Para crítico da CBN Brasil e curador do Festival de Gramado, Fica é janela do mundo para documentaristas
30 maio 2014 às 17h47
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Especialistas em cinema, Marcos Petrucelli e Marcos Santuario comentam relevância das mostras e do festival: evento é oportunidade para reflexão
A programação de debates e mostras do 16° Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) na cidade de Goiás está sendo observado pela imprensa nacional pela pluralidade de temas abordados dentro da temática do meio ambiente e por conta da variedade de países de origem dos realizadores. Por isso, o Jornal Opção Online resolveu apurar nesta sexta-feira (30/5) quais são as impressões de dois especialistas da sétima arte a respeito do evento.
Os entrevistados são xarás: Marcos Petrucelli, comentarista da CBN Brasil, que comanda o quadro Sala de Cinema de segunda a sexta-feira na emissora de rádio. O outro é Marcos Santuario, doutor em comunicação e professor da Universidade Feevale (Federação de Estabelecimentos de Ensino Superior em Novo Hamburgo), na Região Metropolitana de Porto Alegre (RS). Críticos de cinema e jornalistas, ambos têm em comum acordo que o Fica é a porta para o mundo para a exibição de filmes.
Petrucelli havia adiantado na semana passada na CBN que estaria na cidade para participar do festival. O comentarista foi à abertura oficial e conferiu o primeiro dia da mostra competitiva. Como destaques ele citou à reportagem os longas-metragem Refugiados en su Tierra (Refugiados em sua Própria Terra, de 2013), da Argentina, e Ekspeditionen Til Verdens Ende (Expedição para o Fim do Mundo, de 2013). O último tem produção associada entre Alemanha, Dinamarca, Noruega, Reino Unido e Suécia, e foi escrito e dirigido por Daniel Dencik. O documentário acompanha um grupo de cientistas, geólogos, filósofos, artistas, como músicos e fotógrafos que vão ao Nordeste da Groelândia, um local gelado e inóspito.
Ao longo de 1h30, cada um dos personagens relata suas impressões de acordo com suas áreas de formação e atuação. Como, por exemplo, o ambiente pode render boas fotos ou a atmosfera fria inspira a criação de novas canções. Em sua análise, Petrucelli disse que apesar de ser um documentário, o filme estrangeiro consegue expressar um clima dramático e de suspense. Outro ponto positivo foi a trilha sonora, bastante musical.
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Ao falar sobre os filmes goianos para o Jornal Opção Online, o elogio dele foi para o curta-metragem Dergo! (2013), dirigido por Ricardo Alvez, estudante de Cinema e Audiovisual na Universidade Estadual de Goiás (UEG), na Unidade Universitária Laranjeiras, em Goiânia. Mantidas as proporções técnicas – é importante lembrar que o vídeo foi gravado com um celular –, o crítico afirmou que o jovem diretor conseguiu atingir o objetivo.
Para Petrucelli, foi fundamental acompanhar o debate entre parte de um grupo de cineastas que concorrem no festival na última quinta-feira (29). Na conversa, Alvez informou ao público que construiu uma relação de confiança com os filmados, inclusive emprestando o aparelho para registro. Dergo! mostra de forma impactante a situação de crianças e jovens usuários crack no Terminal do Dergo, por onde passa o Eixo Anhanguera, em Goiânia. O diretor capturou as imagens no período em que trabalhou como cobrador na estação. Na mostra, o vídeo fez muitos presentes se contorcerem e se ajeitarem nas poltronas devido a algumas cenas de agressão física.
A premissa da realização, pontuou o comentarista, é genial. “Se o conjunto da obra é perfeita, maravilha. Se não, tem que buscar uma maneira de financiar [a produção]. Ter um cineasta com uma boa ideia é o mais importante”, avaliou, completando que o raciocínio e a observação mostram que o estudante da UEG pode ser uma promessa. O filme foi selecionado e exibido durante o Goiânia Mostra Curtas e na IV Mostra de Audiovisual da universidade, ambos em 2013. Petrucelli ainda listou no quadro o curta Ainda Que se Movam os Trens (2013), de 10 minutos, e citou os nomes dos irmãos Henrique e Marcela Borela, que ao lado de Vinícius Berger dirigiram a ficção, também de Goiás.
Outro ponto de elogios foi a 1ª Mostra Infantil – Fica Animado, que teve recorde de público de todas as edições do Fica. Foram 900 crianças de 15 escolas da cidade de Goiás. As exibições ocorreram no Cinemão e o filme de abertura foi O Menino e o Mundo (2014), de Alê Abreu (veja trailer).
Curador do Festival de Cinema de Gramado, que terá sua 46ª edição em agosto no Rio Grande do Sul, Santuario lamentou que chegou quinta-feira na cidade de Goiás e não teve oportunidade de assistir nenhum filme. No entanto, de modo geral, comentou que é a primeira vez que vem ao Fica, apesar de já ter sido convidado para participar em outras edições. É que a agenda do evento goiano sempre chocou com outras competições.
Dizendo que viaja o Brasil para ver outras mostras, Santuario, jornalista especializado do Correio do Povo, de Porto Alegre, falou que deixou de ir a outros festivais para vir à antiga Vila Boa neste ano. “Comecei a me interessar muito mais por estar aqui em função da temática global, que o mundo já despertou para ela. Me parece que o Brasil desperta atrasado para o assunto, mas [o Estado de] Goiás dá um passo enorme para um lugar aonde esse tipo de cinema seja representado em todos os lugares”, contextualizou.
Além das projeções em tela, o curador destacou a possibilidade de as pessoas se aprofundarem no tema ambiental por meio de toda a riqueza ao redor do evento, o que diferencia o Fica de outros festivais. “Os outros permitem apenas a imersão cinematográfica. [No Fica] Todo filme que tiver a ver com o meio ambiente, seja feito com a tecnologia de filmagem mais avançada ou com celulares, terá espaço. Isso é genial!”, reconheceu. Para o professor, o interessante é a segurança que a temática repassa para que as realizações possam participar das mostras. Isso, pontuou, não limita os produtores a se inscreverem se preocupando tanto com os critérios cinematográficos, ao passo que esse desapego pode interferir na escolha dos jurados pela premiação ou não.
Especificamente sobre o Fica, Petrucelli ressaltou que o evento propõe a discussão e funciona como uma janela para o material audiovisual goiano, nacional e internacional. O espaço para a reflexão das pessoas a respeito do meio ambiente é importante, segundo listou.
Já Santuario revela ainda que está entusiasmado por estar no Fica e acredita que, pela programação,espera ver na tela do Cine Teatro São Joaquim (onde ocorrem as mostras competitivas e da Associação Brasileira de Documentaristas em Goiás) o que o mundo está observando e está querendo realizar. O que chama a atenção dele, conforme adiantou, é o encontro com Amyr Klink no fórum ambiental Sustentabilidade – Um Caminho Ainda a ser Buscado, marcado para as 17h, no Convento do Rosário.
Klink é de São Paulo, empreende expedições marítimas e desenvolve plano diretores para cidades costeiras em litorais, além de ser escritor. Em 1984, fez a primeira travessia sozinho a remo do Atlântico Sul, narrada no livro Cem Dias Entre o Céu e o Mar.