Conheça o belo Parque Lagoa Vargem Bonita e seus pássaros e árvores. Fica em Goiânia

29 maio 2023 às 16h27


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À primeira vista, todos os parques se parecem — são irmãos. Há muito verde, alguma secura, aqui e ali. Há pássaros — de espécies variadas. Assim como árvores, flores. Porém, cada parque tem sua identidade e os habitués percebem isto, de cara. Sua beleza existe, mas o que a firma é o olhar do indivíduo que sabe desfrutá-la. Os parques, com suas florestas e descampados, são mais do que mato — são vivos.


Goiânia tem vários parques. Os mais conhecidos são o Vaca Brava, o Areião e o Flamboyant. São os, digamos, mais visíveis. Mas há aqueles que ficam nas cercanias da capital, como o Parque Altamiro de Moura Pacheco e o Parque Lagoa Vargem Bonita.
Estive três vezes no Lagoa Vargem Bonita, nas proximidades do Campus da Universidade Federal de Goiás (UFG). O dicionário informa que vargem é “planície fértil dedicada ao cultivo; terreno plano e fértil situado na margem de um rio”.


Há mesmo, como sugere o nome do parque, uma lagoa no Vargem Bonita. Há muito capim nas águas (limpíssimas), o que parece reduzir seu tamanho. Há peixes, não muito grandes. Cheguei a fotografar alguns. Seriam piabas? Seriam corrós?
Por causa da lagoa, de suas águas límpidas, é possível ver patos, garças e tapicurus (socós-pretos ou socós-do-brejo). Vi uma garça e dois tapicurus, que parecem interessados em acasalamento. O casal fica perto de uma parte da lagoa onde há dezenas de peixes. Parece morar lá. Porque, em duas visitas ao parque, os vi no mesmo lugar. Aliás, na primeira vez, vi apenas um. Agora, no domingo, 28, vi dois — a fêmea e o macho.


Tapicuru na lagoa
Leio na internet que o tapicuru se alimenta de “crustáceos, moluscos e matéria vegetal, como folhas e sementes, que procura em água rasa”. De fato, no local, a água é rasa. Os que vi circulando pela lagoa estariam interessados em peixes, nas piabinhas?
Voltemos ao início… do parque. Para entrar há uma “cancela”, digamos assim. Há um pequeno parque de diversões para crianças e balanço. Wanderson, dono de um supermercado e um dos voluntários que cuidam, com desvelo, do parque, informa que o parque ganhou um escorregador. Crianças da região jogam bola, anunciando-se como Neymar e Gabigol, se ouvi bem. Pergunto qual é o craque? Todos apontam o dedo para si, rindo.


Wanderson é um desses sábios naturais. Ele diz, com razão, que, no lugar de plantar duas mil árvores, a Prefeitura de Goiânia deveria plantar 200 e “monitorá-las”. Quer dizer, é melhor cuidar realmente de duzentas árvores, que irão sobreviver, do que de milhares que vão, por vezes, morrer.
Na entrada do parque, um angico nos dá boas-vindas, com suas folhas balançando ao sabor do vento. Há árvores altíssimas, e não sei o nome para registrá-los. Dois homens que usam um notebook, sugerindo que estão trabalhando — estão “ocupados”, dizem —, me mostram um jatobá. Adiante, numa das saídas do parque, vi um jatobazeiro com frutos ainda não passíveis de serem colhidos.


Adianto-me para ver um pouco mais da lagoa, que fica numa bela planície — no meio do parque —, e avisto um passarinho preto de cabeça branca. Leve, assenta-se em árvores pequenas e mesmo no capim. É uma freirinha — bela e delicada.
No chão, ao lado, uma planta pequena com flores brancas. Nas proximidades, uma árvore maior com flores rosas.


Sinto o cheiro do mato, o que melhora o ar — puro ou quase. É cheiro de verdor. É o frescor da natureza livre das contaminações geradas pelos seres humanos. O parque é limpo, raramente se vê uma lata de cerveja ou refrigerante. Numa das visitas, o que provoca estranheza, um homem, sentado numa motocicleta vermelha, conversava, animadamente, pelo celular com outra pessoa. Por que escolher o parque para bater papo e, na rua, certamente o acesso é melhor? Não se sabe. Porém, não abordou a mim e Candice, minha acompanhante nas visitas aos parques.


Ao longe, alertado por Candice, percebo uma garça. Chego a fotografá-la. Mas a lente não ajuda e a fotografia não tem qualidade. É uma garça grande, não carrapateira. Está pescando, com aquele seu jeito zen, não espalhafatoso. Sua leveza (e distinção), mexendo-se com o máximo de cuidado, parece tranquilizar os peixes, que ficam vulneráveis às fisgadas do bico quase sempre certeiro da dama de branco.
Observo o chão e vejo jenipapos, uma das minhas frutas preferidas, sobretudo na infância. Mordo uma delas, mas está verde. Um passarinho a derrubou, pois está com várias bicadas. Uma outra está madura — aberta e suja. Ainda assim, pego-a e cheiro (que aprecio). Quase comi um pedaço. A cerca de 50 metros, há dois pés de amora, sem frutas.


De repente, um susto… positivo, é claro. Uma arvore não muito alta com frutos gigantes, arredondados. São bolas verdes. O coitezeiro parece mas não é cabaça. São grandes e firmes.
Depois do coitezeiro, que me tomou alguns minutos de observação, avisto um grupo de pássaros que aprecio — até sua algazarra — e que me lembra pequenos helicópteros. O anu-preto, voando de galho em galho, espreita lagartas, gafanhotos e, até, lagartixas e camundongos. É uma espécie de “limpador” na natureza e age em bando, cercando presas às vezes não muito hábeis. Com sua bela penugem preta, canta e aglutina a turma — voando baixo, em geral.


As pombas — do bando, juriti, fogo-apagou — são discretas, comem tranquilas e, depois, pousam em galhos altos. Belas e imperturbáveis.
Um urubu parece me vigiar, imperturbável, do alto de uma árvore. Olha tudo… com olhos de lince.
Numa árvore alta, um pica-pau de cabeça vermelha bica ardentemente uma árvore. Na verdade, está se alimentando… possivelmente de formigas. Bem próximo, um pássaro pequeno ataca um maior. Não deu para verificar se era um gavião que, invadindo o ninho de outro pássaro, acabou levando umas bicadas. Por duas vezes, a cena se repetiu. O passarinho menor estava bravo e demonstrou coragem.


Noutra árvore, agora de tamanho razoável, vários canarinhos da terra fazem uma festa, com suas cores amarelas e outras. Não parecem assustados com minha presença. Pelo contrário, voam e assentam-se. Aproximo-me. Não saem da árvore.
Bem-te-vis anunciam alguma coisa, para si e para outros, como se estivessem a dizer: veja lá — estamos atentos. Com sua plumagem de cores variadas, com destaque para o branco, o preto, o pardo e o amarelo, é um pássaro lindo. E rápido como um risco. Os que vi estavam se banqueteando com insetos — como se estivessem a imitar o bando de anu-pretos.


Na trilha, de repente dou de cara com um casal de joão-de-barro. Parei e comecei a fotografá-los. Talvez não me percebendo como uma ameaça, dado o fato de não avançado, continuaram a comer tranquilamente: um inseto aqui e outro ali. Porém, atentíssimos, levantavam a cabeça sempre para me olhar. Um deles parecia desfilar, tal a elegância. Com sua “veste” marrom, com aquele porte dos que estão sempre em forma, são belos os construtores de ninhos duradouros e altamente protegidos das intempéries. O joão-de-barro é o engenheiro da natureza.


Ah, ia me esquecendo. Fala-se que existem jacarés no Vargem Bonita. Não vi. Mas Wanderson, que sabe tudo do parque e é confiável, garante que há, sim, jacarés no parque. Porém, o caminhante pode ficar tranquilo. Pois não há nenhum registro de ataques e a lagoa fica um pouco distante das trilhas.
Não vi tamanduás, que, certamente, estavam escondidos — quiçá fugindo da quentura do sol e, sobretudo, dos seres humanos (os bichos mais destrutivos da Terra e responsáveis declarados pela sexta extinção). Por volta das 17 horas, ou pouco mais, fiquei com a impressão de ter visto uma saracura. Impressão, frise-se.


Caminhar pelo parque, por suas veredas, é um espetáculo à parte. Há trilhas bem cuidadas para pedestres e ciclistas. O parque apresenta-nos surpresas incessantes para nossas pupilas. A caminhada, durante a qual podemos olhar a natureza e também pensar um pouco — longe do convidativo celular com as cousas do mundo, às vezes afastando-nos da aldeia, onde vivemos —, não ajuda apenas na saúde física. É um alimento para a alma.
Wanderson nos conta que o professor Jayrson Araújo, da UFG, levanta-se às 5 horas da manhã para fotografar pássaros na Vargem Bonita (e outros lugares). Vai para o parque todo paramentado, inclusive com perneiras protetoras. Vi algumas de suas fotos, não se sei todas são de pássaros do Vargem Bonita, mas, feitas por mãos profissionais, são belíssimas (os pássaros e as fotografias).


Jaqueline Veloso e Anderson, professores da UFG, e Augusto filho do casal, nos encontram no parque (Augusto é tão inteligente que fala até em filosofar). Anderson conhece bem a região. Jaqueline faz fotos magníficas de pássaros, como tucanos. Deveria fazer uma exposição.


Dois fotógrafos excepcionais, Nunes D’Acosta (que trabalhou no Jornal Opção) e Sinésio Dioliveira (cronista do Jornal Opção) circulam com frequência pelo parque (além de vários outros, em todo o Estado). Há poucos dias, eu e Sinésio fotografamos dezenas de gaviões carcarás numa área de plantio de milho, em Terezópolis de Goiás. Estavam todos no chão, comendo insetos, aparentemente.