Nova Basílica de Trindade: 12 anos depois do início, obra segue sem previsão de entrega

19 janeiro 2024 às 17h16

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Uma segunda etapa da obra do novo Santuário do Divino Pai Eterno em Trindade está prevista para ser entregue no primeiro semestre de 2025. Porém, a obra como um todo, mesmo depois de mais de uma década, ainda não tem data para ficar pronta. É o que aponta um dos engenheiros responsáveis pela obra, que informou que o complexo religioso terá uma capacidade 20 vezes maior que o terreno da basílica atual, que levou cerca de 31 anos para ser concluído.
O Novo Santuário foi idealizado para multiplicar a capacidade da Capital da Fé em receber fiéis, devotos do Divino Pai Eterno, na cidade. Tocada pela Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) em parceria há dois anos com a construtora VGVIX, a construção começou há cerca de 12 anos com previsão para ser finalizada em 2026 a um custo de R$ 100 milhões.
Porém, depois da Operação Vendilhões, em 2020, o ex-comandante da associação apontou que o custo da obra poderia chegar a R$ 1,4 bilhão.
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Hoje, após apuração por desvio de dinheiro na gestão da associação e investigação do principal líder da associação — Padre Robson de Oliveira —, a Afipe não fala mais em prazo para conclusão nem previsão de investimento ou do quanto já foi gasto ao longo de mais de uma década.
Segundo o engenheiro civil André Camargo, não é possível falar em orçamento nem estimativa de conclusão devido à grandiosidade da obra e a necessidade de diversos projetos em diferentes áreas. “Não temos uma previsão de conclusão da obra porque não temos todos os projetos”, aponta.
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Confira aqui um vídeo sobre o projeto
“Estamos trabalhando na construção do complexo que é de 150 mil metros quadrados, que inclui o subsolo, nível térreo, o mezanino e a praça envolvente com esse formato circular, que é onde começa a igreja”, diz.
A estrutura da igreja — em formato de uma cruz —, está com um dos “braços” quase 100% concluído, aponta Camargo. “Essa braço da cruz está com uma parte da alvenaria concluída, mas ainda falta uma parte para finalizar. O outro braço direito da cruz a gente termina no primeiro semestre do ano que vem”, garante.

Indefinições
Ainda que a associação e a construtora falem em cumprimento dos prazos, André Camargo aponta que não há definição das próximas etapas e como a obra será continuada. Isso ocorre, segundo o especialista, porque a edificação é erguida graças à doações dos devotos do Divino Pai Eterno.
“Estamos fazendo algumas tratativas, algumas definições para verificar, a partir do ano que vem, qual outro setor a gente vai dar andamento. Se será pela ponta da cruz, se é pela praça. Mas não temos essas definições”, aponta.
Outro fator que leva a indefinição é a falta de todos os projetos técnicos que envolvem a construção. Os esquemas multisetoriais vão sendo projetados a partir do andamento da obra.
“Priorizamos os projetos estruturais e arquitetônicos que é o que a gente tem trabalhado. Então a gente não tem também uma previsão de conclusão da obra porque não temos todos os projetos”, revela.
Pandemia freou avanço
O engenheiro André Camargo revela ainda que a construção avançou significativamente nos últimos quatro anos, mesmo com a pandemia. “Teve toda uma dificuldade de manobrar o material, a obra paralisou por um tempo, mas evoluímos bastante nesse período”, conta.
Ele cita, por exemplo, a segunda estrutura do braço da cruz, que até seis meses atrás, não havia sido levantada. “A primeira já está com 60 metros de altura, e quando tiver concluída com a cúpula, que vai unir os dois braços, ela chegará a 120 metros. A outra já tem 30 metros e está evoluindo”, diz.
O terreno, onde está sendo construída a nova igreja, já se tornou um ponto turístico na Capital da Fé de Goiás. No local, há um mirante e uma capela onde os devotos deixam suas orações e agradecimentos e também rezam pela obra. Uma vez por mês a Igreja Católica celebra uma missa no local.
Em etapas
A obra do Novo Santuário teve início em 2012. A primeira etapa realizada foi a investigação do solo, com sondagens e ensaios para verificação da capacidade do solo para sustentação da igreja. Logo depois se iniciou a terraplenagem, para nivelar o terreno do ossário e da praça térrea, a estrutura inicial da igreja.
Após isso, os operários iniciaram o processo de escavação para execução das fundações do ossário, bem como todas as instalações enterradas como esgoto e drenagem. Em seguida, os engenheiros e operários se concentraram na execução dos pilares e cortina de contenção do ossário.
Em seguida, a equipe partiu para outra grande etapa: a execução das estruturas que formarão a cabeça e os braços da cruz (formato em que a igreja está sendo construída). Os passos iniciais foram parecidos com o processo que decorreu no ossário: investigação do solo; terraplenagem/nivelamento; execução das fundações (estacas, sapatas, blocos); execução de ensaios em fundações como provas de carga; assim como o reaterro das fundações.
O maior sino do mundo
O Novo Santuário abrigará o maior sino do mundo. A peça é feita de bronze (composta de 78% de cobre e 22% de estanho) e pesa 55 toneladas. Fabricado na cidade de Cracóvia, na Polônia, o Vox Patris, como foi carinhosamente batizado, mede 4 metros de altura e 4,5 metros de diâmetro.
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O sino é ornamentado com ilustrações que contam a história da devoção ao Divino Pai Eterno, desde o início até os dias atuais. Além disso, a ornamentação é composta de desenhos que caracterizam espécies da flora e fauna dos biomas brasileiros.
Além do Vox Patris, a torre do campanário do Novo Santuário abrigará mais de 70 sinos. Dentre eles, haverá o chamado “Quarteto Ideal”, um conjunto de quatro sinos, cada um ajustado com uma nota musical ideal para compor o carrilhão com os demais sinos. Cada peça recebeu o nome de um evangelista: São Marcos, São Mateus, São Lucas e São João.
A homenagem lembra como esses homens foram essenciais no anúncio do Evangelho, que levou o amor de Jesus a muitos corações. Os sinos com seus nomes anunciarão as bênçãos do Pai Eterno em Trindade.
Do medalhão a devoção em todo mundo
O casal Constantino e Ana Rosa, quando encontrou o Medalhão que deu origem a essa devoção, em 1840, levou o objeto considerado sagrado para casa e começou a se reunir em volta dele, em família, para rezar o terço.
A primeira capela foi construída em 1843. Com o fortalecimento da fé, capelas maiores foram edificadas, até que em 1912, foi inaugurado o primeiro Santuário do Divino Pai Eterno, hoje conhecido como Santuário Velho ou Igreja Matriz, sede da Paróquia do Divino Pai Eterno.
No centenário da Romaria, em 1943, o arcebispo de Goiás, na época Dom Emanuel Gomes de Oliveira, lançou a pedra fundamental do atual Santuário. Em 1955, apesar de todos os esforços, a obra ainda não havia saído dos alicerces.
A partir de 1974, as novenas e a Festa do Divino Pai Eterno já eram realizadas no local. Em 1994, com ajuda dos romeiros e devotos, o Templo foi reformado.
No aniversário de 100 anos, em 2012, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Em 2013, recebeu um novo tombamento, dessa vez como Patrimônio Cultural Material do Brasil.
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