Para especialistas, a previsão é positiva para economia no segundo semestre; o problema é a desigualdade social
23 junho 2021 às 14h00
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Economistas insistem que reformas se fazem necessárias e dizem que a retomada da atividade econômica está atrelada a imunização contra a Covid-19
Com menor fechamento desde 10 de junho de 2020, nesta terça-feira, o dólar recua e atinge valor abaixo de R$ 5, nesta terça-feira. Cotada a R$ 4,9661, o recuo da moeda americana durante este período foi de 1,12%. Já a bolsa de valores brasileira, a B3, que também fechou em queda, recuou 0,38%, a 128.767 pontos.
Em face do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que no último trimestre apresentou crescimento de 1,2, sendo 0,2% a mais que o mesmo período em 2020, a economista e analista de mercado, Greice Guerra, observa este cenário com uma visão otimista. “Existe um cenário de melhora para o segundo semestre. A nível econômico estamos no caminho certo”, afirmou.
“Considerando o que passamos no ano passado, com tantos fechamentos, desemprego, preço do petróleo negativo, com interrupção na produção, vejo esse resultado de forma positiva. Existe uma perspectiva de melhora paro segundo semestre. Pode haver uma melhora, mesmo com a Selic elevada”, pontou a economista. Isso, porque na última semana, com a elevação de juros básicos da economia em 0,75 ponto percentual pelo Banco Central (BC), a taxa Selic apresentou alta de de 3,5% para 4,25% ao ano.
Greice ainda ressaltou, no entanto, que apesar dos bons resultados, o país ainda enfrenta uma alta inflação e uma “possível crise hídrica que pode eclodir na elevação de preços e impactar na inflação”. “A pressão inflacionaria em cima das comodities está muito grande. Acredito que a Selic chega até dezembro em 6%. Com o aumento do preço das comodities aumenta, o mercado de capitais também aumenta e a taxa cambial tende a cair. Inclusive, há uma tendencia que até o fim do ano a taxa cambial caia mais. Com a elevação da Selic, elevação de preços, o dólar cai. A variação cambial cai, mas não a um patamar ideal”, explica Greice.
Concomitantemente, de modo geral, para o economista Walter Marin, o cenário econômico brasileiro, que inevitavelmente, se relaciona com o político e social, se encontra preocupante. Para ele, a curto prazo, a economia apresenta boas reações, fazendo com que haja boas projeções para o segundo semestre de 2021. No entanto, o problema se encontra a longo prazo.
“Nosso maior problema hoje é a desigualdade social e isso está atrelado a concentração política. Não se está construindo o futuro, não temos uma reforma tributária com uma tributação justa para construir esse futuro. Esse é um governo que não tem projeto na perspectiva de crescimento e justiça social”, diz.
Para ele, o sistema capitalista, que é significativo quanto ao aumento de eficiência e produtividade, por estimular a elevação motivada pelo lucro, também tem uma grande capacidade de gerar desigualdade social. “Esse é o ponto onde o Estado precisa entrar, aumentando esse processo de distribuição, com uma forma de tributação, e para romper com esse processo, é preciso ter uma reforma tributária, política, administrativa para reestruturar esses ganhos. Precisamos de um sistema tributário mais justo. Hoje rico no brasil não paga imposto. Quando você melhora a distribuição de renda, faz a economia crescer”, avaliou o economista.
A curto prazo, Greice explica que com a tendência da diminuição da pressão inflacionária em cima das commodities e dos produtos indexados ao dólar, a partir da queda de preço da própria moeda americana, será possível ter uma Selic estagnada ou menor em 2022. “Isso significa menos inflação. “Mas a economia tem que caminhar, e ela está atrelada ao avanço da vacinação, que precisa continuar e, de preferência, mais rapidamente. A retomada econômica está indexada à imunização da população”, enfatizou a analista de mercado.
A justificativa isso, para a economista, é que com está na grande crise econômica gerada no país gerada pela pandemia. “Quando o Guedes assumiu, com sua agenda liberal, havia a possibilidade de um crescimento econômico. Em 2019 a previsão de crescimento para 2020 era em até 3%. O mercado inclusive estava animado. Ele vinha com as reformas essenciais que ainda precisam ser aprovadas, mas fomos surpreendidos pela pandemia. Se não fosse a pandemia, acredito que ele estaria no caminho certo. Não sou a favor de 100% de privatização, porque o governo tem que comparecer com a parte dele, mas a privatização quando é colocada de forma responsável tem impactos positivos”, opina a Greice.