Feira dos Povos do Cerrado encerra com apelo para fim da devastação no bioma
16 setembro 2023 às 18h04
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O 10º Encontro e Feira dos Povos do Cerrado, realizado na Torre de TV, área central de Brasília, teve fim neste sábado, 16, com uma canção quilombola e com o apelo para o fim da devastação do bioma. “Nossas terrinhas de ouro é o meu maior tesouro. Minhas terras tem riquezas, milhão de minério puro, estão rancando, estão levando e estão negociando”, cantou Paula do Brejo dos Crioulos, quilombola da comunidade Caxambu, em Varzelandia, Minas Gerais.
Com mais de 270 expositores de nove estados do Cerrado brasileiro, a feira é uma oportunidade para conhecer a riqueza dos sabores e saberes desse bioma, que ocupa cerca de 25% do território nacional. Na noite de encerramento, o evento ainda conta com uma diversa programação cultural. Se apresentam no palco do encontro as atrações Teatro de Mamulengo Sem Fronteiras, Quilombo de Bom Sucesso dos Negros, mulheres indígenas Xavante, Baile da Miasinha e o grupo Pé de Cerrado.
“Essa é uma canção da natureza, dos indígenas e de todos que nós que estamos nessa luta”, disse Paula do Brejo sobre a canção a Voz do Cerrado. Na feira, foram expostos produtos medicinais, pintura indígena, chope de jatobá e coquinho azedo, além de artesanato e comidas típicas.
O evento contou com a presença do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio). Diálogo e reconstrução foram os pontos principais da roda de conversa: Povos e Comunidades Tradicionais do Cerrado no contexto das unidades de conservação. Mauro Pires, presidente do ICMBio, resgatou a história da Rede Cerrado e a influência da organização para a consolidação de políticas públicas para o Cerrado e seus povos e comunidades tradicionais.
A primeira deputada federal indígena eleita em Minas Gerais, Célia Xakriabá (PSOL), também esteve presente no evento. “Estamos na luta pelo Cerrado de pé e pelo povo do Cerrado de pé, porque não adianta nada manter o bioma vivo enquanto esses povos estiverem ameaçados.
O encontro também contou com uma mostra audiovisual sobre o Cerrado e suas comunidades, além de oficinas de comunicação popular que também integraram a programação. A atriz Letícia Sabatella fez uma apresentação musical na noite da abertura da Feira dos Povos do Cerrado, quarta-feira, 13. Personalidades como Marcos Palmeira, Gregório Duvivier, Giovanna Nader e Maria Paula também estiveram presentes.
O Encontro e Feira dos Povos do Cerrado
O Encontro e Feira dos Povos do Cerrado, realizado desde 2001, é um grande espaço de troca de experiências e articulações em defesa do bioma e dos seus povos. Com o tema Cerrado: Conexão de Povos, Culturas e Biomas, o evento deste ano reuniu cerca de 10 mil pessoas, incluindo representantes quilombolas, indígenas, quebradeiras de coco babaçu, geraizeiros, entre outros povos tradicionais, definidos como comunidades herdeiras dos “saberes ancestrais e tradicionais que guiam, há inúmeras gerações, o manejo das matas e paisagens que fazem dessa rica savana uma das regiões mais biodiversas do mundo.
Considerado o berço das águas do Brasil, o Cerrado é a origem das nascentes de oito das 12 bacias hidrográficas mais importantes do país. É também o segundo maior reservatório subterrâneo de água do mundo, formado pelos aquíferos Guarani e Urucuia. Apesar da importância para a segurança hídrica e agrícola do país, o bioma tem sido um dos mais devastados ao longo das últimas décadas, e viu o cenário piorar nos últimos anos, principalmente na região conhecida como Matopiba – acrônimo que se refere aos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Leia também: Governo cria plano de combate a desmatamento no Cerrado; Goiás possui 23 unidades de conservação
Devastação no Cerrado
Após a Amazônia, o Cerrado aparece como o segundo bioma mais desmatado no país atualmente, com 32,1% da área sob alerta ambiental e 1.807,3 hectares desmatados por dia, o que equivale a cerca de 20 mil metros deflorestados por dia. O bioma está presente em 11 estados e no Distrito Federal, indo do Paraná até Rondônia, passando por São Paulo, Bahia e Maranhão. Embora o Cerrado tenha uma participação de apenas 8,3% no número total de alertas, a área total desmatada representa quase um terço da vegetação natural suprimida no país (32,1%) no ano passado devido ao tamanho dos alertas.
Segundo dados do sistema de alertas Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre agosto do ano passado e julho de 2023, a destruição do bioma alcançou 6.359 km², a maior área desde o biênio 2016-2017, o mais antigo da série histórica. Em relação ao período anterior (2021-2022), a alta foi de 16,5%.