O Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região (TRT-GO) caminha para encerrar 2025 com um novo recorde no número de processos ajuizados. Apenas até julho, já foram registradas 48.904 novas ações trabalhistas em Goiás, e a estimativa da Secretaria de Governança de Dados é que o ano termine com cerca de 83 mil processos, o que representaria um crescimento de 7% em relação a 2024, quando foram contabilizadas 78.311 ações. O movimento confirma a curva de alta observada desde 2023 e reflete o impacto da expansão econômica e populacional no Estado.

Ao Jornal Opção, o advogado trabalhista Cassiano Peliz apontou vários fatores que ajudam a explicar essa elevação. “As pessoas têm elencado vários fatores para o crescimento do número de ações trabalhistas, como, por exemplo, a decisão do STF de isentar o beneficiário da justiça gratuita de pagar honorários sucumbenciais, honorários periciais. Eu acredito que o fator mais importante é o econômico. Goiás vem crescendo economicamente. Consequentemente, vai ter mais postos de empregos e a possibilidade de ter ali um litígio entre empregado e empregador aumenta.”

O especialista destacou ainda que os estados mais desenvolvidos economicamente são os que concentram mais demandas trabalhistas. Em Goiás, as regiões mais ricas e com maior atividade empresarial estão entre as que mais registram litígios na Justiça do Trabalho.

Setores que mais concentram litígios

Os números confirmam que o setor de serviços lidera as demandas trabalhistas, seguido pela indústria e pelo comércio. Esses segmentos, segundo Peliz, são justamente os que mais empregam e os principais responsáveis pela movimentação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Em Goiás, também chama atenção a proporção de ações ligadas à agropecuária, que em 2024 respondeu por 3,4% das demandas, quase o dobro da média nacional.

Dados do IBGE mostram que o PIB de Goiás cresceu 7,7% no primeiro quadrimestre de 2025, impulsionado pela agropecuária, indústria e serviços. Além disso, o fluxo migratório para cidades como Senador Canedo, que apresentou o maior crescimento populacional do Brasil, também pressiona as relações de trabalho.

Ainda de acordo com o advogado, muitas ações tratam de direitos básicos não quitados de forma espontânea pelos empregadores. Entre os principais temas, aparecem multas de FGTS e verbas rescisórias. “Essa questão do pagamento de forma espontânea é o que geram as demandas trabalhistas. Se o empregador seguisse de forma perfeita a lei, a gente teria um número muito reduzido de ações trabalhistas”, afirmou.

Quem ganha com os processos?

Apesar da impressão de que uma das partes sai vencedora, Peliz alerta que o litígio trabalhista dificilmente resulta em um cenário de plena satisfação. “Acho difícil falar que alguém saiu favorecido em uma ação trabalhista, né? Porque querendo ou não existe o desgaste do litígio tanto para o empregado quanto para o empregador. (…) Tanto empregado e empregador eles tiveram gastos com essa ação. Então acho difícil falar que alguém sai feliz, né? A gente antigamente tinha uma ideia, uma visão do processo bem contra o mal, isso não existe mais, né? Muitas vezes são interesses ou pensamentos, interpretações. Situações que são divergentes.”

Conciliação 

Goiás se destaca nacionalmente pelo alto índice de resolução de processos por meio de conciliação. Em 2024, mais de 51% dos casos foram encerrados dessa forma, número superior à média nacional, que foi de 44,1%. “A conciliação é importantíssima para a justiça do trabalho. Com o novo Código de Processo Civil de 2015, ganhou muita força essa ideia de tentar conciliar as partes, até pelo que eu disse, não existe o bem contra o mal, ou certo ou errado, às vezes são entendimentos divergentes. E no processo do trabalho isso ganha destaque que inclusive é um princípio norteador da sistemática processual, o princípio da conciliação”, explica Cassiano Peliz. 

O TRT da 18ª Região realiza constantemente audiências por meio dos Centros Judiciários de Métodos Consensuais de Solução de Disputas (Cejusc) e participa de mutirões nacionais de conciliação promovidos pelo Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT) e pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

“A TRT da 18ª Região faz um trabalho muito importante de tentar a composição entre as partes, a conciliação, os servidores são preparados para isso, recebem treinamento, eles estão muito próximos da lei, tentando mostrar lei para o empregador, por exemplo, alguns direitos básicos como verba rescisória, não tem como o empregador transacionar isso, ele vai ter que pagar e o servidor preparado mostra isso a ele”, diz o advogado. 

Acontece ainda a Semana Nacional da Execução Trabalhista que vai até essa sexta-feira, 19. Nesse período, trabalhadores e empresas poderão encerrar seus processos por meio de acordos mediados pela Justiça. Para isso, basta solicitar a inclusão do processo na pauta por meio das Varas do Trabalho, do Cejusc ou pelo próprio advogado.

Valores movimentados pela Justiça do Trabalho

O impacto do crescimento também aparece nos valores arrecadados e pagos. Em 2024, o TRT-GO recolheu R$ 114,2 milhões em custas, emolumentos, contribuições previdenciárias, imposto de renda e multas, alta de 11% em relação a 2023. Já os trabalhadores receberam mais de R$ 1,18 bilhão no mesmo ano, 24% acima do volume de 2023.

Do total, a maior parte foi quitada por meio de acordos (R$ 680 milhões), seguida por valores pagos em execuções forçadas (R$ 383 milhões) e, em menor proporção, de forma espontânea pelos empregadores (R$ 120 milhões). Isso significa que apenas 10% das dívidas trabalhistas foram pagas sem intervenção judicial.

O número crescente de ações confirma a retomada após a queda verificada nos anos posteriores à Reforma Trabalhista. O ponto mais baixo foi em 2022, com 52.523 processos. Desde então, o volume só cresce. Em 2023, foram ajuizadas 64.855 ações, alta de 21,4% em relação ao ano anterior. Em comparação com 2020, auge da pandemia, o salto chega a quase 50%.

O recorde histórico ainda pertence a 2016, com 95.118 ações, um ano antes da Reforma. Apesar de não alcançar esse patamar, 2025 deve consolidar o TRT-GO como um dos regionais mais atuantes do país.

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