O caminho da senadora para castigar os donos do PT que não lhe dão a atenção devida

17 janeiro 2015 às 10h50

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Se Lula conseguir reeleger, em São Paulo, o impopular prefeito Fernando Haddad, a quem elegeu em 2012 numa das preterições a candidaturas da senadora Marta Suplicy, poderá aliviar o prejuízo que sofreu com o vexame da derrota de seu candidato a governador pelo PT, Alexandre Padilha, em outra preterição à ex-ministra da Cultura.
O desempenho precário do PT, em São Paulo, no universo das eleições do ano passado, desde a presidencial, ajuda a minar o poder do ex-presidente perante o Planalto. O tucano Aécio Neves recebeu 64% dos votos dos paulistas, contra 36% para Dilma. Veja-se que a reeleição poderia cair ali: a diferença, no país, a favor da presidente sobre Aécio foi de 3,28%.
Por isso, a prefeitura paulistana tem tudo para ser a prioridade municipal de Lula no próximo ano. Ele, que precisa de duas coisas: mostrar força ao Planalto rumo a 2018; e atender à gana pessoal contra sucessos eleitorais tucanos. Ainda mais neste momento em que o PSDB tem a garantia de visto de permanência por 24 anos contínuos no Palácio dos Bandeirantes.
Aí entra o fator Marta Suplicy. Se ela sair mesmo candidata a prefeita por outro partido ou apoiar algum concorrente para participar da derrota da reeleição de Haddad, terá uma revanche e tanta. Contra Lula e Dilma, os donos do PT, que não gostam dela, embora o ex mantenha relações pessoais com a companheira.
Mais na frente, na eleição presidencial, se o candidato da presidente for o paulista Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil, Marta terá mais uma razão para estar do outro lado. “Mercadante é o inimigo”, comunicou na entrevista que concedeu há uma semana:
“Mercadante mente quando diz que Lula será o candidato em 2018. Ele (Mercadante) é candidatíssimo e está operando nessa direção desde a campanha (2014), quando houve um complô dele com o Rui (Falcão, presidente do PT) e o João Santana (marqueteiro do Planalto) para barrar Lula.”
Ainda sobre o ex, referência direta da senadora na entrevista para paparicar o companheiro e hostilizar Dilma, Marta definiu a posição dele no poder central desde a reeleição da sucessora:
— O Lula está fora. Totalmente fora.
E o que Lula tem a ver com a fala da ainda companheira Marta Suplicy que tenta aprofundar o desencontro político entre ele e Dilma? Nada a ver. Nem interessa a Lula procurar mais conflito com a sucessora, pois o seu plano para retomar o Planalto em 2018 precisa do apoio de Dilma, que não parece animada com o projeto do companheiro.
A entrevista de Marta apoia-se em Lula para fustigar a presidente. Até com incoerência relativa, pois foi o ex-presidente quem torpedeou a ideia da companheira em ser candidata do PT a prefeita em 2012, quando preferiu Haddad. O mesmo filme que se repetiu no ano passado: Lula cortou a vontade de Marta em ser candidata ao governo, ficou com Padilha.
Mas o que é incoerência relativa, no jogo político? No caso atual de Marta, é oportunismo com dose de cinismo. Ela valoriza Lula para se desforrar de Dilma. Atrevida, Marta, ministra da Cultura no ano passado, desafiou a presidente que a nomeou e procurou Lula com insistência para estimular o ex a ser candidato contra a reeleição da outra companheira.