O tratamento do autismo em tempos de isolamento social
05 maio 2020 às 11h52
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O atendimento a crianças com autismo se torna inviável, uma vez que, para elas a proximidade física é indispensável
Giovana Reolon Brasil*
Especial para o Jornal Opção
Baseados nas determinações gerais de precaução contra o coronavírus, os conselhos de classe determinaram a suspensão de serviços ou definiram critérios para que os profissionais mantivessem seus atendimentos, como os adotados pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP).
Dentre os critérios estabelecidos pelo CFP, os profissionais poderiam manter seus atendimentos presenciais e, caso fosse possível, fazê-los com uma distância de dois metros do paciente.
Considerando esta questão, o atendimento a crianças com autismo se torna inviável, uma vez que, para elas a proximidade física é indispensável.
Não tem cura
Segundo dados recentes do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, estima-se que a prevalência de autismo é de um caso em cada 54 crianças. O autismo não tem cura, porque não é uma doença.
Trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por déficits na comunicação social e comportamentos restritos. Uma criança com autismo precisa de 20 a 40 horas de intervenção semanal para desenvolver suas habilidades e aumentar suas chances de autonomia.
Sabe-se que, para essas crianças, um dia sem terapia pode representar um prejuízo significativo para sua qualidade de vida e desenvolvimento. Estamos diante de um grande dilema: o que fazer com essas crianças que precisam de no mínimo 20 horas semanais de intervenção e encontram-se agora impedidas de sair de suas casas?
Solução temporária
A solução temporariamente encontrada foi capacitar os pais para que desempenhassem um papel terapêutico, a fim de reduzir os danos que a interrupção no tratamento causaria.
Já existem centenas de estudos que comprovam cientificamente a eficácia do treinamento parental para o desenvolvimento das pessoas com autismo.
O sucesso da proposta se dá pelo fato de que a estimulação feita pelos pais se estende ao contexto natural da criança e cria mais oportunidades de ensino ao longo do dia, tornando a intervenção ainda mais intensiva.
Coordenada por um profissional
Devo destacar que a intervenção deve ser coordenada por um profissional habilitado em atendimento a crianças com autismo e treinamento de pais. Evidentemente, o tratamento com profissionais capacitados e com experiência não pode ser descartado.
Para os pais, assumir esse papel é um grande desafio, mas o que já vimos de resultado é surpreendente e nos dá força pra continuar. Se soubermos tirar deste isolamento algumas lições, sairemos disso tudo como seres humanos melhores.
*Giovana Reolon Brasil é mestre em Psicologia, supervisora do Núcleo de Intervenção Comportamental