Ipea projeta aumento do PIB em 2,2% em 2023, e economista fala em “retomada econômica”

06 julho 2023 às 15h23


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O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou suas previsões econômicas diante dos avanços observados na economia brasileira nos três primeiros meses do ano. As novas previsões, divulgadas na Visão Geral da Conjuntura na quarta-feira, 5, apontam para um crescimento mais robusto e uma inflação menor do que o esperado anteriormente para 2023.
De acordo com o Ipea, a nova previsão é que o Produto Interno Bruto (PIB), que representa a soma de todos os bens e serviços finais produzidos no país, cresça 2,2% em 2023. Essa estimativa representa um aumento significativo em relação à previsão anterior, que era de 1,4% até março. De acordo com a economista Greice Guerra, isso se dá pela retomada da economia.
“Como nós conseguimos sair da pandemia, apesar de não ter sido finalizada, mas como já avançamos com a chegada das vacinas, houve a volta da cadeia produtiva, com retorno dos insumos sendo produzidos. Isso alavancou o PIB mesmo. Sobre a inflação menor, basta ver que o IPCA [Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo] vem apresentando queda, assim como o IGP-M [Índice Geral de Preços – Mercado], nos últimos dois meses. Isso é em função de queda nos combustíveis e nas commodities”, explicou a economista, ao Jornal Opção.
A previsão da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou de 5,6% para 5,1% em 2023. Conforme indicado no relatório, a revisão da previsão do PIB para o ano de 2023 foi motivada pelo desempenho acima das expectativas do Ipea nos primeiros três meses do ano.
Inicialmente, o instituto previa um crescimento de 1,2% em relação ao trimestre anterior e um avanço de 2,7% em comparação com os primeiros três meses de 2022. No entanto, o crescimento registrado foi ainda mais significativo, alcançando 1,9% em relação ao trimestre anterior e 4% comparado ao mesmo período do ano anterior, em 2022.
Inflação
A perspectiva é de estabilidade para o restante do ano devido à inflação menor que a esperada. Essa redução é atribuída à valorização do real brasileiro, que, juntamente com a deflação das cotações das commodities, exerce uma pressão para baixo nos preços no atacado. Essa dinâmica resulta em um cenário de desinflação no varejo e nos preços ao consumidor. De acordo com a análise divulgada, espera-se que essa tendência de estabilidade se mantenha para o restante do ano.
“Temos que elucidar que a zona do Euro está entrando em recessão e alguns países daquela região ainda estão elevando suas taxas de juros para conter a inflação. Nos Estados Unidos ainda existe perspectiva da elevação da taxa de juros. Então, tudo isso promove uma valorização do real, ou seja, as commodities internacionais influenciam sim”, destacou a especialista.
No documento, os pesquisadores fornecem uma análise detalhada dos fatores que contribuem para o cenário projetado. Um deles é a reabertura econômica da China. Neste ano, o Brasil alcançou recordes mensais de superávit na balança comercial, impulsionados pelo aumento das exportações de commodities como petróleo, minério de ferro, milho e soja.
“A China é o nosso principal parceiro comercial. Então, a reabertura da China nos leva a exportar mais e causa um superávit na balança comercial. Mas, vale elucidar que a economia chinesa vem apresentando nos últimos meses um cenário de contração industrial, então talvez não demande tanto dos nosso produtos. Entretanto, existe uma tendência dela se recuperar, talvez não consiga por completo nesse ano, mas acredito que a reabertura dela acarreta consequências positivas para nossa economia”, argumenta a especialista.
Taxa de juros
Internamente, o Ipea identifica duas forças distintas atuando em direções opostas. Por um lado, a autoridade monetária tem mantido taxas de juros elevadas por um período prolongado, com uma média anualizada de 45% no mercado de crédito. Isso exerce pressão para baixo sobre o crescimento econômico.
Por outro lado, as medidas fiscais adotadas têm contribuído para impulsionar o crescimento. Elas incluem a sustentação da renda das famílias e o aumento da demanda pública, tanto por meio do consumo do governo quanto por investimentos públicos.
“A taxa de juros do Banco Central é um problema quando está alta, porque inibe o setor produtivo e o consumo das famílias. Ou seja, o crédito fica mais caro. Então, a pessoa ou a empresa vai fazer um financiamento e paga uma elevada taxa de juros e muitas vezes não faz. As empresas retraem seus investimentos e as famílias o consumo”, ressaltou Greice Guerra.
“A partir do segundo semestre na reunião de agosto, o Banco Central já sinalizou a primeira queda da taxa de juros. Vai cair justamente porque a inflação vem caindo, mas há que se avaliar que o país ainda está em um risco fiscal muito grande. Então, não basta apenas a queda da taxa Selic, o déficit fiscal ainda é muito alto e o Banco Central é bem cauteloso nesse ponto. Por isso o corte começará tímido, de percentuais pequenos, talvez 0,25, no máximo 0,50”, completa.
De acordo com a economista, a queda na taxa de juros também eleva o PIB, porque o crédito fica mais barato para empresas, setor produtivo e as famílias. O Ipea ressalta que durante o segundo trimestre deste ano, novas medidas estão sendo implementadas para sustentar a renda das famílias. Estas medidas incluem um aumento do salário mínimo, reajuste dos salários dos funcionários públicos federais, antecipações do abono salarial e ajustes no valor do Bolsa Família.
Marco fiscal
Greice Guerra lembra que toda essa previsão de crescimento do PIB, redução da inflação, ou seja, toda essa perspectiva do Ipea depende da aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária.
“Nós precisamos de um marco fiscal eficiente. Esse arcabouço fiscal é tido como um pouco duvidoso pelo mercado, porque ele é baseado muito em arrecadação. É uma receita duvidosa porque ela pode vir, como também não. Se não ocorrer de maneira satisfatória, o déficit fiscal vai aumentar cada vez mais, o que pode levar o Banco Central rever o aumento da taxa de juros”, pontua.
“Se a reforma tributária for aprovada de maneira justa e satisfatória, vai desonerar um pouco o setor produtivo e vai fortalecer as empresas, que por sua vez eleva o crescimento do PIB com aumento do emprego. De uma maneira geral, nessa saída da pandemia nosso Banco Central soube administrar muito bem. Então, enquanto os países do Euro e os EUA ainda estão aumentando os juros para conter a inflação, nós começamos a olhar para uma queda de preços e juros também”, finalizou.
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