“Leito é vida”, profissionais e usuários criticam redução de leitos de internação pediátrica em Goiânia

03 agosto 2019 às 09h00

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Capital foi a 4ª no ranking de cidades que mais desativaram vagas de internação especializada para crianças

Na semana passada a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou um levantamento que coloca Goiânia em 4º lugar no ranking de capitais que mais fecharam leitos de internação pediátrica entre 2010 e 2019.
Para mães à espera de atendimento na rede pública de pediatria resta o temor de chegar a precisar de um leito especializado. Mãe de duas crianças, Weslayne Silva procurava atendimento de urgência no Cais Campinas na quinta-feira, 1º. Quando soube da pesquisa, Weslayne não se mostrou surpresa. Para a mãe, que sempre recebeu atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS), há anos que os sintomas da falta de leitos estão sendo sentidos.
“Nós que não temos uma vida financeira boa, não temos como recorrer ao atendimento particular, precisamos do serviço completo oferecido pelo SUS. Então é o tipo de coisa que não pode faltar, leito é vida. Se uma criança precisa da vaga hoje, esperar não pode ser opção, ela tem que ter”, afirma Weslayne, que considera que o principal erro da administração da Saúde é criar as ações sem diálogo com a comunidade.
Também à espera de atendimento no Cais Campina, Katiuscia Machado, mãe de uma criança de sete meses, reforça a fala da primeira mãe e diz que as famílias que precisam buscar atendimento em pediatria no SUS vivem em constante receio de precisar de um leito e cita a situação do Materno Infantil no início do ano, que chegou ao colapso por falta de vagas.
Administradores da Saúde confirmam
Para funcionários da administração da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que não quiseram ser identificados, a redução registrada nos últimos nove anos está diretamente ligada à uma série de políticas que desestruturou a área, causando baixa no número de profissionais que atuam na pediatria durante o mesmo período.

Segundo os administradores, os fatores para crise da área são múltiplos, mas destacam o que há meses vem se tornando mais evidente. Mesmo com a promoção de novas vagas na pediatria, é baixa a adesão por parte dos médicos, que segundo os administradores, fazem opção por áreas mais rentáveis.
Atrelado à baixa procura pela especialidade por parte dos médicos, haveria, segundo os funcionários da SMS, um esquecimento do poder público para a área.
“O que a gente observa é que os médicos que estão se formando não se interessam pela pediatria, justamente porque em outras áreas está sendo mais rentável. E em paralelo a isso o poder público não atua com políticas para reverter essa situação”, afirma uma administradora.
O que diz o poder público
Sobre as desativações, a reportagem pediu posicionamento das secretarias Estadual e Municipal de Saúde no dia 29 do último mês, em resposta, ambas afirmaram estar fazendo o estudo dos dados apresentados pela SBP e até a publicação dessa reportagem o Jornal Opção segue aguardando resposta.