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Com o nascer do sol, há quem troque o despertador pelo canto da gralha-do-campo e o café corrido por um passeio sem pressa entre trilhas e galhos. Em Goiânia e arredores, “passarinhar” — termo carinhosamente usado por observadores de aves — tem se tornado um hábito silencioso, porém crescente. Para os iniciados na prática, cada voo, cada canto e cada cor guardam histórias únicas. Para os curiosos de primeira viagem, é um convite a enxergar a cidade por outro ângulo: o das árvores, dos céus e dos olhos atentos.

O birdwatching, como é chamado internacionalmente, já move milhares de pessoas ao redor do mundo — mais de 100 milhões. Só no Brasil, são pelo menos 100 mil observadores regulares, segundo o Ministério do Turismo. O Cerrado, com sua paisagem diversa e cheia de contrastes, tem ganhado lugar de destaque nesse cenário. E em Goiânia, há mais opções do que se imagina para quem quer começar — ou continuar — a observar pássaros sem sair da região metropolitana.

O Jornal Opção selecionou cinco lugares onde a vida alada do Cerrado pode ser apreciada de perto. Leve binóculos, um caderno de anotações e, sobretudo, tempo. A pressa não combina com o voo.

A professora, ambientalista e educadora ambiental, Kennia Mariela, explicou que espécies urbanas e até mesmo migratórias, que às vezes fazem das árvores de parques pontos de pouso. “A gente tem os parques, os que estão dentro de Goiânia mesmo, igual o Parque Flamboyant, o Parque Areião, o Bosque dos Buritis, o Parque Cascavel, Jardim Botânico. Entre esses mais seguros é o Parque Flamboyant, Areião e o Parque Cascavel”, recomenda Kennia ao Jornal Opção.

Professora, ambientalista e educadora ambiental, Kennia Mariela | Foto: Arquivo

Ela contou que, recentemente, um colega encontrou uma rara garça-real no Parque Cascavel, diferente da garça-branca-grande, que está sempre acompanhando os passeios de todo mundo nos lagos dos parques. “Além das espécies que frequentam esses parques, que são as mais comuns, há muitas aves que as pessoas não conhecem: chocas, arapaçus — que muitos acham que são todos pica-paus —, chora-chuva, pretos, algumas corujas, como a coruja-orelhuda, a Tyto furcata, que é aquela coruja das igrejas, também conhecida como rasga-mortalha”, explica Kennia Mariela.


1. Piscicultura Frutos D’Água

Chácaras de Recreio Samambaia, em Goiânia | Foto: Maps

Quem diria que entre tanques de criação de peixes se esconderia um dos recantos favoritos de aves aquáticas? A Frutos D’Água, na zona rural de Goiânia, reúne espelhos d’água, vegetação nativa e silêncio — os ingredientes certos para garças, biguás e martins-pescadores se sentirem em casa.

O local é aberto a visitas agendadas e tem sido usado inclusive para eventos de educação ambiental. Além das aves, é comum encontrar famílias de capivaras, borboletas coloridas e pequenos mamíferos típicos da região. Um santuário disfarçado de fazenda.


2. Parque Lagoa da Vagem Bonita

Proximidades do Campus da UFG | Foto: Euler de França Belém/Jornal Opção

Pouco conhecido, esse parque no setor Jardim Botânico é um exemplo de como a natureza resiste até mesmo em meio ao concreto. Com uma lagoa permanente e matas ciliares bem preservadas, o local atrai aves aquáticas, passeriformes e migratórias.

É comum avistar saracuras, frangos-d’água e até o discreto socozinho esgueirando-se entre os juncos. O parque tem trilhas curtas e é ideal para quem está começando na prática de birdwatching. A luz da tarde deixa o cenário ainda mais acolhedor.


3. Reservas Ambientais da UFG

Reservas da UFG em Goiânia | Foto: Maps

No entorno do campus da Universidade Federal de Goiás, no norte da capital, há trilhas em áreas de Cerrado protegido que servem de abrigo a uma diversidade surpreendente de aves. As reservas da UFG são utilizadas para pesquisa científica, mas também recebem visitantes interessados na vida selvagem.

O ambiente abriga espécies endêmicas do Cerrado, como o papa-moscas-do-campo e o tapaculo-do-planalto. Em certos dias, o canto do arapaçu-rajado ou o voo rasante do gavião-caramujeiro fazem lembrar que, mesmo no perímetro urbano, a natureza ainda tem espaço para respirar.


4. Várzea do Rio Meia Ponte

Várzea do Meia Ponte | Foto: Divulgação/Governo de Goiás

Apesar dos desafios ambientais que o cercam, o Rio Meia Ponte guarda belezas discretas em suas margens. As várzeas, especialmente nos trechos menos urbanizados, formam um mosaico de habitats que atraem desde pequenas aves canoras até espécies maiores como o jaó e a seriema.

Ao longo do rio, áreas como o Parque Areião e regiões ao sul da cidade oferecem trechos ideais para observação. Ali, a cidade desacelera, e o canto dos pássaros se sobrepõe ao som dos carros. É uma espécie de reencontro com o que a cidade esqueceu.


5. Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco

Parque Altamiro de Moura Pacheco | Foto: Divulgação

Um pouco além do perímetro urbano, o Parque Altamiro de Moura Pacheco, localizado entre Goiânia e Anápolis, é uma verdadeira cápsula do tempo. Seus mais de 2 mil hectares de vegetação nativa abrigam inúmeras espécies de aves do Cerrado. É o local perfeito para quem quer combinar trilhas mais longas com a chance de ver espécies raras.

Entre os galhos das árvores ou sobre as veredas de buritis, é possível ouvir o canto do surucuá-de-barriga-vermelha ou ver, com sorte, o voo majestoso de uma águia-cinzenta. O parque também é sede de atividades educativas e recebe, com frequência, grupos de observadores.

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