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Economista Luiz Carlos de Barros: “PT de Lula era um fera domada” | Foto: Revista da espm

Em 2002, a cotação livre do dólar no mercado financeiro iniciou o ano a R$ 2,60. Em outubro, mês da eleição presidencial, a venda do dólar chegou a R$ 4,00, a mais alta cotação que já recebeu durante os 20 anos do Plano Real, criado em 1994.

Era o efeito Lula, o pavor do mercado face ao favoritismo do candidato do PT na sucessão do tucano FHC, que artificialmente manteve a igualdade entre o valor do dólar e o do real até a adoção do câmbio flutuante em janeiro de 1999, três meses depois da reeleição de Fernando Henrique a presidente. Livre, o dólar chegou R$ 2,16 em março.

Hoje, o mercado aprendeu a conviver com o PT de Lula, não o da presidente Dilma. O consultor de empresas Luiz Carlos Mendonça de Barros, um símbolo do BNDES na era FHC, compara o PT do ex-presidente a uma fera domada, mas apresenta ressalva quanto à sucessora:

— Em 2002, o mercado tinha medo do discurso do Lula, que era agressivo contra a moeda e socialista. Hoje, não tem nada disso, todo mundo aprendeu a conviver com o PT, que, como diz um amigo meu, é uma fera domada.

Porém, a presidente ainda é uma ameaça às empresas depois de três anos na chefia do Planalto. “O mercado tem uma clara aversão ao modo de atuar da Dilma, mas não tem nada a ver com 2002”, informa Mendonça de Barros que o maior receio do mercado é a reeleição da presidente sem mudança na orientação econômica.

Por tudo isso, Dilma passou a adotar suas cautelas junto ao mercado em época de campanha pela reeleição. Ela rompeu a semana passada com apenas um compromisso em sua agenda naquela segunda-feira. Reuniu-se no Planalto com um primeiro time de banqueiros, que entrou e saiu em silêncio.

A própria agenda registrava laconicamente que Dilma receberia o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, na companhia de outros representantes da entidade. Dilma esqueceu o escândalo da Petrobrás e entregou-se à conversa com os banqueiros, sem saber que a agência internacional Standard & Poor’s (S&P) aumentou a nota de risco brasileiro.

Docemente, a presidente perguntou aos bancos o que deveria fazer para resgatar a credibilidade do governo junto ao mercado de investidores. Ouviu as sugestões elementares que sempre escuta: ser austera na responsabilidade com as contas públicas, ser realista em relação ao preço dos combustíveis e conversar sempre com todo o mercado privado.

Inquieto, o ministro da Fa­zenda, Guido Mantega (PT), quis sa­ber, então, como controlar a inflação sem conter os preços relacionados ao petróleo. Escutou dos bancos o mesmo conselho que o go­verno sempre ouve quando conversa além de seu aparelho de Es­tado: gastar menos para controlar o déficit fiscal com realismo.

Quando a reunião terminou, a presidente soube do relatório da S&P — ela confia mais em sua habilidade diplomática pessoal do que no profissionalismo do Itamaraty, que acompanhou os passos de uma missão da agência de riscos que esteve no país na semana anterior. O relatório repete o diagnóstico dos bancos, além de advertir sobre fantasias na contabilidade e gastos com objetivos eleitorais.

Os banqueiros, que não dormem de touca, também se interessaram pela missão da S&P, que, inclusive avaliaria bancos públicos e privados. No dia se­guin­te, a agência divulgou que rebaixou também a confiança num elenco de 14 instituições fi­nan­ceiras, a começar pelo Banco do Brasil, BNDES, Caixa Eco­nô­­mi­ca Federal e Banco do Nordeste.

As outras dez instituições estão na área privada: HSBC, Itaú Unibanco, Bradesco, Itaú BBA, Citibank, Santander, Sul América, Sul América Com­panhia Nacio­nal de Seguros e Allianz Global. Além disso, a agência comunicou que colocou em observação negativa a atuação de outras instituições, com atenção especial nas que transacionam com bancos oficiais.