Morre em Goiânia a ativista Beth Fernandes, referência na luta LGBTQIA+ e pelos direitos humanos
15 outubro 2025 às 19h15

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Morreu nesta quarta-feira, 15, em Goiânia, a ativista LGBTQIA+ Beth Fernandes, uma das principais referências do movimento por igualdade e direitos humanos em Goiás. Mulher trans, psicóloga, escritora, feminista e militante incansável, Beth dedicou a vida à defesa da dignidade e do respeito às mulheres e às pessoas LGBTQIA+. A informação foi confirmada pelo Partido dos Trabalhadores (PT-GO), legenda da qual ela fazia parte.
Em nota, o partido lamentou a perda e destacou a importância da trajetória de Beth:
É com profunda tristeza que recebemos a notícia do falecimento de Beth Fernandes, mulher trans, psicóloga, escritora, feminista, ativista aguerrida e referência na luta por dignidade, igualdade e respeito às mulheres e às pessoas LGBTQIA+. Beth dedicou sua vida à defesa dos direitos humanos e à construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Sua coragem e determinação seguem como exemplo e inspiração para todas nós”, diz o comunicado.
A Secretaria de Inclusão da Universidade Federal de Goiás (UFG) também se manifestou, ressaltando o legado deixado pela ativista:
“Que sua memória seja sempre lembrada com carinho e que sua família encontre conforto neste momento difícil.”
Até o momento, não há informações sobre o velório e o sepultamento.
Uma trajetória marcada por pioneirismo e coragem
Beth Fernandes iniciou sua militância ainda nos anos 1990, período em que a visibilidade de pessoas trans era quase inexistente no país. Psicóloga de formação, ela cursou mestrado em São Paulo e retornou a Goiás, onde construiu uma trajetória marcada pela educação, pelo ativismo e pela formação de novas lideranças.
Ela foi a primeira mulher trans a participar da diretoria do Conselho Estadual da Mulher de Goiás e atuou em diversos conselhos nacionais e estaduais voltados aos direitos humanos. Beth também teve papel fundamental na organização das Paradas LGBTQIA+ no estado e na formação de políticas públicas voltadas à população trans, trabalhadoras sexuais, pessoas vivendo com HIV, população em situação de rua e migrantes.
“Diva da militância”
O vereador de Goiânia e também ativista Fabrício Rosa prestou uma homenagem emocionada à amiga e companheira de militância, com quem conviveu por mais de duas décadas.
Hoje, com o coração apertado, me despeço de uma das maiores referências LGBTQIA+ de Goiás: Beth Fernandes. Beth foi, e sempre será, a diva da militância, a pedagoga do ativismo, a mãe de muitos de nós. Eu sou, com um orgulho danado, filho dessa gigante”, escreveu.
Rosa relembrou momentos de parceria com Beth, desde os tempos de atuação conjunta na defesa de crianças e adolescentes contra a exploração sexual, até a participação no Comitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.
Beth era intensa, verdadeira, apaixonada pela luta. Ajudou a construir inúmeras Paradas LGBTQIA+ ao longo dos 29 anos do nosso movimento. Formou gerações, levando conhecimento a escolas, universidades, movimentos sociais e, principalmente, às forças de segurança, dialogando com policiais sobre respeito e direitos humanos”, destacou o vereador.
Um legado que ultrapassa gerações
Reconhecida nacionalmente, Beth Fernandes deixa uma marca profunda na história do movimento LGBTQIA+ brasileiro. Sua atuação combinava militância, formação política e cuidado coletivo, sendo lembrada por muitos como mãe, madrinha e inspiração.
A história de Beth Fernandes é a história de resistência e transformação. Sua trajetória segue como símbolo da luta por igualdade, dignidade e amor — bandeiras que ela ergueu até o fim.
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