adiantou que a intenção dos novos componentes não é a de prejudicar a gestão de Paulo Garcia. “Óbvio, que se tiver algo para votar contra, eu vou votar. Eu quero ajudar a cidade de Goiânia”, comentou.
O petista ainda classificou a falta de organização da base como imaturidade política. “Acharam que iam causar vaidade no nosso grupo, que estava definido. Mas em vez de apoio, conseguiram afastar os vereadores, que ficaram revoltados ao verem seus nomes inclusos na chapa sem autorização”, avaliou.