Insetos que polinizam lavouras estão ameaçados, diz estudo internacional assinado por pesquisadora da UFG

30 outubro 2023 às 16h02

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Diversas lavouras tropicais em todo o mundo, incluindo os cafezais e cacaueiros no Brasil, enfrentam a ameaça de perder seus polinizadores devido à crise climática. Um novo estudo internacional, que é assinado por uma pesquisadora da Universidade Federal de Goiás (UFG), indica que a presença essencial de insetos, como abelhas, borboletas e besouros, responsáveis pela polinização de flores, pode diminuir em mais da metade em um planeta mais quente.
O risco de impacto na produtividade agrícola é particularmente significativo em países como Brasil, China, Índia, Indonésia e Filipinas, conforme revelado pela pesquisa recentemente publicada na revista Science Advances. Frutas como manga, melancia, cacau e café estão entre as culturas que podem sofrer devido à escassez de polinizadores.
O estudo, liderado por Joseph Millard do Museu de História Natural de Londres, e coassinado por Luísa Carvalheiro, da UFG, e Felipe Deodato da Silva e Silva do Instituto Federal de Mato Grosso (IFTM), utilizou dados de 2.673 localidades e 3.080 espécies de insetos polinizadores.
A análise considerou dois cenários distintos de aumento de temperatura, 1,5°C e 3°C, até o final do século, empregando modelos matemáticos para prever as respostas dos polinizadores às mudanças, levando em consideração seus habitats atuais.
Nos trópicos, onde as temperaturas já são elevadas, os efeitos das mudanças climáticas tendem a ser mais graves para o funcionamento dos organismos dos insetos. Embora as consequências exatas da diminuição na abundância de polinizadores nas colheitas ainda não sejam totalmente compreendidas, a perspectiva é preocupante.
Agrotóxicos também influenciam
A redução na presença de polinizadores pode ter impactos críticos, levando a questionamentos sobre se um número reduzido de indivíduos seria capaz de compensar a perda. Mesmo que a polinização pareça estar ocorrendo normalmente até certo ponto, a perda adicional de apenas 1% dos polinizadores remanescentes poderia desencadear um colapso abrupto do sistema.
“E essa mudança rápida pode ser ainda mais acentuada no caso de plantas que dependem de polinizadores com características muito específicas”, disse Luísa Cavalheiro ao jornal Folha de S. Paulo. “Por exemplo, o tomate e o pimentão precisam ser visitados por abelhas que tenham capacidade de vibração para que efetivamente ocorra a polinização. Já o maracujá precisa de abelhas bem grandes, e essas são as que mais vão sofrer com o aquecimento global.”
Além da crise climática, a diminuição dos polinizadores também é impulsionada pelo uso de agrotóxicos e pela perda de habitats naturais dos insetos. Como resultado, alguns agricultores já recorrem à polinização manual, realizada por seres humanos, em cultivos como maçã, maracujá, tomate e baunilha.
“No entanto, os polinizadores fazem o seu trabalho gratuitamente, enquanto a polinização manual requer mão de obra humana, o que leva a um aumento de custos”, ressalta Cavalheiro.
“Outra prática que é cada vez mais usada é o aluguel de caixas de abelhas, cujo preço tem subido cada vez mais. Além de trocarmos, do mesmo, um serviço gratuito por algo pago, o número de espécies manejadas nesse sistema é pequeno —a abelha europeia Apis mellifera é a mais comum. Mas, para muitas culturas, essas espécies não têm os atributos adequados para atuar como polinizadoras”, pontua.
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