Produtora de sócio de ministro recebe R$ 12 milhões em contratos de estatais durante governo Lula

Uma investigação conduzida pelo jornal O Estado de S. Paulo revelou que a produtora audiovisual Macaco Gordo, pertencente ao empresário Francisco “Chico” Kertész, sócio do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, recebeu R$ 12 milhões em contratos de publicidade de estatais durante o governo Lula. Os pagamentos foram feitos por meio de agências contratadas pela Caixa Econômica Federal e pela Embratur entre 2024 e 2025.

Apesar da relação comercial entre os dois empresários, Sidônio nega qualquer interferência nas contratações e afirma ter se afastado da gestão de suas empresas ao assumir o cargo público. A Secom também declarou que não participa da escolha de fornecedores terceirizados pelas agências de publicidade.

Em nota enviada ao Estadão, Chico Kertész defendeu a legitimidade das contratações. Segundo ele, a Macaco Gordo tem mais de 15 anos de atuação e já realizou projetos para marcas como Natura, Britânia, Perdigão, Multishow, Rede Globo, Record, SBT e Ivete Sangalo. No setor público, a produtora já prestou serviços para as prefeituras de Salvador e do Rio de Janeiro, além dos governos estaduais do Maranhão, Pará e Bahia.

Kertész afirmou que a escolha da Macaco Gordo para campanhas do governo federal se deu por meio de processos internos de concorrência conduzidos pelas agências de publicidade, com base em critérios técnicos e de menor preço. “Em todos esses casos, ingressamos no processo de concorrência a convite das agências publicitárias, sem contato com a Secom ou qualquer outro órgão da administração”, disse.

Em 2025, já com Sidônio no comando da Secom, Chico Kertész realizou 13 visitas ao Palácio do Planalto, todas para se encontrar com o ministro. Ele afirma que os encontros foram de cunho pessoal e que nunca trataram de negócios da produtora.

A relação entre os dois empresários é antiga. Em 2022, fundaram juntos a M4 Comunicação e Propaganda, que atuou na campanha presidencial de Lula e depois passou a se chamar Nordx, prestando serviços ao diretório nacional do PT. Sidônio ainda figura como sócio da Nordx, mas deixou a função de administrador ao assumir o cargo público.

As contratações da Macaco Gordo ocorreram de forma indireta. As estatais mantêm contratos com agências de publicidade, como Binder, Calia e Propeg, que subcontratam produtoras de vídeo sem necessidade de licitação formal. A legislação exige que essas agências façam cotação de preços com pelo menos três propostas para justificar a escolha da mais barata.

A Caixa afirmou que todas as contratações seguiram os critérios legais e internos da instituição. “A produtora foi selecionada por apresentar a proposta de menor preço entre, no mínimo, três orçamentos coletados no mercado. Desde janeiro de 2023, a Caixa trabalhou com 41 produtoras de vídeo”, informou em nota.

A Embratur, por sua vez, declarou que realiza chamadas públicas e sessões abertas para a escolha das produtoras, com entrega de propostas em envelopes lacrados. Afirmou ainda que não houve qualquer interferência de Sidônio Palmeira.

Campanhas e valores

Confira algumas das campanhas executadas pela Macaco Gordo:

Histórico de suspeitas

No governo da Bahia, o Tribunal de Contas já havia apontado possíveis irregularidades na escolha da Macaco Gordo para campanhas da Leiaute, agência de Sidônio. O Ministério Público estadual abriu uma ação civil, encerrada após acordo com a agência, que se comprometeu a adotar controles mais rígidos.

As agências Binder e Calia afirmaram que a escolha da Macaco Gordo ocorreu após processo de cotação de valores de mercado, com a produtora apresentando o menor preço. A Propeg não se manifestou.

O que dizem os envolvidos

– Sidônio Palmeira (Secom): “Jamais indiquei ou endossei a escolha de fornecedores pelas agências. Afastei-me da gestão das empresas ao assumir o cargo.”

– Chico Kertész (Macaco Gordo): “Fomos escolhidos por qualificação técnica e menor preço, sem qualquer contato com a Secom.”

– Caixa Econômica Federal: “Aprovamos os orçamentos por representarem a proposta de menor custo, conforme os ritos legais.”

– Embratur: “A seleção é feita pela agência responsável, por meio de chamada pública.”– Agências Binder e Calia: “A escolha da produtora seguiu critérios técnicos e de menor preço.”

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