Meirelles diz que criou fundo em paraíso fiscal para administrar sua herança
06 novembro 2017 às 11h29

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Ministro da Fazenda foi exposto em investigação jornalística mundial, mas nega qualquer irregularidade

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), afirmou, nesta segunda-feira (6/11), que criou um fundo no paraíso fiscal das Bermudas para “gerir” parte de sua herança e que a aplicação dos recursos foi declarada à Receita Federal e ao Banco Central.
Um dos nomes mais importantes do governo do presidente Michel Temer (PMDB), o goiano Meirelles criou o fundo em 2002 e teve a informação divulgada pelo site “Poder360”, um dos quase 100 veículos de imprensa que analisaram milhões de documentos do caso batizado como “Paradise Papers”.
“Está tudo declarado, como tudo o que eu faço, não só à Receita Federal, ao Banco Central. E também qualquer movimentação. É uma entidade filantrópica. Visa investir recursos em educação no Brasil, exclusivamente”, disse em entrevista à rádio BandNews.
O ministro da Fazenda acrescentou que, na época em que criou o fundo, morava no exterior. “Na época, dirigia uma grande instituição financeira internacional. Morava no exterior. Ela [a entidade], portanto, foi constituída no exterior”, garantiu
Meirelles e o ministro de Agricultura, Blairo Maggi (PP-MT), estão entre as dezenas de políticos mundiais ligados a empresas em paraísos fiscais, de acordo com uma investigação divulgada no último domingo (5) simultaneamente por vários veículos da imprensa mundial.
“Foi feita uma pequena doação inicial visando constituir a entidade. E depois disso a entidade está inativa. A partir do momento que ocorrer o meu falecimento, uma parte da minha herança será doada para esta entidade para aplicar exclusivamente em educação no Brasil”, acrescentou Meirelles.
Ele disse ainda que essa era a maneira “mais eficaz e objetiva” para direcionar os recursos definida por seus advogados. “As regras de aplicação são muito claramente definidas. Garantem a aplicação de recursos de herança de maneira muito eficaz”, disse.
Expostos
Os documentos da “Paradise Papers” mostram que o contrato do fundo foi registrado no fim de 2002, a partir de uma doação de US$ 10 mil, realizada pelo próprio Meirelles, que, pouco depois, assumiu o cargo de presidente do Banco Central, no qual ficou até novembro de 2010. Meirelles disse ao “Poder360” que o Sabedoria Foundation ainda não recebeu ativos e que o fundo receberá parte de sua herança quando ele morrer.
Já Maggi é apontado como beneficiário final de uma empresa aberta nas Ilhas Cayman em 2010, com participação de uma de suas empresas e a holandesa Louis Dreyus, de acordo com a investigação.
Um ano antes, uma subsidiária da Louis Dreyfus e a Ammagi Exportação e Importação chegaram a um acordo para criar uma filial conjunta para atuar no mercado de grãos em quatro estados do Brasil. A filial foi registrada em um município na Bahia com o nome de Amaggi & LD Commodities, iniciando sua operação em janeiro de 2010.
Em 2010, a Ammagi & LD Commodities abriu uma offshore nas Ilhas Cayman, chamada Ammagi LD Commodities International, de acordo com o “Poder360”.
A defesa do ministro negou ao “Poder360” que ele tenha recebido qualquer valor diretamente da offshore, mas admitiu que ele é um beneficiário indireto da empresa.
A investigação foi feita por 382 jornalistas de quase 100 veículos, que analisaram mais de 13 milhões de documentos que compreendem um período de quase 70 anos (1950-2016). Os documentos foram vazados de dois escritórios especializados em abrir offshores, o Appleby e o Asiatici Truste. (As informações são da Agência Brasil)