Parlamentares que voaram pela Globo Aviação alegaram desconhecer ilegalidades. Empresa acusada e Anac não se posicionaram

A senadora Lúcia Vânia (PSB), o deputado Marcos Abrão (PPS) e o pré-candidato Daniel Vilela (MDB) foram clientes de empresa que opera com voos e aviões irregulares. Os dois primeiros são parentes dos proprietários da companhia | Montagem: Reprodução

Depois da denúncia feita pelo site The Intercept, alegando que a empresa Globo Aviações, de propriedade das empresárias goianas e irmãs Ana Flávia Azeredo Coutinho Abrão Siqueira e Alessandra Azeredo Coutinho Abrão, opera voos com aviões irregulares, o Jornal Opção decidiu ouvir alguns dos envolvidos no caso.

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O caso envolve, além das proprietárias, filhas do ex-deputado federal Pedro Abrão Júnior, a senadora Lúcia Vânia (PSB) que teria contratado o serviço de táxi-aéreo da família diversas vezes no ano passado, pagando cerca de R$ 70 mil em voos, de acordo com a sua prestação de contas. Lúcia é prima das empresárias.

Além dela, seu sobrinho e deputado federal Marcos Abrão (PPS) e o deputado federal e pré-candidato a governador, Daniel Vilela (MDB) também seriam clientes da empresa. O primeiro teria utilizado os serviços e pago cerca de R$8.800, já Vilela teria gastado mais de R$ 44 mil com os voos. Uma das aeronaves usadas pelo emedebista, inclusive, não tinha autorização para fazer táxi aéreo, pois o bimotor estava sem permissão para voar.

Lúcia Vânia, apesar de ser da família dos proprietários da empresa, pareceu surpresa e disse que só contratava os serviços por serem os mais baratos. “Não conheço nenhuma irregularidade cometida e eles [Globo Aviação] sempre emitiram notas fiscais regularmente, tudo dentro dos conformes”, informou.

O deputado Marcos Abrão alegou que usou pouco os serviços da empresa e seguiu o que disse Lúcia Vânia: que contratou em razão do menor custo cobrado pelos serviços e que nunca teve conhecimento da prática de atividades ilegais ou de qualquer outra irregularidade por parte da companhia.

“Percorro os municípios do estado de Goiás de carro próprio e os vôos contratados, tanto da Globo Aviação quanto de outras empresas, que só aconteceram para possibilitar o cumprimento de compromissos em menor tempo, garantindo minha assiduidade nas sessões plenárias da Câmara dos Deputados”, assegurou.

Daniel Vilela, por sua vez, afirmou que nunca teve conhecimento das informações citadas pela reportagem e que também contratou os serviços da empresa por ela oferecer o preço mais baixo do mercado, como mandam as boas práticas do setor público.

“Quem tem a atribuição de fiscalizar e autorizar ou não o funcionamento de companhias de táxi aéreo é a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Jogar para o locatário a responsabilidade por desempenhar esse papel seria o mesmo que cobrar do usuário do Uber que investigasse se o carro que ele chamou está com o IPVA pago e com e as revisões em dia, o que é impraticável”, declarou o emedebista.

O Jornal Opção falou com a Anac, mas a agência informou que ainda está apurando os fatos sobre o ocorrido e não respondeu à solicitação de informações até a publicação desta matéria.

A reportagem também tentou entrar em contato com a Globo Aviação, mas não conseguiu falar com nenhuma das proprietárias citadas, nem obteve retorno da empresa até a publicação dessa matéria.

O problema

Segundo o The Intercept, a Globo Aviação cobraria valores até 50% mais baratos do que outras companhias. Isso porque, a empresa trabalhava com aviões que não poderiam ser alugados para transportar passageiros por estarem em situação irregular, ou seja, ilegal e sem liberação da Anac. Cenário que oferece riscos à quem utiliza as aeronaves.

A modalidade possui até nome. Taca é o apelido dado à voos fretados de forma ilegal no Brasil. Segundo o site que denunciou o caso, enquanto um voo regular custa em torno de R$2.400 por hora, o pirata sai por R$1.700, cerca de 30% a menos, às vezes, até mais.

O The Intercept mostrou uma série de notas fiscais e documentos comprovando a irregularidade das aeronaves utilizadas. Descobrindo, até mesmo, que um dos aviões envolvidos fez um pouso forçado em São Luís de Montes Belos e que, na ocasião, um dos passageiros era o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás, José Mário Schreiner.