O líder do PP traz críticas sobre à atuação dos candidatos ao governo quanto à realidade urbana

felisberto jacomo

Na manhã de quarta-feira (23/4), o advogado e líder goiano do Partido Progressista (PP), Felisberto Jacomo Filho esteve na redação do Jornal Opção. Em entrevista, comentou a realidade política no Brasil, pontuou questões sobre as pílulas dos pré-candidatos ao governo do estado de Goiás e problemáticas partidárias, findando em uma reflexão sobre o voto e os caminhos dos brasileiros, entre suas necessidades e o alicerce político.

Como o sr. analisa a política em nossa realidade brasileira atual? Como foram pontuando algumas questões que implicam no cotidiano e nas problemáticas dos brasileiros?

No Brasil, hoje, em termos de disputa política, não é muito diferente do que tradicionalmente acontece em todas as disputas políticas, em quase todo mundo. Excepcionando a política dos países nórdicos, em que as instituições políticas são muito amadurecidas e têm um grau de eficiência muito grande, se não o povo sucumbe. Um país que tem oito meses de gelo, se não houver uma organização adequada, não se produz alimento, não se produz nada. É uma questão de eficiência ser organizado. Para ser eficiente, tem que ser verdadeiro, sincero, dar direitos e cobrar obrigações, deveres. Não é o que acontece, frequentemente, nos países do trópico, onde a vida é muito mais fácil. Fulano pode jogar as coisas pela janela, ter desperdício, o que tem uma leviandade. Uma atitude que permeia o ambiente político. Escutamos mentiras todos os dias, disseminadas em quase todas as áreas, em quase todos os partidos. Existe a excepcionalidade de indivíduos, de pessoas que são mais sérias, que se dedicam com maior profundidade a atividade política e tem fidelidade aos sonhos, de sua juventude, que levaram essas pessoas para essa área.

Nós temos algumas pessoas no Congresso Nacional, tanto na Câmara dos Deputados, quanto no Senado, que são “representativos positivos”, porém uma grande quantidade são “representativos negativos”, que levam o povo para essa desconfiança, pois não existem providências efetivas para resolver as coisas. E, se não existir providências, o povo ainda sobrevive, diferentemente dos países nórdicos. E é assim que se conduz, em um posicionamento perdulário, leviano. Uma situação que permeia nosso país. Entretanto, tem gente que está preocupado, pois a situação mudou.

Em 1972, quando o Brasil ganhou a Copa do Mundo, Médici era o presidente da República e tinha aquela música “90 milhões em ação, para frente Brasil, salve a seleção”, o Brasil tinha 90 milhões de habitantes, dos quais 30% nas cidades e 70% rural. Os 30% de 90 são 27 milhões. Hoje, nós temos quase 200 milhões, com 15% apenas na zona rural, que dá 170 milhões nas cidades. Isso de 1972 para cá, são 42 anos. Nesse tempo, a população urbana sextuplicou. E quem veio para cidade? As pessoas menos equipadas para os embates da luta na cidade. Eram pessoas do cabo e da enxada. Uma complicação gigantesca por causa das necessidades que se criou e, nesse clima, existe uma atividade política leviana.

Considerando esse contexto, qual a eficácia do que está sendo proposto pelos candidatos, por essas pessoas que podem fazer algo, através da política, do estado regularizador, para a realidade dos brasileiros, especificando Goiás?

As pílulas são parte da mensagem política, que a nossa legislação oferece para os partidos políticos se expressarem através de seus representantes, de seus líderes. Em Goiás, vamos começar com o PMDB, focada em dois personagens que se embatem, as pílulas do Iris e do Friboi. As pílulas do Iris envolvem o sentimento que ele tem, de que Goiás é devedor a ele, que ele está acima das pessoas comuns. Como se ele pairasse acima das pessoas comum. Ele diz: “Não posso me abster desse momento que as pessoas clamam a minha presença”. É uma “autolouvação” subliminar. É uma estratégia que consiste em uma “autolouvação”. Pensa: “Olha, eu estou aqui, eu que sou tão bom, que já fiz tudo. Coitadinho de mim, que tem outra pessoa que está concorrendo comigo”. As pílulas do Júnior tentam mostrar modernidade e eficiência, falando de uma coisa que é um lugar comum já: a necessidade de escolas de tempo integral, por exemplo. A questão da escola é uma necessidade que surge dessa grande aglomeração urbana no país. É fruto desse corre-corre da cidade, pois, há que se entregar o filho para alguém cuidar, não só educando, mas formando. É ruim, é bom? Não sei. É uma necessidade, hoje. Nós não temos uma marcha uniforme. A sociedade evolui com acertos e erros. Quando o desastre, que se avizinha, é muito grande e vai atingir todo mundo, eles param e reciclam atitudes. Agora, é obrigação do político, para ele não ficar superficial e vão, ter utopia. O sonho e correr atrás dele e a legislação tem que ser indutiva à virtude. Através do condicionamento positivo, chamando as pessoas para frente, para o correto, e reprimindo os impulsos negativos. Das pílulas do Júnior, é esse o conteúdo, dá a ideia de modernidade. Porém, não há uma novidade, o que reflete a contenda interna do PMDB mais do que uma abordagem para população de todo o estado de Goiás. Está muito focada na disputa interna do PMDB.

Qual o benefício ou a contradição existente nos embates políticos dentro de um mesmo partido?

Uma aglomeração política é um monte de gente com personalidade própria, expressões próprias e vontade de ser hegemônico, e esse desejo leva à disputa. E, se travada dentro de regras, que a legislação impõe e objetiva manifestações plenas das opiniões de cada um e para isso existem os partidos que reúne pessoas com semelhanças de pensamento, mas não há unanimidade, se há disparidade política extremamente saudáveis é civilizador, ao contrário do que acontece no partido do Vanderlan, o PSB. Um homem de negócios que resolveu, devido uma circunstância, um rancor existente do governador Alcides, criar junto com outras pessoas uma terceira via na política. Uma linha nova, mas que não expuseram um pensamento, uma doutrina, nem nada. Foram três mudanças de partidos em quatro anos. E não há substância. Não há uma mensagem politica de formação para sociedade.

Vanderlan se apresentou na última eleição, apoiado por parte do PP, liderado pelo governador Alcides. Vanderlan, o diferente. Diferente de quê? Mostrou o porque era diferente? Não. Fez a campanha e o resultado, que alguns consideram que tenha sido muito bom, foi um resultado muito proporcional à incapacidade dele, em minha opinião. As pílulas que estão na televisão: “Vanderlan está diferente”. Diferente daquele, pois, passou por cirurgia plástica, botox, implante de cabelo e se apresenta como alguém que estivesse representando um artista. É uma simulação, decorrente de pouca substância política, de pouco pensamento político. Ele submete-se aos publicitários com pouco conhecimento em comunicação e zero em conhecimento político, que põem um homem, que devia fazer uma pregação política, com uma mensagem publicitária, como se fosse uma mercadoria. Com muito pouca autenticidade e sem proposta política. Parece que juntou os rancores condensados na eleição passada e dirige críticas, sem consistência, ao governador Marconi. Parece que a única maneira que ele tem de subir é falar de quem está acima dele. Ele não faz um comentário sobre os outros três adversários. Ele quer que o Marconi seja a escada. Uma estratégia estúpida que mostra ausência de substância, de pensamento político, enquanto movimentação de povo e organização de sociedade. O julgamento de aparência: ele ficou mais bonito, mais jovem, remoçado, mas, e aí? Ele não é modelo, é político. Muito melhor que ele se apresentasse com a fisionomia autêntica, do que como uma espécie de correspondente masculino da Barbie, que se apresentasse. Tenho comigo, que o homem pensa: “Estão me desconfigurando”. Isso é ruim demais para política. Querem fazer um convencimento mercadológico, como se fosse um produto de prateleira.

Sobre o candidato Antônio Gomide, qual seria o caminho que ele está fazendo? Permeia os discursos vazios? E, quanto ao atual governador, Marconi Perillo, quais seriam as suas percepções?

O Antônio Gomide está fazendo um caminho de afirmação do PT que tem conteúdo político. O PT de Goiás, majoritariamente, muito melhor do que o PT do Lula. Temos o Pedro Wilson, os Gomides de Anápolis, temos o Humberto Aidar, que são pessoas que exercem uma atividade política, não são homens de negócio. O encaminhamento político do Gomide é a expressão de uma atividade política legítima, ao contrário de muitos que estão entrando nesse embate sem conteúdo necessário de ligação com o povo.

O Marconi é um homem de vanguarda. Foi de vanguarda quando disputou o governo de Goiás. Estabeleceu uma rede de segurança social. Aperfeiçoou uma rede de proteção social, iniciada com Ari Valadão. De lá para cá, nos governos subsequentes, há sempre uma melhora de performance que são testemunhas a favor dele. Simples, bolsa universitária. Questão de saúde pública; é fácil separar com clareza as ações da rede básica e da rede que é sustentada pelo estado. Teve que enfrentar o tradicionalismo, os núcleos sindicais e corporativistas para poder implantar a legislação das OSS, porque a legislação que disciplina compras pelo Estado é a mesma que designa para comprar um pedaço de um tomógrafo e uma usina nuclear. Ele é inovador, renovador e, neste instante, está sendo quase que prefeito de uma grande quantidade de municípios do interior e da grande Goiânia. A prefeitura tem muita dificuldade com recursos. A participação do bolo tributário é muito deficiente para os municípios do estado, pois é tudo concentrado na união. Ele não reclama. Ele age: pensa, estuda, reflete e propõe soluções corajosas. Por certo, todos os candidatos que se apresentam estão muito atrás do governador atual. Um homem que enfrenta campanhas incruentas por parte do presidente Lula, que fixou em implicar com Goiás e com Marconi Perillo, que adquiriu anticorpos e vai seguindo bem para Goiás.

Bem, Pelé comentou uma vez que o brasileiro não sabia votar. O que o sr. diria sobre isso, considerando essas necessidades que emergiram e as diversas promessas vagas, a realidade brasileira?

As pessoas votam buscando o atendimento das suas necessidades mais prementes. Votam atentos às questões de sobrevivência individual, mesmo aquele que tenha maior grau de dificuldades para sobreviver até os que têm excesso de recursos. Aqueles que têm excesso de recurso votam para manter esse excesso e os que não os tem, votam para melhor sua nutrição. Com isso, uma modulação. O indivíduo vota em alguém com os valores que ele mesmo tem em sua vida pessoal, permitindo até deslizes. Como é que o homem escolhe? Se ele, o candidato, atenderá essas necessidades, se tem o mínimo de integridade, de sinceridade. A pessoa vota de imediato. Sonha com uma estruturação de longo curso, mas vota para atender as necessidades do agora. Então, ele sabe votar. É diferente das necessidades do Pelé. Ele não vota pelo passado, ele quer o que vem agora. Vota na esperança de que seu voto seja capaz de fazê-lo mais feliz.