Proposta dentro de um projeto de reforma política permitirá que políticos permaneçam em cargos por mais tempo em anos eleitorais

Esplanada dos Ministérios: ninguém quer sair | Foto: Ana Volpe/ Agência Senado

Para disputar mandato eletivo, ocupantes de cargos públicos em qualquer esfera de governo (Câmaras Legislativas, Tribunais, Ministérios Públicos, prefeituras, governos e na União) devem pedir afastamento seis meses antes do pleito.

No entanto, tramita na Câmara Federal um projeto de reforma política que propõe alterar o tempo de descompatibilização para apenas três meses. Em 2018, por exemplo, políticos poderão permanecer na administração pública até 7 de junho ( já que o primeiro turno será no dia 7 de outubro).

Apresentado pelo deputado petista Vicente Cândido (SP), o relatório que está sendo analisado na Comissão Especial prevê o financiamento público de campanha, combinado com doações de pessoas físicas, e a instituição de listas partidárias preordenadas para as eleições proporcionais (deputados estaduais, distritais e federais, e vereadores), associada com o fim das coligações partidárias.

O texto é polêmico e tem baixíssima aceitação justamente porque institui as chamadas “listas fechadas”, em que o eleitor não mais elegerá individualmente seus candidatos a vereador, deputado estadual e federal, mas votará em listas previamente ordenadas pelos partidos. A distribuição de cadeiras fica a cargo de cada partido, que continuaria recebendo o número de lugares que lhe corresponde pela proporção de votos que obteve.

Além disso, no momento de grave crise financeira, propõe o financiamento público das campanhas eleitorais por meio da criação do Fundo Especial de Financiamento da Democracia (FFD), que não se confunde com o Fundo Partidário, que será mantido.

O FFD será distribuído e fiscalizado pela Justiça Eleitoral e financiará todos os candidatos, independentemente de partido ou cargo em disputa. Os recursos serão incluídos na lei orçamentária do ano do pleito. Apenas para a eleição de 2018, a proposta delimita o aporte orçamentário do fundo: R$ 2,185 bilhões, dos quais R$ 1,9 bilhão será utilizado no primeiro turno e R$ 285 milhões no segundo turno (campanhas de governador e presidente).

Mesmo assim, ministros de Michel Temer (PMDB) têm pressionado a Câmara para que, independente dos outros pontos do relatório, acate pelo menos a redução do tempo de descompatibilização. A medida, caso aprovada, beneficiaria os atuais auxiliares, pois teriam mais tempo para permanecer na administração. A tese é que, como se trata de um governo de transição, falta tempo para apresentar resultados.

Fica para depois

Deputado Fábio Sousa | Foto: Luis Macedo

Integrante da Comissão Especial que analisa a reforma, o deputado federal Fábio Sousa (PSDB-GO) disse, em entrevista ao Jornal Opção, que entende em partes o argumento dos auxiliares, mas que vê com dificuldade a aprovação. Ele ressalta que o colegiado analisa dois projetos sobre reforma política, um da Câmara (cujo relator é Vicente Cândido) e outro do Senado (de autoria dos senadores tucanos Ricardo Ferraço e Aécio Neves).

“A tendência é que se aprove o projeto que já foi votado no Senado, pois aí já vira lei e passa a valer para a eleição do ano que vem. Se fizermos qualquer alteração no texto, volta para o Senado reanalisar e atrasa o processo. Se não passar agora, não haverá tempo hábil até outubro”, explicou.

A PEC do Senado veda as coligações entre partidos nas eleições proporcionais (para deputado e vereador) a partir de 2020 e estabelece cláusula de desempenho para o funcionamento parlamentar dos partidos. Coligações nas eleições para cargos majoritários (presidente, governadores, senadores e prefeitos) continuarão sendo permitidas.

Pela proposta, nas eleições de 2018, apenas os partidos que obtiverem 2% dos votos válidos em pelo menos 14 estados, com no mínimo 2% de votos válidos em cada um deles, terão direito ao fundo partidário, ao acesso gratuito ao rádio e à televisão e ao uso da estrutura própria e funcional nas casas legislativas. A partir de 2022, a cláusula de barreira subiria para 3% dos votos válidos, distribuídos em pelo menos 14 estados, com um mínimo de 2% dos votos válidos em cada um deles