COMPARTILHAR

As Forças Armadas têm uma função constitucional relevante e decisiva: proteger o país. Mas não tem o dever nem o direito de tentar “salvar” o presidente — qualquer que seja — de uma derrota eleitoral.

Por isso, quando o presidente convoca os comandantes da Aeronáutica, do Exército e da Marinha para discutir determinado assunto, ainda que seja eleitoral — portanto, não da alçada das Forças Armadas —, não se pode falar necessariamente que há um golpismo em marcha.

É possível que o presidente Jair Bolsonaro, se perder, pense num golpe de Estado. Mas por que as Forças Armadas endossariam um golpe de Estado? Em nome de que e de quem? Se queriam impedir que Lula da Silva fosse eleito, por que não tentaram, de cara, impedir sua candidatura?

O fato é que dificilmente as Forças Armadas darão um golpe para manter Bolsonaro no poder e impedir a posse de Lula da Silva, do PT. As Forças Armadas estão acima de Bolsonaro, ainda que, enquanto for presidente, estejam subordinadas a ele. Porém, não estão submetidas ao chefe do Exército para gestar um golpe de Estado.

Neste momento, de conflito intenso entre as forças políticas, a luta de todos, civis e militares, é pela prevalência do bom senso. E o bom senso reza que a defesa da democracia é crucial. Se Bolsonaro for reeleito será uma decisão da maioria — o mesmo ocorrendo com Lula da Silva. É preciso respeitar a vontade do povo, senão por que se precisa de eleições?

Numa entrevista ao canal do portal Suno, especializado em mercado financeiro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, adotou uma posição democrática e moderada: “Na hipótese perversa de [Luiz Inácio Lula da Silva] ganhar essa eleição, abalará o caminho da prosperidade que está desenhado e, naturalmente, a centro-direita [no Congresso Nacional] dará a ele o mesmo aperto que nós recebemos quando chegamos. Depois, Bolsonaro volta”.

Paulo Guedes está tratando de algo essencial na democracia: a alternância no poder. Se Lula da Silva for eleito, e se seu governo não agradar, os eleitores podem trocá-lo na eleição seguinte.

Aquele político que pensa em golpe não tem respeito pelos eleitores, quer dizer, pela democracia.

Vale ressaltar que a pesquisa Datafolha, apontando Lula da Silva com 49% e Bolsonaro com 44%, mostra um quadro eleitoral ainda indefinido.