CD gravado em Recife é o segundo do grupo e será apresentado na capital goiana no dia 15 de abril 

Passarinhos do Cerrado | Foto: Ney Couteiro
Passarinhos do Cerrado | Foto: Ney Couteiro

O grupo goiano de coco Passarinhos do Cerrado vai lançar seu segundo CD, Origens, na sexta-feira (15/4) no Martim Cererê, em Goiânia.

O lançamento faz parte das comemorações de 10 anos do grupo, que ainda contará com a gravação de seu primeiro DVD em julho. O disco também será lançado no dia 1º de maio durante a festa Terreirada em Brasília. A festa em Goiânia ainda terá apresentação do grupo Maracatu Alto Riviera e discotecagem do DJ Macambira.

Após 10 anos nos palcos, a banda Passarinhos do Cerrado, formada por Bruna Junqueira, Cléber Reizim, Milca Francielle, Nádia Junqueira e Rodrigo Kaverna, encontrou no álbum “Origens”, um meio de resgatar e expor suas raízes. Recheada de participações especiais, não lhe faltaram companhias oriundas de Pernambuco e de Goiás, mostrando que apesar dos pés no Cerrado, os sons nordestinos não lhe escapam dos ouvidos.

Este segundo disco é um trabalho feito a muitas mãos, contam. Começa pelo financiamento: além da verba da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, o grupo recebeu mais de R$20 mil captados por meio de financiamento coletivo pela internet. Mais de 200 pessoas apoiaram a campanha #EuQueroOrigens e viabilizaram a gravação em Recife, Pernambuco.

O CD foi gravado e mixado no Fábrica Estúdio e masterizado no Estúdio Unimaster, ambos em Recife, no segundo semestre de 2015. A oportunidade de realizar este trabalho na terra do coco proporcionou a produção artística assinada por Juliano Holanda e participações especiais de peso, como Siba, A Matinada, Bongar e Lucas dos Prazeres. Juliano Holanda, que também é músico da Orquestra Contemporânea de Olinda, é arranjador, instrumentista e compositor de mais de 100 músicas gravadas.

O outro pé do grupo, contudo, está bem enraizado em Goiás. O CD também conta com as participações de indígenas da etnia Krahô, da Congada Santa Efigênia, de Niquelândia, dos barulhos dos carros de bois de Mestre Reis (Damolândia) e de membros do projeto Ninho Cultural. As violas caipiras goianas também foram registradas no disco pelas mãos de Pedro Vaz e Diego Lobo.

O primeiro CD do grupo, Coco de Folia, gravado em 2011, já registrava a ousadia empreendida pelo Passarinhos do Cerrado: misturar o coco nordestino com a identidade cultural e musical goiana.

O resultado foi a criação do ritmo Coco de Folia, que começou desenhando uma nova batida, com um tipo de melodia e de letras e uma nova forma de canto. As influências da Congada e da Folia de Reis, sobretudo, estão presentes nesta criação. Esta identidade é consolidada neste novo álbum, em que o trabalho tem claramente um pé no Nordeste, no ritmo coco, nas influências afro-indígenas e outro no coração do Cerrado.

Origens

origens

O CD conta com 13 faixas, todas autorais assinadas por Rodrigo Kaverna. O nome que leva o álbum reflete a proposta deste trabalho. As canções remetem às origens, não só do compositor, como do grupo, da música feita por ele e do povo goiano. Por isso a presença de torés indígenas em quatro faixas (Folha Amarela, Primeiros a Chegar, Toré Acirandado, Toré de Abertura/Origens), expressando as origens de Kaverna, bisneto de Avá Canoeiro, e de Goiás.

Essas músicas não são apenas memória aos ancestrais, mas uma forma de resistência dessa cultura viva e latente, apesar do genocídio que faz hoje de Goiás um dos estados com menor número de indígenas do Brasil atualmente.

As origens dos goianos, do grupo e de Kaverna também estão expressas nas canções Damolândia, Viola de Violeiro, Coco da Xambá e Bandeira do Divino. As tradições goianas estão registradas neste disco no som dos carros de boi do Mestre Reis, nas violas e nas batidas da Folia de Reis, na congada de Santa Efigênia e na referência ao maior quilombo do Brasil, os Kalunga, em Cavalcante.

A relação da arte com a natureza, característica do grupo, também está presente nesse CD nas canções Pica Pau, Udu de Coroa Azul e Cachoeira. A diversidade cultural, exaltada pelo grupo, é estampada através da riqueza de detalhes em cores e padrões pintados em aquarela na arte do disco, assinada por Luana Santa Brígida.

Entrelaçada por troncos tortuosos, a mata fechada enaltece a rica biodiversidade brasileira com variadas espécies vegetais como: buriti, ipê amarelo, caliandra do cerrado, chuveirinho, mandacaru e coroa de frade.

O conjunto total de 20 espécies de aves é distribuído em todo o encarte. Sendo na área interna: caboclinho, fim fim, udu de coroa azul, cardeal do nordeste, acauã, canarinho verdadeiro, maracanã, tico tico, surucuá, coruja buraqueira, pica pau de banda branca, bem te vi, gralha cancã, andorinha do campo e beija flor vermelho. E nas capas: tucanuçu, periquito rei, campainha azul, saira amarela e seriema.

10 anos

A história do grupo começa na praça universitária com um grupo de jovens a fim de fazer música regional e tradicional. Os dois primeiros anos do grupo são marcados pela presença de dezenas de membros e pelo trabalho de ciranda e cantiga de rodas. Até então, as mulheres cantavam e dançavam e os homens tocavam. Até que Rodrigo Kaverna descobre o coco.

O ritmo nordestino se tornou conhecido pelo grupo através de pesquisas de Kaverna na internet. A ideia, inicialmente, era ter uma nova forma de trabalho que fosse mais fácil de ser tocado em bares, por exemplo, para que o grupo conseguisse uma renda para financiar o projeto de cirandas e cantigas. Bastou o primeiro show, no dia 4 de abril de 2008, para que o coco se tornasse o foco principal e paixão do grupo.

Meses depois o grupo já tocava composições próprias e foi em julho deste mesmo ano, no Encontro de Cultura dos Povos da Chapada, que o grupo conheceu um dos grupos que era referência para o Passarinhos. Pandeiro do Mestre também tocava no festival e foi o primeiro contato com quem faz coco em Pernambuco.

Esse contato proporcionou ao grupo ter acesso aos instrumentos apropriados para tocar coco e conhecer melhor o ritmo – como se toca e se dança. Foi o próprio Nilton quem voltou em 2011 para Goiânia para assinar a produção do primeiro disco: Coco de Folia.

Em 2009 o grupo vai a Pernambuco conhecer de perto o carnaval e o coco. Ali tem contato com outros artistas e grupos que vieram a se tornar parceiros nos anos seguintes, como Coco Raízes de Arcoverde. Uma ponte foi feita a partir daí e um novo processo começa em Goiás: a formação de público.

Hoje, são centenas de pessoas que pisam o coco, aquele ritmo outrora estranho, que se pisa sempre o pé direito. Passarinhos viabilizou a vinda de Coco Raízes de Arcoverde, Renata Rosa, Adiel Luna e Bongar.

Desde 2006, o grupo tocou em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Recife, Arcoverde e dezenas de cidades goianas. Participou, por mais de uma vez, dos principais festivais goianos: Vaca Amarela, Goiânia Noise, Encontro de Culturas Tradicionais dos Povos da Chapada, FICA e Canto da Primavera. Também participou do festival Lula Calixto (PE), Encontro de Culturas Populares (DF) e Festival Mundial de Juventude, na África do Sul.

Por duas vezes circulou escolas públicas fazendo oficinas e apresentações financiado pela Lei Municipal de Incentivo (2010) e Goyazes (2013). Na primeira ocasião, apresentaram o musical a Peleja da Menina que Caiu em Conversa de Passarinho. O grupo ainda gravou seu primeiro disco, também financiado pela Goyazes, em 2011. Em 2015, aprovou seu primeiro projeto no Fundo Estadual de Cultura: a gravação de um DVD, que deve acontecer em julho.

10 anos do grupo Passarinhos do Cerrado – lançamento do CD “Origens”
Data: 15/4 (sexta-feira)
Local: Martim Cererê, Setor Sul
Horário: 22 horas
Discotecagem Dj Macambira e Show com Maracatu Alto do Riviera
Preço: R$10 até meia noite