Victor de Paula Gonçalves, de 27 anos, conhecido como Victor Bonato, fundador de um “movimento” religioso direcionado a jovens em Alphaville, um bairro rico de Barueri, na Grande São Paulo, foi preso sob suspeita de estuprar três jovens que participavam do Galpão, um grupo que ele estabeleceu há dois anos, com o propósito de ser um “elo entre a pessoa que está perdida e a igreja”.

Em agosto, o influencer chegou a responder uma dúvida de um seguidor no Instagram, que perguntou “como vencer o pecado da imoralidade sexual”. Em vídeo, ele disse que a resposta estava em uma passagem bíblica, em salmos, capítulo 119, versículo 9.

“Como pode um jovem manter pura sua conduta? Vivendo de acordo com a tua palavra. No versículo 11, complementa dizendo guardei a tua palavra no meu coração para não pecar contra ti. Se você quer se libertar do pecado da imoralidade sexual, daquele pecado de estimação, de qualquer vício, você tem que guardar a palavra do Senhor, meditar na palavra do Senhor”, publicou.

Afastado

As vítimas, duas estudantes de medicina de 19 e 20 anos, e uma empresária de 24 anos, buscaram a Delegacia da Mulher de Barueri em setembro para denunciar que Victor Bonato utilizava sua “influência religiosa” para manipulá-las e forçá-las a ter relações sexuais com ele. As autoridades policiais e o Ministério Público de São Paulo (MPSP) apontaram um possível risco de fuga por parte do influencer, levando à decisão judicial que resultou em sua prisão em 20 de setembro.

De acordo com o inquérito policial, os crimes teriam ocorrido entre janeiro e setembro deste ano, em locais diversos, incluindo a residência de Bonato em Alphaville. Um dia antes de as mulheres registrarem a ocorrência na delegacia, o influencer postou um comunicado em sua conta no Instagram, que tem 146 mil seguidores, expressando que precisava “se arrepender profundamente” e anunciando um “detox de redes sociais”.

No dia seguinte à denúncia formal feita pelas vítimas e véspera de sua prisão, Bonato retornou às redes sociais para anunciar que estava se “retirando da liderança” do Galpão e que estava “tirando um tempo para se curar no Senhor”. Na mesma ocasião, o Galpão emitiu uma nota declarando que o influencer não fazia mais parte do movimento religioso, sem, no entanto, abordar explicitamente as acusações de estupro feitas pelas seguidoras.

“Alguns acontecimentos ferem diretamente o que o Galpão acredita e segue, fere a palavra e está em desacordo com o que Jesus nos ensina. Por esse motivo, ele foi afastado do Galpão.”

Sete dias depois, uma nova nota divulgada pelo Galpão anunciou uma “reforma” no movimento, suspendendo os encontros presenciais que ocorriam semanalmente às terças-feiras. A justificativa mencionou “em razão da apuração dos fatos que estão sendo divulgados e de um novo tempo que Deus está nos direcionando”, sem fazer menção às acusações contra o fundador.

O crime

A prisão de Victor Bonato foi ordenada pelo juiz Fabio Calheiros do Nascimento, da 2ª Vara Criminal de Barueri, em 20 de setembro, e foi efetuada pela Polícia Civil no mesmo dia. Segundo informações do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), Bonato permanece detido.

A decisão do juiz afirma que as três vítimas frequentavam o Galpão em Alphaville e conheceram Bonato “como uma pessoa religiosa e correta”. Elas “desenvolveram algum grau de amizade” com o influencer, “a ponto de frequentar a casa dele”, até que “ele as abordou com intuito sexual”.

Além disso, duas das vítimas “relatam que foram agredidas durante o ato sexual e obrigadas, mediante força, a fazer sexo oral no suspeito”.

“Todas as três vítimas disseram que foram persuadidas a aceitar ato libidinoso ou conjunção carnal, inclusive pela influência exercida pelo suspeito em razão de sua autoridade religiosa como um dos líderes do grupo e pela agressividade dele”, completa o juiz.

Quanto à defesa de Victor Bonato, a advogada Samara Batista Santos, por meio de nota, afirmou que não poderia fornecer detalhes sobre o caso devido ao sigilo da investigação, mas enfatizou que o influencer evangélico “nega veementemente as alegações contra ele”, apesar de ainda não ter sido interrogado.

“Informo ainda que o investigado emitiu um pedido de perdão perante as partes envolvidas, em suas redes sociais, referente ao seu comportamento considerado pecaminoso, no âmbito religioso, sem estar ciente de quaisquer acusações judiciais que estão atualmente em processo de investigação pelas autoridades competentes para fins de esclarecimentos”, afirma a advogada.

“Reitero que respeitamos plenamente a seriedade das alegações em questão e reconhecemos a importância de proteger os direitos de todas as partes envolvidas no caso”, conclui.

Leia também: