No Dia Internacional do Podcast, comemorado em 30 de setembro, é de um estúdio localizado na região central de Goiânia que nasce o programa que promete impactar a forma de debater e lidar com um dos transtornos que sempre preocupou – e intrigou – a comunidade científica. “Autismo sem culpa”, idealizado pela jornalista e mãe atípica Carla Lacerda e pela administradora Alexandra Duarte, promete tanto não romantizar o tema, como também não abordá-lo de qualquer forma, sem leveza e sem cuidado. O podcast e videocast estreiam justamente na próxima segunda-feira, 30, no Spotify e YouTube. Os episódios, quinzenais, serão postados sempre às 20h.

De acordo com as apresentadoras, o canal pretende desmistificar o autismo, ao mostrar que o transtorno não é um erro ou uma falha, mas parte da diversidade humana. Atualmente, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, a cada 36 crianças norte-americanas de até 8 anos nos Estados Unidos, uma recebe o diagnóstico de autismo. No Brasil, não existem pesquisas oficiais, mas se os mesmos números fossem transpostos para o país, chegaríamos a quase 6 milhões de pessoas com a síndrome.

“É nossa meta promover reflexão, trazer esclarecimento à população, mostrar que cada um pode fazer a sua parte, e, ainda, promover encorajamento, dar voz às famílias atípicas (que têm filhos com deficiência), além de contribuir com o processo de inclusão em nosso país. Cada pessoa pode ser um agente de transformação, inclusive nossos próprios filhos”, atesta Alexandra Duarte. “O podcast está ancorado em três pilares: ciência, jornalismo e histórias de vida”, complementa.

A jornalista Carla Lacerda, mãe do pequeno João Lucas, de 11 anos, autista de nível de suporte 3, explica o porquê do nome do programa. “O ‘sem culpa’ reforça o conceito da diversidade humana e ainda derruba uma ideia errônea que foi usada pela primeira vez no final dos anos 40 pelo psiquiatra austríaco Leo Kanner – olha a complexidade das coisas! -, por um acaso, um profissional considerado de vanguarda e que já havia defendido anos antes, no American Journal of Psychiatry, que as pessoas com deficiência merecem seu lugar na sociedade. O termo em questão era o de “mãe-geladeira”, que jogava a responsabilidade da causa do autismo dos filhos nos pais, como se o transtorno não fosse uma condição neurológica”, conta Carla.

Ainda de acordo com a jornalista, o problema nem foi tanto a declaração de Kanner, que mudou de opinião ao longo da vida e se retratou posteriormente, mas, pasmem, a de um historiador de arte, Bruno Bettelheim, que popularizou o termo “mãe-geladeira”, após uma entrevista em 1971, ao correlacionar o autismo à falta de afeto de mães. “Aí já viu, né?! Haja movimentos e lutas para derrubar fake news. E as pessoas falando que autismo virou moda agora…Realmente precisamos ainda de mais discussão e visibilidade”, argumenta Lacerda.

“Teremos muitos temas e convidados especiais. E sempre famílias e os próprios autistas – que se sentirem à vontade – para contar e nos ensinar com suas histórias”, emenda Alexandra, ao revelar que o primeiro episódio é dedicado ao tema da maternidade atípica. As convidadas são Leana Bernardes, psicóloga e analista do comportamento, com certificação pela Qualified Applied Behavior Analysis Credentialing Board (QABA®️), nível de mestrado; e Isabela Veiga, editora de vídeo e mãe de gêmeos autistas, Lucas e Beatriz, de 5 anos.