O presidente da França, Emmanuel Macron, e sua esposa, Brigitte Macron, entraram com um processo por difamação contra a influenciadora americana Candace Owens, conhecida nos Estados Unidos por seu ativismo de direita e pela proximidade com discursos da extrema-direita. A ação judicial foi protocolada nesta quarta-feira, 23, no Tribunal Superior de Delaware, nos EUA, e acusa a influenciadora de propagar boatos infundados sobre a identidade de gênero da primeira-dama francesa.

Segundo a agência Reuters, o casal presidencial afirma que Owens iniciou uma “campanha de humilhação global” e promoveu um “bullying implacável” contra Brigitte com o objetivo de atrair audiência para seu podcast e ampliar sua base de seguidores. O processo afirma que a influenciadora ecoou a alegação de que Brigitte Macron teria nascido como homem, sob o nome de Jean-Michel Trogneux — na verdade, nome de seu irmão mais velho. O boato, segundo os autores da ação, não tem qualquer fundamento.

“O comportamento de Owens é injustificado, desumanizante e profundamente injusto”, afirmam os advogados dos Macron. A petição cita 22 acusações contra a influenciadora e solicita uma indenização por danos compensatórios e punitivos, cujo valor não foi divulgado.

Essa não é a primeira vez que Brigitte Macron recorre à Justiça para enfrentar esse tipo de difamação. No início de julho, a primeira-dama francesa levou ao Tribunal de Cassação da França — a mais alta instância do Judiciário francês — um recurso contra a absolvição de duas mulheres que divulgaram o mesmo boato em 2021. Uma delas, Amandine Roy, que se identifica como médium espiritual, discutiu o tema durante uma entrevista com a jornalista independente Natacha Rey, em vídeo publicado no YouTube. Brigitte Macron, no entanto, nunca se pronunciou publicamente sobre o caso.

Apesar da recorrência das alegações, ações judiciais movidas por líderes de Estado contra influenciadores são pouco comuns. Quando envolvem figuras públicas como um presidente, os casos enfrentam um obstáculo jurídico relevante: a necessidade de comprovação de “malícia real” por parte dos réus — ou seja, que os acusados sabiam da falsidade do conteúdo que divulgaram e ainda assim optaram por espalhá-lo.

Candace Owens é uma figura influente na ala conservadora americana e já foi associada a campanhas de desinformação sobre temas diversos. O episódio reacende o debate sobre os limites da liberdade de expressão e as responsabilidades civis de influenciadores em tempos de redes sociais.

Um caso recente e semelhante envolveu o ex-presidente americano Donald Trump, que processou o jornal Wall Street Journal e seu proprietário, Rupert Murdoch, após a publicação de uma matéria que revelava detalhes da relação entre Trump e o financista Jeffrey Epstein — acusado de tráfico sexual e encontrado morto em 2019 em uma prisão de Nova York. A reportagem do jornal incluía a imagem de um cartão de aniversário com mensagens sugestivas, assinado por Trump e endereçado a Epstein.

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