O que a presidente poderia fazer para se erguer do tombo no mercado eleitoral?

31 março 2014 às 16h33

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O silêncio a que se recolheu a presidente Dilma Rousseff não permite que se avalie como reagirá à queda de seu prestígio junto aos eleitores apurada pela pesquisa do Ibope revelada na quinta. Além de se silenciar, cancelou as viagens de campanha pela reeleição, como a sua presença em Goiânia. Se viajasse, seria questionada e teria de discursar.
Assim como Lula também se calou desde que censurou a sucessora porque se meteu a explicar o escândalo da compra da refinaria texana de Pasadena, operação fechada pela Petrobrás com o aval de Dilma quando presidia o Conselho de Administração da petroleira, em fevereiro de 2006. Como definiu Lula, a sucessora levou a crise para dentro do Planalto.
Apesar da repercussão do escândalo, Pasadena não tem nada a ver com a última pesquisa do Ibope, realizada entre os últimos dias 14 e 17. A participação da presidente na operação se tornou conhecida dois dias depois, 19. De lá para cá, Dilma redigiu três notas para se defender, mas não convenceu. A repercussão em pesquisa de opinião ainda virá
É o problema da presidente e candidata à reeleição: não há muito espaço para anular a queda progressiva na aprovação dos eleitores ao seu governo e ao modo com que governa. Entre a pesquisa anterior, do Ibope por encomenda da Confederação Nacional da Indústria, em novembro, caiu de 43% para 17. A queda vem desde julho, quando a taxa era de 37%.
Nesse período, interrompeu-se a curva virtuosa de recuperação da popularidade do governo que vinha desde os protestos de junho, quando a aprovação caiu a 32%. Entre novembro e março, a taxa dos eleitores que consideram o governo ruim ou péssimo subiu de 20 para 27%. Os que consideram a administração regular, o índice subiu de 35 para 36%.
As taxas pioraram em todas as áreas de gestão avaliadas. A confiança em Dilma caiu de 52% para 48 na pesquisa com margem de erro de dois pontos. O conjunto de informações apuradas expõe a falta de espaço para uma reação que levante o ânimo dos eleitores, conquiste confiança num futuro melhor para os brasileiros ainda no que no resta de governo até janeiro.
Seriam necessárias medidas positivas de repercussão geral. Mas falta recurso e sobra inflação. Não vale a assessoria do palácio repetir a repórteres que Dilma vai se desdobrar em pronunciamentos que enfatizem e elogiem as obras do governo. Ela fazia isso dia sim, dia não, mas não adiantou. Daí o silêncio. Nem os assessores voltaram a usar aquele expediente.
A única fala que saiu do governo foi a do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, com 24 palavras. “É uma motivação a mais para a gente trabalhar, trabalhar e trabalhar ainda mais duro para melhorar o Brasil e a vida do povo”, referiu-se aos números da pesquisa. Não disse nada, mas, pelo menos, falou alguma coisa desde que assumiu o emprego em 4 de fevereiro.
A inclinação do Planalto é pelo recurso eleitoral de atacar a oposição, em especial os presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Se a CPI da Petrobrás é inevitável, o projeto no palácio é relaxar e aproveitar e partir para cima dos oposicionistas sob os holofotes da comissão de inquérito do Congresso.
Uma das ferramentas seria ampliação dos temas em investigação pela CPI, de modo a abranger os concorrentes de Dilma. No caso de Aécio, incluir o escândalo do pagamento de propinas a membros do governo paulista pelo cartel de fornecedores do metrô e outros trens metropolitanos. Valeria mencionar o ex-governador tucano Eduardo Azeredo, criador do mensalão mineiro. Quanto a Campos, abordar a construção do Porto de Suape em Pernambuco.