MP vai recorrer da decisão que suspendeu liminar que obrigava prefeitura de Goiânia a regularizar atendimento na saúde
08 outubro 2024 às 10h10
COMPARTILHAR
Os embates envolvendo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia continuam. Após o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) ter emitido decisão que suspendeu a liminar que obrigava a pasta a regularizar a assistência hospitalar na capital, o Ministério Público (MP-GO) afirmou que irá recorrer, a fim de manter as obrigações da Saúde com os hospitais. Denúncias feitas ao órgão acusam, entre outros pontos, a interrupção do atendimento a pacientes de hemodiálises em hospitais da capital, por falta de pagamento.
O pedido inicial que obrigava a pasta a regularizar os serviços foi oficializado após iniciativa do MP-GO, em agosto deste ano. Entretanto, a Prefeitura recorreu da decisão junto ao TJ-GO, em segundo grau de julgamento, para derrubar a liminar.
Após a retirada da obrigatoriedade legal em regularizar os serviços, o MP-GO percebeu que os repasses obrigatórios não têm sido feitos, afetando novamente a qualidade do serviço ofertado à população.
Membros do Grupo de Atuação Especial da Saúde (GAE Saúde) do MP-GO realizaram visitas nas unidades de saúde sob responsabilidade do município ou ligadas à Prefeitura através de convênios e atestam a paralisação dos serviços por falta de repasses obrigatórios. Gestores das unidades denunciam falta dos repasses, embora as transferências de verba da União estejam todas em dia.
A Santa Casa de Misericórdia, unidade na qual se realizam procedimentos específicos que não são feitos em outros hospitais, está enfrentando greve dos anestesistas. Dessa forma, procedimentos como cirurgias vasculares, cardiovasculares e atendimentos oncológicos ficam comprometidos
Pedido original
O pedido que dava 15 dias para a SMS regularizar o atendimento nas unidades de Goiânia, seguindo as diretrizes do SUS, foi emitido a pedido do MP-GO em agosto deste ano. Entretanto, pouco depois, o TJ-GO, em segunda instância, cancelou a ordem.
O MP-GO entrou com pedido após fiscalização nas unidades, tanto nas Upas (Unidades de Pronto Atendimento), Cais (Centros de Atenção Integral à Saúde) e Ciams (Centro Integrado de Atenção Médico Sanitária), quanto nas unidades hospitalares com contrato com a SMS.
Leia também: Secretário de Saúde de Goiânia retorna ao cargo após TCM revogar medida cautelar
Situação do Samu Goiânia se deteriora e capital conta apenas com cinco ambulâncias em circulação
Longas filas de espera para internação (mesmo com leitos vazios habilitados no SUS), paralisação da assistência por falta de pagamento, uso indevido dos recursos recebidos do Ministério da Saúde e espera prolongada por leitos nas unidades pré-hospitalares: essas foram algumas das irregularidades percebidas pelo MP-GO em suas fiscalizações.
Pensando na espera nas unidades pré-hospitalares, em 76% dos casos, esse período era superior a 24 horas, em 53% ultrapassava a marca dos dois dias, elevando risco de morte dos pacientes.
Irregularidades
A coordenadora do CAO Saúde, Marlene Nunes, compartilha uma série de outras graves falhas identificadas nas unidades de saúde do município de Goiânia, durante as inspeções. Entre as irregularidades apontadas estão a presença de pacientes de ambos os sexos dividindo os mesmos espaços, salas vermelhas em condições precárias, a ausência de mecanismos de segurança em todas as unidades vistoriadas, além da escassez de alguns insumos e medicamentos.
O promotor de Justiça André Lobo Alcântara, membro do GAE Saúde, revelou que dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS indicam uma redução significativa no acesso a leitos de internação em Goiânia a partir de 2023, com a situação se agravando ainda mais em 2024. Em resposta à crise, a Secretaria Municipal de Saúde tem solicitado vagas ao Complexo Regulador do Estado de Goiás, o que acaba sobrecarregando as unidades de saúde estaduais.
Diante desse cenário preocupante, o Ministério Público decidiu ajuizar uma ação civil pública, com pedido de tutela de urgência, para obrigar o município de Goiânia, representado pelo prefeito Rogério Cruz e pelo secretário de Saúde, Wilson Pollara, a tomar medidas imediatas para solucionar a crise na saúde pública. A ação visa evitar um colapso ainda maior, que poderia colocar em risco a dignidade e a vida dos pacientes que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS).
Embora uma liminar tenha sido inicialmente concedida em favor do MP, determinando a regularização das condições das unidades de saúde, o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) suspendeu a decisão. Em resposta, o Ministério Público anunciou que vai recorrer, buscando reverter a suspensão e garantir a implementação das medidas necessárias para sanar a crise.