Durante a rodada de interrogatórios desta quarta-feira, o réu Danilo Dias Dutra foi o único a confessar sua participação na associação criminosa de Carlos Augusto Ramos

A penúltima audiência da instrução criminal do caso Cachoeira, resultante das investigações da Polícia Federal para a Operação Monte Carlo, contou com os interrogatórios de um irmão e de um sobrinho de Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Pai e filho são acusados de explorar jogos ilegais nos municípios de Goiânia, Anápolis e Uberlândia (MG). A defesa dos réus foi guiada pela suposta incongruência e ausência de exatidão nas denúncias oferecidas pelo Ministério Público Federal (MPF).

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Primeiro a ser interrogado na tarde desta quarta-feira (28/5), o irmão de Cachoeira, Paulo Roberto de Almeida Ramos, alegou que suas relações comerciais com o chefe do esquema criminoso são datadas de um período bastante anterior à deflagração da Monte Carlo, quando a exploração de jogos ainda não era considerada ilegal. Paulinho, como é conhecido, trabalha atualmente no ramo imobiliário e não reside no Estado de Goiás, o que, segundo ele, também comprovaria sua inocência.

Durante a audiência, o próprio juiz federal substituto Francisco Vieira Neto, da 11ª Vara Federal de Goiás, chamou a atenção para o fato de que não há nas denúncias do MPF indicações de que Paulinho realmente integrasse a associação criminosa chefiada por seu irmão.

Com a mesma defesa, Thiago de Almeida Ramos, sobrinho do contraventor, rechaçou a acusação de que, juntamente com o pai, explorava jogos ilegais e realizava acertos de contas com policiais  envolvidos no esquema. Assim como grande parte dos réus que estão sendo ouvidos nesta etapa, Thiago preferiu não comentar sobre as interceptações telefônicas obtidas pelo MPF devido à falta de clareza apresentada.

“Em 2009, tivemos as relações estremecidas após descobrir um caso extraconjugal dele; depois disso, fui morar com minha mãe. Voltamos a nos relacionar apenas após a deflagração da Operação Monte Carlo”, contou o sobrinho de Cachoeira justificando que não seria possível ter mantido relações comerciais com o pai durante o período tratado na acusação.

Em entrevista à imprensa, o advogado de Paulo e Thiago, Marcelo Bessa, disse acreditar que o resultado da audiência será a absolvição de ambos. Para o profissional, seus clientes foram denunciados simplesmente porque são parentes de Carlos Cachoeira. “É natural em uma denúncia com 80 pessoas apresentar esse tipo de problema. Existem inúmeras questões que escapam ou que são colocadas de forma equivocada e que acabam alcançando inocentes”, acrescentou.

Confissão

Durante a rodada de interrogatórios desta quarta-feira, o réu Danilo Dias Dutra foi o único a confessar sua participação no esquema de Cachoeira. O acusado era proprietário de uma casa que explorava jogos ilegais na região do Entorno do Distrito Federal. Seus serviços eram submetidos ao ex-cunhado, José Olímpio Queiroga, considerado pela Polícia Federal como o principal articulador do esquema na região.

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Perante o juiz, Danilo contou que eram escolhidos locais mais afastados e sem muita vizinhança para a instalação das casas. “O acordo era que eu ficava com 25% e dava os outros 75% para o Olímpio”, afirmou o réu. Questionado o porquê da negociata, o acusado explicou que as máquinas do estabelecimento pertenciam a Queiroga, e era ele o responsável pela manutenção e reposição dos aparelhos em caso de apreensão. “Muitas máquinas da minha loja foram apreendidas pela polícia”, declarou.

Danilo alegou desconhecer a participação de policiais militares no esquema de Cachoeira. Segundo ele, em momento algum contou com o auxílio de agentes da corporação em seu estabelecimento.

Demais interrogatórios

Também foi interrogado o policial militar aposentado Uziel Nunes, acusado de repassar informações sigilosas à cúpula da associação criminosa em troca de vantagens econômicas. O réu negou todas as acusações e reforçou as supostas incoerências na denúncia do MPF, já destacadas por outros acusados.

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Uziel reconheceu que informou a Lenine Araújo, apontado como contador do esquema de Cachoeira, acerca de uma operação da Força Nacional no município de Luziânia. Porém, segundo o réu, a ação não era de caráter sigiloso e nem tinha como missão principal o combate à contravenção. “Nunca foi prioridade nossa trabalhar nesse sentido”, justificou.

O militar aposentado também comentou sobre a existência de uma solicitação do comando geral da PM onde era designado que todos os batalhões da corporação atuantes no Entorno priorizassem o combate à violência na região. “Não com essas palavras, mas dizia para a gente não perder tempo procurando caça-níquel”, explicou.

O major Antonil Ferreira, durante interrogatório na mesma tarde, confirmou a versão do militar aposentado de que a prioridade da polícia no Entorno não era reprimir a contravenção. Com acusações semelhantes às de Uziel, o réu negou envolvimento com a associação criminosa e também questionou as interceptações telefônicas  presentes na denúncia. “Nunca fui ligado a ninguém; nem é meu telefone. Não houve quebra do meu sigilo, por exemplo”, protestou.