Para deputados federais, saída de Moro é início do fim de Bolsonaro
24 abril 2020 às 14h33
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Em entrevista ao Jornal Opção, deputados federais delegado Waldir Soares (PSL) e José Nelto (Pode) afirmam que demissão de diretor da PF foi motivada por investigações contra a família Bolsonaro e que Congresso deve trabalhar pelo impeachment do presidente
Após a confirmação da saída do ministro Sergio Moro do Ministério da Justiça, deputados federais avaliaram a situação do governo federal. Com intensos desentendimentos entre o presidente da República Jair Bolsonaro (Sem partido) e gestores nomeados por ele próprio, pouco mais de um ano após assumir como chefe de Estado, Bolsonaro parece perder o controle do Planalto.
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Para o deputado federal delegado Waldir Soares (PSL), que foi grande apoiador durante a sua campanha, mas que rompeu com o presidente no ano passado e o chamou de “vagabundo”, esse é o fim para Bolsonaro. “Fim de carreira para o presidente. Ele chegou ao fundo do poço. Traiu a nação, traiu os amigos, as pessoas que confiaram nele, depositaram voto nele, trabalharam para ele. Ele traiu todas essas pessoas”, desabafou ao Jornal Opção.
Quando assumiu postura contra o presidente da República, Waldir também ganhou muitos opositores de seu mandato, admiradores de Bolsonaro que se voltaram, especialmente nas redes sociais, contra ele. Hoje, depois de todo desgaste do governo, o parlamentar diz que recebe pedidos de desculpas. “Fico extremamente feliz. Hoje, nas minhas redes sociais, tive dezenas de pedidos de desculpas, porque eu sempre falava a verdade. Foi uma grande decepção de grande parte dos eleitores do presidente Bolsonaro. Tive a felicidade de receber dezenas de pedidos de desculpas. Eu sempre estive falando a verdade. Fiz publicações sobre o coronavírus, dizendo que o Moro ia sair, e muitas pessoas vieram dizendo nas minhas redes sociais que era fake news. Eles se equivocaram e fico feliz com a humildade de muitas pessoas reconhecendo.”
Investigações
De acordo com ele, a demissão do diretor da Polícia Federal, Maurício Valeixo, passando por cima da autoridade de Moro, teve motivações mais obscuras. Ao anunciar a saída do cargo, o ex-ministro da Justiça questionou por diversas vezes, durante coletiva, quais razões teria o presidente para exonerar alguém que estaria exercendo bem sua função.
“Com certeza [investigações relacionadas à família Bolsonaro teriam motivado a demissão]. É extremamente tranquilo que o inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) iria apontar os dois filhos do presidente, o Eduardo e o Carlos Bolsonaro, como líderes da facção criminosa que comanda ataques às pessoas, contra a honra das pessoas, com certeza iria chegar nele”, afirmou o parlamentar, líder do PSL na Câmara.
“Nós estávamos chegando na CPI das Fake News. Esse inquérito com certeza afetou o presidente que saberia que isso ia chegar nele. Há uma descoberta a poucos dias do assessor do Eduardo Guimarães, lotado no gabinete do Eduardo Bolsonaro, que criou grande pavor, pânico no presidente da República e no próprio Eduardo Bolsonaro, que entrou com várias medidas judiciais para tentar impedir o andamento da CPMI. Não conseguiu”, informou Waldir.
“E os avanços das investigações no Rio de Janeiro em relação a rachadinha, que o outro filho dele fazia, o Flávio Bolsonaro. A questão do Eduardo ter a nova investigação sobre ele ter sido funcionário fantasma da Câmara Federal. São vários fatos que ensejam o presidente tentar interferir na Polícia Federal indicando pessoas com uma certa política, o que a lei não permite, para tentar parar todas as investigações”, falou o delegado.
O deputado federal José Nelto (Pode) também concorda com as afirmações de Waldir. Para ele, o presidente está intimidado com as investigações das Fake News. “E do Flávio Bolsonaro também nas rachadinhas. O Congresso Nacional vai ter que agir junto com o STF e as Forças Armadas . O presidente está desorientado e deixando o país sem rumo”, afirmou.
Impeachment possível
Para Nelto, Jair Bolsonaro colocou o país na situação política mais conturbada das últimas décadas. “Vivemos talvez um dos períodos mais conturbados da República. Pior do que a crise de Getulio Vargas quando suicidou e do impeachment de Collor e Dilma. As denúncias sérias e serenas de uma brasileiro, juiz respeitado internacionalmente, quando o presidente quer ter acesso a inquéritos, isso é atitude de déspota, de ditador que não sabe o que é democracia. Querer ter acesso a vida das pessoas, interferir na democracia. essa denuncia é gravíssima. Só falta demitir o presidente do Banco Central para ter acesso a taxa do Copom” afirmou.
Segundo o deputado do Podemos, não faltam motivos que justifiquem o impedimento do presidente. “Não tenho a menor dúvida, o presidente esta desorientado, ele ataca a democracia. Tudo que esta sendo feito, as fake news contra o Congresso são feitas por orientação dele juntamente com seus filhos”, falou.
Waldir também corrobora com a opinião de que o presidente é pouco democrático e deveria ser afastado. “Existem graves indícios de crimes de responsabilidade, interferência política na Polícia Federal. Sem dúvida nenhuma temos alguns requisitos e, com certeza, receberemos alguns pedidos de afastamento do presidente que serão analisados com muito carinho, uma vez que o doutor Sergio Moro mencionou na sua fala a pouco, teríamos razões para um afastamento do presidente”, afirmou o deputado federal, líder do PSL na Câmara.
“Na verdade, ano passado quando chamei o presidente de vagabundo, eu mencionei que o Moro não ficaria no governo. Tudo aquilo que eu falei naquele período, hoje nós temos a comprovação. O presidente da República trai seus eleitores e mostra que não é uma pessoa confiável”, disse o parlamentar.