Meses após anúncio de reforma, Estação Ferroviária segue abandonada pela prefeitura
08 maio 2017 às 19h23

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Um dos principais pontos turísticos e históricos de Goiânia sucumbe ao descaso do poder público
Fotos: Fernando Leite/ Jornal Opção
Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), a Estação Ferroviária de Goiânia é um grande exemplo da falta de interesse da prefeitura em preservar a história da capital.
Localizado na Praça do Trabalhador, o prédio sofre com os desgastes do tempo e está fechado há anos. Basta uma rápida busca na internet para perceber que o problema é antigo e, entra ano, sai ano, veículos de comunicação fazem matérias alertando para a gravidade do problema.
Nesta segunda-feira (8/5), o Jornal Opção foi ao local para retratar a triste realidade de um dos grandes patrimônios da Art Decó mundial. Abandonada, a estação é só sujeira, mofo e ponto de encontro de usuários de droga.
O odor é insuportável e o interior do prédio é desolador: murais pintados por Frei Confaloni sucumbem ao descaso. Nas fotos do repórter fotográfico Fernando Leite é possível ver o estado que se encontram tanto a estação quanto o exemplar da Maria Fumaça, locomotiva a vapor que operou na antiga Estrada de Ferro Goyaz.
Um único funcionário da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) foi avistado pela reportagem cuidando da grama da Praça do Trabalhador. Não havia nenhum Guarda Civil Metropolitano, nem policial militar no local — reclamações de falta de segurança são recorrentes.
Não era para estar assim

No entanto, a situação do local era para ser outra bem diferente. Em setembro de 2016, o então prefeito Paulo Garcia (PT) anunciou que havia conseguido junto ao governo federal R$ 7 milhões para restauração da Estação Ferroviária de Goiânia e a revitalização da Praça do Trabalhador.
Em matéria postada no site da própria prefeitura, consta que os recursos já estavam garantidos por meio do programa PAC Cidades Históricas. O projeto arquitetônico foi doado à administração municipal pela arquiteta Janaína de Castro e previa a restauração de toda a construção, “incluindo piso, revestimento e painéis do Frei Confaloni instalados na Estação Ferroviária, além da revitalização da iluminação e do paisagismo”.
“A Praça do Trabalhador contará com uma área de recreação com pergolado, academia ao ar livre e mesas de tabuleiro. Uma fonte será instalada na praça representando o monumento ao trabalhador, demolido na época da Ditadura Militar. A Maria Fumaça será restaurada e relocada e os trilhos serão recompostos parcialmente, simbolizando onde o trem passava. O interior da estação sediará a banda marcial de Goiânia e abrigará museu sobre a história da Capital, um local de leitura e uma cafeteria”, versa o texto.
Oito meses depois, nada saiu do papel. Em nota, a gestão Iris Rezende (PMDB) alega que os recursos nunca chegaram devido a um contingenciamento por parte do Ministério da Cultura. A própria superintendente do Iphan em Goiás, Salma Saddi, confirmou ao Jornal Opção que o governo Temer baixou decreto no dia 15 de dezembro de 2016 impedindo a licitação de qualquer obra do PAC.
Mesmo assim, a prefeitura garante que o Gabinete Executivo de Projetos Especiais (Gepac) está trabalhando para conseguir reaver o montante. “Há cerca de 40 dias servidores do Gabinete se reuniram com o ministro da Cultura, Roberto Freire [PPS-SP], que sugeriu que a Prefeitura de Goiânia cadastrasse paralelamente o projeto aprovado tecnicamente pelo MinC na Lei Rouanet, principal mecanismo de fomento à Cultura do Brasil, o que foi feito de imediato”, relata a nota.
Veja a nota na íntegra:
A Prefeitura de Goiânia informa que o projeto de revitalização da Estação Ferroviária de Goiânia foi aprovado no ano passado pelo Ministério da Cultura (MinC), por meio do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), através do programa PAC Cidades Históricas. Entretanto, por conta de contingenciamento, os recursos não foram liberados pelo Governo Federal. O contingenciamento consiste no retardamento de parte da programação de despesa prevista na Lei Orçamentária do governo federal.
A atual gestão, no entanto, salienta que o Gabinete Executivo de Projetos Especiais (Gepac) da prefeitura está trabalhando para que os recursos cheguem à Capital. Há cerca de 40 dias servidores do Gabinete se reuniram com o ministro da Cultura, Roberto Freire, que sugeriu que a Prefeitura de Goiânia cadastrasse paralelamente o projeto aprovado tecnicamente pelo MinC na Lei Rouanet, principal mecanismo de fomento à Cultura do Brasil, o que foi feito de imediato.
Assim que os recursos forem liberados pelo Governo Federal, a prefeitura abrirá a licitação para contratar o projeto executivo e obra.
Assessoria de imprensa da Prefeitura de Goiânia
Histórico

A Estação Ferroviária de Goiânia foi inaugurada em 11 de novembro de 1952, durante a gestão do então capitão e ex-governador do estado, Mauro Borges, que era diretor da Estrada de Ferro de Goiás. Porém, o Guia Geral de Estradas de Ferro do Brasil relata que a inauguração teria se dado em 1950.