A nomeação do economista Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central era amplamente esperada, mas isso não significa que sua trajetória será simples. Primeiramente, ele precisará passar por uma sabatina em um prazo relativamente curto, pois um presidente do BC indicado que não seja confirmado rapidamente pode enfrentar considerável desgaste.

Durante esse período, em que o Congresso não tem se reunido com a frequência desejada, Galípolo ficará em uma situação de incerteza. No entanto, isso é algo que pode ser resolvido por meio de negociações.

O maior risco seria uma nomeação tardia, chegando ao final do ano sem um novo presidente. O Banco Central não pode operar com um presidente interino, e o atual não pode estender seu mandato por mais tempo.

Galípolo enfrentará um cenário de inflação elevada e sob pressão. Embora a inflação não esteja fora de controle nem fora da meta, está próxima ao teto da meta, o que exigirá ação conforme as regras do regime de metas de inflação.

No mercado, isso significa aumentar a taxa de juros, possivelmente no mesmo dia em que o Fed (Federal Reserve dos EUA) começará a relaxar sua política monetária. Isso deve resultar em uma maior entrada de dólares no Brasil, aliviando a pressão sobre o câmbio e os preços. Em 18 de setembro, Roberto Campos Neto ainda será o presidente do BC, mas o poder estará, de certa forma, dividido entre ele e Galípolo.

Nos últimos meses, a política monetária tornou-se um tema politizado. O governo criou expectativas de uma política monetária mais flexível, enquanto o mercado teme uma abordagem leniente em relação à inflação.

Uma atenuante para essa tensão é que a meta de inflação agora não é anual. Os 3% são um objetivo a ser alcançado ao longo do tempo, e a meta só será revisada ao final do atual governo. Contudo, todos os olhos estarão voltados para a próxima reunião: será que a decisão será unânime? O mercado espera que sim, e que resulte em uma alta dos juros. No mundo político, uma divisão entre os diretores do BC poderia ser vista como um bom sinal.

Outro fator que pode aliviar o clima é o histórico do presidente Lula em seu primeiro mandato, quando permitiu que o então presidente do BC, Henrique Meirelles, elevasse a taxa de juros de 25% para 26,5% para combater uma inflação de dois dígitos. Essa medida foi crucial para controlar a inflação na época.

O indicado à presidência do BC tem experiência no setor público em São Paulo, foi presidente do Banco Fator (2017-2021), participou da equipe de transição do governo Lula e, posteriormente, assumiu como secretário-executivo da Fazenda.

Com base em seu desempenho até o momento, não há razão para duvidar de sua capacidade de manter a confiança na condução da política monetária. Para dissipar os receios de interferência na política monetária e manter a inflação sob controle, é fundamental que as decisões de Galípolo e dos novos indicados permaneçam estritamente técnicas.

O sistema de metas de inflação tem se mostrado uma ferramenta eficaz para orientar o setor produtivo e os consumidores. No entanto, a base de tudo é a credibilidade. Sem confiança, a ancoragem das expectativas inflacionárias não se sustenta.

Por isso, é essencial que, a cada pronunciamento e reunião do Copom, Galípolo demonstre que segue os mesmos parâmetros técnicos que têm norteado sua atuação desde que assumiu a diretoria do Banco Central. O histórico recente indica que a transição ocorrerá sem grandes sobressaltos.

Nas duas últimas reuniões, o Copom manteve a taxa de juros inalterada em 10,5% ao ano, com decisão unânime. O Banco Central do Brasil foi um dos primeiros a elevar os juros diante dos riscos inflacionários trazidos pela pandemia.

A taxa subiu de 2% em março de 2021 para 13,75% em agosto do ano seguinte, permanecendo nesse patamar por quase um ano, sem concessões durante o período eleitoral. Como resultado, a inflação caiu de 10,06% em 2021 para 4,62% no ano passado, abaixo do teto da meta (4,75%).

Os dados positivos atuais de emprego e renda indicam que o Brasil, em comparação internacional, se recuperou melhor dos efeitos da Covid-19. Antes de Galípolo assumir, o Copom enfrentará um novo teste na reunião marcada para setembro.

O Copom precisará decidir se mantém ou eleva os juros brasileiros. É crucial que essa decisão seja apresentada de forma clara e baseada em critérios técnicos. E que essa abordagem continue durante a gestão de Galípolo, após sua aprovação pelo Senado.

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