Momentos antes da abertura oficial do Fica, devotas rezam pelo Divino Espírito Santo na antiga Vila Boa
28 maio 2014 às 02h02
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Para alguns moradores do Setor São Francisco, na cidade de Goiás, a celebração da fé foi mais importante que as discussões sobre cinema e vídeo ambiental
Já se passava quase uma hora após o horário programado para a abertura do 16º Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fica) da cidade de Goiás, na noite de segunda-feira, e nem todos pareciam estar preocupados com o lançamento do evento, no Palácio Conde dos Arcos. Enquanto caminhava para o local da cerimônia de abertura pelas tortuosas ruas da antiga capital, minha atenção se desviou para uma casa simples que ecoava vozes agudas e transmitiam boa energia. Me lembrava a infância.
Parei à frente da casa de número 13 da Rua Damiana da Cunha, no Setor São Francisco, de passeio alto. Observei o que acontecia pela janela, de onde fiz a primeira fotografia daquele momento de adoração. Após uma breve apresentação a algumas senhoras, pedi a permissão para adentrar ao recinto e cliquei a flâmula do Divino Espírito Santo, colocada em um simples altar, na sala. Depois, me desculpei a uma das donas da residência, Maria Lúcia, por ter entrado em sua casa, mesmo depois do fim do ritual, de maneira abrupta. De pele escura e demonstrando-se debilitada, ela disse para não me preocupar, pois não estava invadindo. Com o passe livre, pedi a benção e fiz mais registros. A irmã de Maria se recusou a sair nas imagens. Retribui com um sorriso.
As amigas de Maria se dispuseram a esticar a bandeira do Divino para que a foto saísse ajeitada. Agradeci a ajuda e, antes de me despedir, tentei arrancar a idade da daquela mulher que se mostrava fraca por fora, mas forte por dentro. Mas as mais próximas de Maria já me adiantaram: ela não conta.
“Celebrando o seu louvor neste dia, nós te damos o nosso amor” foi o último canto ecoado por aquelas mulheres, que nada celebravam ao Fica, ao meio ambiente ou ao cinema ou vídeo ambiental. Um viva ao Divino Espírito Santo, juntamente com um salve aos moradores da daquela simples residência e às rezadeiras me fizeram pensar o quão a crença e a fé se superam — talvez em importância para alguns — à abertura do Fica ou qualquer outro ato formal ou político. Foi difícil sair de lá, ao passo que foi complicado deixar passar em branco aquela admirável celebração religiosa, em um dia em que, mantidas as proporções, nenhum outro evento deveria chamar a atenção na cidade.