Milhares de clientes de diversos bancos em todo o Brasil tiveram os dados corrompidos por vírus. Maior parte do prejuízo foi arcado por instituições financeiras

Delegada Débora Amorin, do Grupo de Repressão a Crimes Cibernéticos da Polícia Federal | Foto: Larissa Quixabeira / Jornal Opção

A segunda fase da Operação Darkode, deflagrada nesta terça-feira (21/3), pela Polícia Federal, expediu 19 mandados de prisão em Goiás, em outros três estados e no Distrito Federal. A investigação partiu das informações de um dos computadores do acusado como líder do esquema milionário de invasão a contas bancárias de clientes de instituições financeiras de todo o Brasil, o goiano Daniel Augusto Bichuete Silva.

Detido no complexo prisional de Aparecida de Goiânia desde de 2015, quando foi deflagrada a primeira fase da operação, Daniel controlava vários colaboradores da organização que sequestrava dados de clientes do internet banking  de diversas instituições e realizavam pagamentos fraudulentos de contas e boletos.

Em seu computador, a PF encontrou planilhas de controle de milhares de transações realizadas pela organização criminosa, que tinha colaboradores de todo o País e atuava desde 2010. O montante do desvio apurado ultrapassa R$ 2,5 milhões.

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Em coletiva na sede da superintendência da Polícia Federal em Goiânia na manhã desta terça-feira, a delegada do Grupo de Repressão a Crimes Cibernéticos da PF, Débora Amorin, explicou que o grupo se utilizava de programas maliciosos que conseguem fazer o sequestro de dados de vítimas aleatórias, invadindo contas de correntistas e realizando o pagamento de boletos e faturas de cartão de crédito.

“Os valores eram desviados em benefícios dos próprios fraudadores ou de pessoas que pagavam pela fraude, e eram utilizados para pagar desde contas de gás, energia e água, até a prestação de um apartamento de luxo de propriedade do Daniel, no setor Marista, em Goiânia”, descreveu.

Ainda de acordo com a delegada, grande parte do prejuízo era pago pelos bancos. A partir da planilha de controle encontrada no HD de um dos computadores apreendidos em 2015, foi identificado o desvio de até R$ 1,3 milhão de uma única instituição financeira, o Santander. Mas valores também foram desviados da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil, Itaú entre outros. Estima-se que o prejuízo total seja superior a R$ 2,5 milhões.

“Praticamente todos os bancos foram lesados”, explicou a delegada, “visto que as vítimas eram escolhidas de maneira aleatória e quando o titular da conta percebe movimentação estranha em seu extrato, o banco é obrigado fazer o estorno”.

A delegada também falou sobre a dificuldade em recuperar o dinheiro desviado pelo esquema. “Sabemos que nosso alvo principal, o líder da organização criminosa, vivia uma vida de luxo e boa parte desses bens já foram bloqueados, mas ele também investiu parte do montante desviado em moeda virtual, o que dificulta o trabalho da polícia em rastrear a destinação desse dinheiro”.

Diligências

Dos quatro pedidos de prisão preventiva expedidos nesta segunda fase, apenas um foi cumprido. Dois dos alvos estão na Inglaterra e já são procurados pela Interpol. Quanto ao quarto procurado, existem indícios de que esteja nos Estados Unidos.

Quanto aos 15 mandados de prisão temporária, oito já foram cumpridos, a maioria deles em Goiás. Dois presos de outros estados devem ser encaminhados para a Superintendência da PF de Goiânia. Todos os envolvidos responderão pelos crimes de furto qualificado, organização criminosa, lavagem de dinheiro e uso de documento falso.

Na manhã desta terça-feira (21/3), cerca de 100 agentes cumpriram diligências em Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis e Senador Canedo, bem como nos Estados do Pará, de Tocantins, de Santa Catarina, além do Distrito Federal.

A partir dos depoimentos e materiais recolhidos nesta terça-feira, a polícia espera descobrir se Daniel continuou comandando o esquema de dentro da cadeia. Ele já tem condenação em segunda instância e cumpre pena no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia.

A polícia brasileira chegou a Daniel Bichuete por meio de informações da polícia investigativa dos Estados Unidos, FBI, que identificou o hacker goiano como um dos mais influentes em uma rede internacional de hackers chamado “Darkode”, que foi desmantelada em 2015.

Como Bichuete não quis colaborar com a investigação, técnicos peritos da PF ainda tentam quebrar o código de uma série de arquivos que se acumulam desde a primeira fase da operação, o que indica que o esquema pode ser muito maior que o já desvendado, até mesmo pela capacidade e inteligência do líder.

“Na grande maioria dos casos de crimes cibernéticos, os autores das fraudes compram os programas de invasão e sequestro de dados, mas no caso de Daniel, temos informações de que ele usava servidores da Rússia, era um esquema sofisticado. Trabalhamos com a hipótese de que ele mesmo tenha desenvolvido o programa que utilizava”, disse Débora Amorim.