O líder da comunidade judaica em Goiânia, Max Machado Cohen, comentou sobre a recente crise diplomática entre Brasil e Israel. Em entrevista ao Jornal Opção, o rosh, que é cargo dado a um coordenador dentro do Judaísmo, criticou a declaração do presidente Lula (PT).

“É uma proporção totalmente desmedida, fora daquilo de acordo entre países. Isso que ele fala não é na intenção de ajudar a Palestina, faz para alimentar o ódio gratuito ao povo judeu, ao antissemitismo que vem acontecendo no mundo”, critica.

A comunidade judaica em Goiânia tem cerca de 45 famílias. Para Cohen a fala do presidente da República tem um impacto muito grande, porque, segundo ele, tem o poder de influenciar outras pessoas.

“Muita gente olha e pensa: bom, se o líder máximo da nossa nação está falando isso, deve ter algum fundamento. Então, nós precisamos desmitificar essas acusações, ou comparações, que o Lula tentou fazer. O Holocausto não foi qualquer genocídio, foi talvez o mais absurdo e violento que a humanidade já assistiu. Eu não estou falando de número de mortos, somente, mas da maneira como ele foi arquitetado, desenhado e no nível da brutalidade”, argumenta.

O principal jornal de Israel afirmou que a fala de Lula é muito problemática, mas que também a reação do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, foi infantil. Além disso, o veículo destacou ainda que ele tem ficado isolado com relação à guerra.

“Quando uma pessoa escolhe acusar a vítima daquilo que o seu algoz fez com ela, você está descredibilizando o que foi feito com aquela vítima. Isso é tão grave, tão absurdo, que demonstra o método que todos os antissemitas seguem. É curioso a gente observar, por exemplo, que esses que criticam ou acusam Israel não dizem que o regime era igual ao fascismo da Itália ou o comunismo da União Soviética. Por que eles não fazem isso? Comparar com os nazistas é humilhar, destruir, quebrar, igualar a vítima ao ser algoz”, alega.

Um coletivo judaico de São Paulo, chamado Vozes Judaicas por Libertação, integrados por pesquisadores, historiadores, professores, a maioria ligados à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), elaboraram uma nota em defesa à fala do presidente Lula.

Eles externaram que não concordam com a inserção terrestre e os ataques massivos de Israel contra Gaza, da forma como está sendo feito. O coletivo defende que, se a criação e fundação de um estado judaico foi uma medida de sobrevivência em um mundo sitiado, logo se tornou um pesadelo.

Na visão do Vozes Judaicas por Libertação, o estado de Israel não trouxe emancipação verdadeira aos judeus, pois a sua existência é mantida às custas da negação da autodeterminação dos palestinos, e hoje tanto de um lado, quanto de outro, vive-se a duras penas nesses conflitos extremados.

“Israel não causou a guerra, o governo não pediu. O Hamas é um grupo terrorista que não representa a Palestina. Israel sempre foi a favor da criação de um estado palestino. Pessoas vítimas do holocausto foram levadas cativas pelo Hamas. Israel está se defendendo, é muito diferente. Nada justifica a fala do presidente Lula”, finaliza.

Diplomacia

Nesta quarta-feira, 21, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, inaugurou a reunião de chanceleres do G20, que representa as principais economias globais. Durante seu discurso, o ministro destacou a posição do Brasil contrária a um cenário em que divergências sejam resolvidas por meio da força militar, e expressou preocupação com a paralisação da ONU.

“Nossas posições sobre os casos ora em discussão no G20, em particular a situação na Ucrânia e na Palestina, são bem conhecidas e foram apresentadas publicamente nos foros apropriados, como o Conselho de Segurança da ONU e a Assembleia Geral da ONU”, disse ele.

A fala do ministro reforça a tendência de que o Brasil, nem Lula, pretendem se retratar sobre a polêmica com Israel. O encontro do G20 está programado para continuar até quinta, 22, no Rio de Janeiro.

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