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Novos resultados de uma pesquisa que vai usar células-tronco no tratamento de diabetes tipo 1 animaram a comunidade. Entretanto, segundo o endocrinologista Sérgio Vêncio, esse tratamento não seria recomendado para todos os pacientes, já que pode gerar imunodeficiência medicamentosa. O médico não descarta a opção, mas acredita que este tratamento não poderia ser aplicado em larga escala.

A proposta deste tratamento é transformar células-tronco – doadas por outra pessoa – em ilhotas pancreáticas completas, compostas por células produtoras de insulina, e depois aplicá-la próximas ao fígado dos pacientes. Segundo o endocrinologista, a célula-tronco pode se transformar em qualquer célula, por isso, os cientistas tentam que esta se transforme em célula beta, a célula do pâncreas que produz insulina. 

Para o médico, esse tratamento pode ser problemático em alguns casos. “O diabetes é uma doença imunológica e vai destruir qualquer célula beta. Para o paciente se beneficiar disso, desenvolve uma outra doença: uma imunodeficiência. […] Você promove uma deficiência do sistema imunológico para aquela célula conseguir sobreviver”, afirmou ao Jornal Opção.

De acordo com Sérgio, este não seria o tratamento adequado para a população geral que convive com a diabetes tipo 1. “É impensável você fazer isso com os pacientes com diabetes tipo 1 em larga escala. Por isso que o estudo foi reservado para pessoas que não conseguem conviver com diabetes porque tem hipoglicemia o tempo inteiro e aí é ameaça de morte. Nesse grupo pode ser uma coisa interessante, mas realmente é uma coisa muito séria”, disse. 

Ele compara a condição a alguém que fez um transplante de órgão. “Por mais que eu seja compatível, é um outro corpo, então ele vai precisar ficar tomando imunossupressor pro resto da vida. Resolve ali o problema da diabetes, mas causa um outro problema da imunodeficiência”, afirmou. Neste caso, o paciente fica predisposto à infecção e tem efeitos colaterais como ganho de peso, queda de cabelo, mal-estar e fraqueza.

Dados da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO) de novembro de 2024 apontam que 6,4% da população goiana adulta convive com diabetes, número ligeiramente abaixo da média nacional, que é de 9,1%. Prevalece diabetes tipo 2, mais comum entre adultos, associada ao aumento do peso corporal e à obesidade. Já o diabetes tipo 1, que representa cerca de 10% dos casos, é mais comum entre crianças e adolescentes. Ao contrário do tipo 2, o tipo 1 é causado pela falência da produção de insulina no pâncreas, exigindo o uso contínuo desse hormônio. 

Tratamento

“Hoje a limitação é dinheiro, não é tecnologia. Tecnologia a gente tem”, afirmou ele sobre o tratamento de diabetes, em que se repõe a insulina. O tratamento tenta imitar o corpo saudável em que a insulina é produzida constantemente – insulina basal -, mas há um pico de produção após a alimentação. Por isso, aplicações diferentes têm prazos diferentes: algumas duram 24 horas e outras são mais rápidas.

“A bomba de insulina é um tratamento muito legal também, que fica infundindo a insulina o tempo inteiro, 24 horas por dia, de acordo com a programação do médico. Hoje já tem bomba de insulina com inteligência artificial”, disse. 

O médico afirma que o tratamento de diabetes tipo 1 continua evoluindo: “essa insulina basal, que tem pelo menos uma picada por dia, vai passar a ser uma picada por semana. Já a insulina rápida, que tem que picar todas as vezes que se come, vai ser rapidamente substituída pela insulina inalada”, afirmou.

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